O significado da comunicação pública de qualidade
O que é preciso para que o responsável pela comunicação pública de um governo, ou de qualquer órgão público, abandone o mais do mesmo, as notícias prontas e as matérias de promoção política, e pense em algo que influencie diretamente a vida de um cidadão, que seja em seu município?
As respostas podem ser diversas, as justificativas também. Fazer a diferença, muitas vezes, requer recursos financeiros e, quem trabalha em Prefeitura sabe exatamente a situação atual dos combalidos cofres públicos municipais. Aí vem educação, saúde, obras, agricultura, social, tudo a frente de qualquer ideia de comunicação que não seja pragmática. Investimentos viáveis acabam sendo apenas em algo que possa, digamos, ser tocado.
Mas aí você sai de um evento espetacular como foi o 6º Redes eGov, e se vê tomado por uma dúvida da qualidade do seu serviço prestado. Já que é preciso fazer mais. É preciso fazer mais pela população. Comunicação no setor público não é apenas noticiar o que seus gestores estão fazendo. É facilitar o dia a dia do cidadão. Mostrar-lhe caminhos que vão melhorar a sua vida. E, nesse ponto, eu confesso. Estava pecando.
Indagava a Prefs, fiz isso no encontro, sobre sua forma de se expressar nas redes sociais que era um sucesso. Um grande case, mas que não levou seu Prefeito ao segundo turno das eleições na cidade. As explicações me pareceram muito boas. E aquilo também me marcou. Porque o serviço da equipe de comunicação da Prefs estava sendo prestado. Muito bem prestado, aliás, Não havia desinformação. Havia sim espírito público fortíssimo em cada arte, em cada capivara…
Se politicamente não foi aproveitado, culpa de quem não soube fazer a captação depois disso tudo.
Dois sentimentos e uma crise
Voltei pra minha cidade, Sombrio, extremo sul de Santa Catarina, 28 mil habitantes, com dois sentimentos: orgulho e preocupação. Orgulho por ter estado entre grandes feras de todo o país. E preocupação de fazer mais. Comecei a elaborar projetos e, todos eles, novamente, travando na capacidade financeira. Mas eles estão aqui, guardados para assim que possível serem tirados da gaveta. Especialmente os que envolvem tecnologia.
Pois aí veio, de uma forma muito ruim e trágica a luz para fazer algo: uma série de suicídios, três, em quatro dias, sendo um deles um colega de trabalho de Prefeitura. Algo estava errado. Procurei o Serviço de Saúde Mental de Sombrio. O alerta se acendeu, era diário o aumento na procura por tratamentos psiquiátricos e psicológicos e o índice de tentativa de suicídio.
Aí estava algo que eu poderia fazer. Uma campanha sobre esse assunto. Uma pesquisa para ver tudo o que era feito nesse sentido, não gostei de nada. Sempre silhuetas sombrias e o assunto suicídio ganhando mais espaço que a superação. Busquei fazer diferente. E fiz, ou melhor, fizemos.
Viver vale a pena
Com uma parceria espetacular realizada com a Ápice 360, do meu amigo Lucas Borges, criamos um modelo de campanha extremamente feliz. Pra cima. Viver Vale a pena. Esse é o nome dela. Um vídeo, uma série de Gifs e artes para as redes sociais e algumas impressões e publicações na mídia comum também, para que a campanha se espalhasse ainda mais forte. Os personagens? Pessoas que passaram ou passam por tratamento e, das quatro, três que tentaram o suicídio, e que valorizam a vida atualmente a ponto de dar depoimentos emocionantes e marcantes, que tocam as emoções das pessoas.
Que resultado!
Não faço análise profunda de dados, não tenho equipe para isso e também não sei fazer direito, ainda. Dentro das nossas expectativas e monitoramento, os resultados que tivemos em poucos dias – sem investimento para impulsionar no Facebook – foram espetaculares. Os números da página a serem analisados, e aí convido a você, que lê esta postagem para comentar, são esses:
6.883 fãs na página de Prefeitura de uma cidade 28 mil habitantes, com extrema divisão política daquelas que ninguém do partido A dá o braço a torcer por algo feito pelo partido B, inclusive nas publicações.
O vídeo, peça principal da campanha já obteve, desde sexta-feira, 23 de Junho às 9h20, até esta segunda-feira, 26 de junho, 10h35, horário em que escrevi este texto, seis mil visualizações. A publicação atingiu 19.874 pessoas. Foram 256 compartilhamentos, 155 reações e 29 comentários.
Aqui, de acordo com a minha realidade e contexto, comemoro muito estes números. Mas comemoro algo mais especial. Com dois dias úteis de campanha, comemoro que já atingimos verdadeiramente uma pessoa. Sim, uma. Ela procurou nossas unidades de saúde por causa da campanha, e comentou sobre seus pensamentos de tirar a própria vida, mas pode perceber através no nosso trabalho que, Viver Vale a Pena!