Rodrigo Bandeira
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“O dinheiro que se tem é o instrumento da liberdade; o dinheiro que se tenta obter é o instrumento da escravidão.” Jean-Jacques Rousseau, Confissões. Mundo Comum Muitos anos depois, diante daquele inquisitivo drone branco, Xavier se recordava do dia em que seu pai o levou para fora de casa após o fim da pandemia de […]

“O dinheiro que se tem é o instrumento da liberdade; o dinheiro que se tenta obter é o instrumento da escravidão.”

Jean-Jacques Rousseau, Confissões.

Mundo Comum

Muitos anos depois, diante daquele inquisitivo drone branco, Xavier se recordava do dia em que seu pai o levou para fora de casa após o fim da pandemia de 2020–2024. Miçangas era então uma comunidade de poucas casas de tijolos aparentes, construídas na encosta de um morro cercado pela floresta tropical que refrescava as noites e embalava o sono com o suave murmúrio dos insetos na madrugada, como o chiado de uma transmissão fora de sintonia.

Ofuscado pela luz forte do Sol filtrada pela atmosfera carregada de pó do chão de terra batida e partículas de sujeira, Xavier percebeu uma chance de fuga para longe da ameaça representada pelo equipamento voador, por uma fresta debaixo de um arbusto que segurava a cerca após o que se precipitava o barranco íngreme onde seu vizinho cultivava um bananal.

A casa 1984 onde vivia com sua família ficava no limite mais afastado de Miçangas, a comunidade mais pobre do Setor Nordeste, reservado aos que não tinham recursos ou direitos. A situação custava a Xavier noites sem sono, pensando o que fazer sem água encanada ou esgoto, seus filhos frequentaram a escola sem terminarem o ciclo básico. Conversava noite e dia com os mais atentos dos seus vizinhos, procurando uma saída para uma vida mais digna. Sem acesso a vacinação ou emprego, ganhava o alimento de cada dia com bicos ou por recursos compartilhados por quem ainda conhecia o significado da palavra solidariedade e admirava sua dedicação pela comunidade.

Enquanto a voz monótona e entrecortada do drone repetia “Você foi selecionado pelo programa Biohack para um exame corporal e cerebral completo. Deve ser uma honra oferecer suas informações para a Companhia Mundo. Por favor, adote a postura para conexão.”, Xavier transferiu o peso do corpo esquálido para o pé esquerdo e, fazendo um cálculo, com a agilidade de quem luta pela própria vida, escorregou por baixo da cerca, caindo dentro do bananal.

Leviatã

A Companhia Mundo, instituída durante a última pandemia em uma aliança entre as grandes corporações do ramo da tecnologia e os governos da antiga China, EUA, Hungria, Turquia, Belarus, Turcomenistão, Nicarágua e Brasil, foi criada como uma entidade multinacional plenipotenciária, com acesso a todos os dados pessoais e sendo responsável por desenhar e implementar políticas públicas mundiais e também com atuação comercial, controlando a produção e a distribuição de alimentos e concebendo e vendendo produtos e serviços de todos os tipos.

A proposta de criação deste ente todo-poderoso foi aprovada quando prometeram que, desde que concedessem acesso amplo aos seus dados, todas as pessoas do mundo poderiam estar a salvo das vicissitudes da vida, incluindo a perda de rendimentos e questões de saúde, como as que, tremendamente agravadas pela ganância do setor empresarial que se recusou a seguir as orientações dos médicos e pesquisadores para manter o distanciamento e evitar a propagação do vírus, tinham levado tantos amigos, familiares e pessoas próximas por doença ou pobreza. O resto da família se perdeu pelo mundo quando a tempestade solar bloqueou as comunicações e os antigos aparelhos celulares passaram a ter função apenas como álbuns de recordações, durante o que ficou conhecido como o Reset Global de 2030.

Para Xavier, ir ao próprio fundo, conhecer o mais recôndito dos seus desafios, dependia de ter coragem para entrar no sistema. E depois ser capaz de sair dele sem se tornar um alienado. Ele não desejava ser examinado por aquele drone e nem daquela maneira. Uma vez nas mãos da Companhia Mundo temia ter que pagar por tudo, passar por novas e tantas humilhações, marcando ainda mais fundo sua pobre alma.

Assim, com muito medo da ameaça presente e raiva pela humilhação das vezes em que, precisando ter atendidas suas necessidades urgentes e aliviar sua dor, teve seu pedido rejeitado pelos programas de assistência social, Xavier correu por meio das bananeiras e em direção a um galinheiro, com o drone branco zunindo a sirene em seu encalço. Entrando correndo no quartinho de guardar ração, tropeçou em algumas latas de tinta, caiu sobre uma pilha de sucata e desmaiou.

Seu corpo sujo e sofrido e as roupas velhas indicavam a falta de água e itens de higiene pessoal. Xavier era o retrato de uma vida miserável, de quem não tem nem mesmo coragem para pedir ajuda. Seus registros oficiais da Companhia Mundo exibiam inúmeras marcas das vezes em que se recusou a obedecer ou se curvar diante de ordens absurdas e procedimentos burocráticos procrastinadores. Por duas vezes ele e um de seus filhos tinham sido presos por pequenos delitos e a lembrança dos períodos de encarceramento estavam marcados fundo na sua pele, na sua consciência e também nos seus registros oficiais.

Marie

Ao recobrar a consciência, ouviu os latidos dos cachorros da vizinhança e a algazarra estridente das sirenes que soavam. Abrindo lentamente os olhos, discerniu uma pequena luz verde piscando. Assustado, jogou-se para trás apenas para perceber que a luz vinha de uma pequena Marie, velho robô projeto-padrão com um ventilador pulmonar a tiracolo, daqueles que foram construídos para oferecer ajuda aos doentes sem possibilidade de internação, por fábricas que ficaram ociosas na época da grande pandemia. Ficou aliviado. Ele mesmo tinha sido salvo por uma dessas quando era criança e, sozinho em casa, precisou ser entubado e alimentado por sonda durante catorze dolorosos dias, deitado no chão do seu quarto, sem poder ver ou falar com ninguém.

As Maries tinham sido todas desativadas, exceto aquela que parecia ter sobrevivido com seu microchip intacto e o painel solar, suficiente para carregar uma bateria e seguir com sua missão. Ainda assustado, perguntou ao robô se ainda estava funcionando, contou a história e pediu ajuda.

O robô rapidamente analisou todo o ambiente — os drones sobrevoando, o corpo humano à sua frente, as emoções discerníveis a partir de sua expressão, suor, batimentos cardíacos — e disse: “Não há nada que possa fazer agora, Xavier. Este é o primeiro exame de Biohack na comunidade e você deve submeter-se a ele. Mas tenho uma solução para a sua angústia pela vulnerabilidade que te aprisiona. Se permitir, injetarei em você uma carga de nanorrobôs que te permitirão aproveitar a oportunidade e obter a senha do banco de dados da Companhia Mundo, com todos os números e os protocolos para acessar o que é seu de direito.

Aquilo seria a solução para todos os seus problemas. Xavier poderia finalmente conhecer as informações sobre a parcela dos recursos existentes no planeta que seria sua por direito, incluindo os recursos minerais, impostos, políticas públicas e muito mais. De posse desta chave, seu conhecimento permitiria libertar todos os seus amigos e parentes, que sofriam uma vida miserável em Miçangas. Acenando afirmativamente com a cabeça, Xavier estendeu o braço, aceitando a oferta da Marie.

Com uma pequena incisão, uma partícula contendo milhares de minúsculos nanorrobôs carregados com a programação solidária das Maries foi cuspida por dentro de uma agulha, atingindo a corrente sanguínea do nosso assustado Xavier e preparando-o para a missão a seguir.

Enchendo o peito de ar, ele se lembrou das lições aprendidas no passado que o ensinaram a não levantar a voz contra alguém do sistema para brigar por seus direitos e, tomando coragem, com um sorriso discreto, olhou novamente para sua amiga robô e, virando-se, alcançou a porta do galinheiro.

Fronteira

Com os olhos semicerrados por causa da poeira que subia do chão de terra pelo alvoroço dos cachorros que se agitavam e latiam sem parar, Xavier deu um passo para fora e avistou o drone com seu facho de laser apontando para si. Ajoelhou-se, abaixou a cabeça e expôs a nuca, onde encontrava-se a sua entrada USB humana, adotando a postura para conexão. Sentiu uma fisgada e um leve torpor que teve uma duração dolorosa e acabou, sem aviso, deixando-o com uma leve dor de cabeça.

Abrindo os olhos, percebeu que seu campo de visão havia se transformado como se uma tela de vídeo game tivesse sido instalada, sobrepondo-se ao que estava à sua frente, exibindo sinais e orientações que indicariam as tarefas a serem cumpridas, sempre sob a supervisão do drone branco. Era como se ele estivesse usando óculos de realidade aumentada, só que as imagens vinham de dentro do seu cérebro, sendo apresentadas como se fossem parte da realidade.

Isso lembrou-o de quando procurou a Igreja para cuidar de suas aflições. As primeiras mensagens prometiam solução para todos os problemas e, com palavras doces, davam orientações simples sobre como aceitar Deus em seu coração. Em pouco tempo, percebeu-se jogado em um galpão imenso onde pastores falavam usando sistemas de som potentes, causando medo e oferecendo o remédio, junto com o pedido insistente por seu pouco dinheiro, na forma de dízimos. As palavras eram bonitas, mas o resultado era um só: saia sempre com os bolsos mais vazios e a sensação de ter sido enganado, como um burro amarrado a um cabresto.

Interferências

Dessa vez, contudo, tinha um aliado ou, melhor dizendo, uma legião de minúsculos aliados. Os nanorrobôs, em seu sistema circulatório começaram a agir e ele podia sentir pequenas interferências nas informações projetadas à sua frente, como um grilo falante fora de sintonia a orientar seus passos.

O painel luminoso apresentou a imagem de uma alavanca que abriu uma lista de tarefas a serem cumpridas, ao ser empurrada por Xavier, gesticulando com o braço, como se realmente houvesse uma alavanca ali. Como em um jogo de primeira pessoa, Xavier acompanhou as informações daquele display virtual, ao mesmo tempo em que caminhava subindo ao lado da encosta onde ficava o bananal, pelas trilhas poeirentas da sua vizinhança, enquanto observava atentamente os números, controles, diagramas e flechinhas na tela projetada à sua frente, como em um jogo online.

Com a primeira prova selecionada, Xavier foi guiado de volta à sua casa onde deveria encontrar em seus guardados os cartões de memória com seus documentos pessoais, “para atualização”. Conforme as setas indicando o caminho estavam sendo apresentadas em alta resolução à sua frente, uma interferência enviada pelos nanorrobôs programados por Marie, como um ruído, chamou sua atenção para uma pedrinha no chão, que ele chutou para logo ver a mensagem “KEINES entrou no jogo”, escrita na parte de baixo da tela a sua frente. Amedrontado e receoso de que o drone pudesse ter percebido sua ação de desobediência às instruções, abaixou os olhos e seguiu firme na direção de casa.

Aquele nome, KEINES… Seria aquela uma pista que os nanorrobôs queriam que ele descobrisse e que o levariam a conhecer a senha que abre o banco de dados da Companhia Mundo, contendo tudo o que é seu por direito?

Com a cabeça confusa, entrou pela porta da casa, esgueirou-se até o quarto sem deixar-se perceber por sua mulher que procurava ajeitar a antena e ouvir as notícias da rádio Companhia Mundo, pegou seus cartões de memória de documentos pessoais que entregou ao drone. Este imediatamente tratou de fazer o upload das informações, logo antes de a tela de Xavier ser atualizada, indicando uma segunda etapa e pondo-o novamente em ação.

Mero

Confirmando o aceite para a próxima prova com um clique visual, as setas indicaram a porta de saída que levava à casa do seu vizinho, Mero. Cautelosamente, Xavier seguiu os passos conforme indicado, quando percebeu um galho de aroeira em torno do qual parecia haver novamente uma alteração visual, como quando aquela interferência indicou a pedra no chão. Xavier puxou o galho para ver todo o sistema de navegação do seu painel sendo direcionado para um local muito longe dali e, no marcador do mapa, pode ler o destino: “Darvem”. Quando o ponteiro parou, Xavier percebeu que o mapa mostrava a exata localização de uma empresa chamada Darvem — σχολή εμπειρογνωμόνων αεροναυτικών, localizada na Grécia.

Percebendo aquela ação como uma interferência no programa, um novo endereço foi selecionado para que o ponteiro voltasse para a casa de Mero, o destino programado pelo Biohack de Xavier. Conforme os controles se ajustavam novamente, Xavier pensava sobre o nome daquele destino: Darvem — σχολή εμπειρογνωμόνων αεροναυτικών, quando subitamente o nome foi traduzido e apresentado como: Darvem — Escola de Especialistas de Aeronáutica. O que seria aquilo? Uma escola de aeronautas? Mas a busca foi feita apenas pela palavra Darvem. Darvem… Xavier contentou-se por ora e guardou aquela nova informação com muito cuidado.

Aquilo ainda não fazia nenhum sentido para ele. Sem tempo para mais devaneios, Xavier entrou na casa do vizinho com quem deveria ter o diálogo que seria ditado na tela que se projetava ante seus olhos. Seu vizinho era alto, forte e desajeitado, com um rosto grande e sem alegria.

Depois de algumas perguntas, Mero, que o conhecia há bastante tempo, mas com quem nunca teve boa sintonia, começou a achar estranhas aquelas perguntas assim tão de repente e com aquela formulação meio esquisita, como se viessem de um bot. Xavier percebeu que o vizinho tinha o cenho franzido e olhou fundo dentro dos seus olhos. Aos poucos começou a sentir-se nauseado e procurou recobrar a consciência para desvencilhar-se daquela situação estranha em que era operado como por um ventríloquo. Apertou os olhos e, quando os abriu novamente, viu seu vizinho com meio corpo para fora da janela, sinalizando agitadamente para o drone. Uma dor aguda nas costas fez Xavier cair de joelhos enquanto ouvia, atrás de si, a voz grave de Mero que dizia: “Xavier, você sabe que não deve desobedecer as ordens da Companhia Mundo. Concentre-se nas suas tarefas e logo poderá voltar a sua vida normal.”

Incrédulo, Xavier se virou, levantou os olhos e viu seu vizinho com os olhos arregalados e, como se fosse uma pessoa-robô, Mero permaneceu estático até gritar: “Obedeça! E caia fora da minha casa!

Um Sensate

Com a tela já atualizada, Xavier rolou sobre seu corpo, caindo para fora da casa do vizinho. Levantou-se sacudindo a poeira da roupa e mantendo-se atento às informações sobre a próxima etapa do Biohack, agora indicando um posto de atendimento de saúde. Passando pela porta de entrada, sentou-se na terceira cadeira azul, a primeira que não estava quebrada, olhando para o letreiro onde eram exibidas as senhas para os próximos atendimentos.

Aguardou até que uma seta em sua tela indicando o letreiro piscasse e um atendente gordo, de barba e vestindo um jaleco levantasse a mão, chamando-o para sentar-se à sua frente. O atendente então começou a perguntar-lhe sobre como avaliava a cúpula da Companhia Mundo, o presidente do conselho, os diretores de legislações, de novos produtos etc. Pediu para que Xavier indicasse em uma escala de um a cinco o quanto concordava com cada afirmação sobre o desempenho e o acerto das medidas comerciais e políticas tomadas mais recentemente.

Xavier estava tenso e preocupado, lembrando-se do que acontecera com seu vizinho. Assim, procurando manter a respiração e os batimentos cardíacos sob controle, respondeu a cada uma das perguntas, sempre elogiando os membros da Companhia Mundo. Mas, à medida que as perguntas eram feitas, ele percebeu um leve sorriso de canto de boca no atendente, que parecia divertir-se com as suas respostas falsas. Começou a suar e pressentiu uma nova punição a ser infligida pelo drone, de sentinela na porta do posto de atendimento.

A figura barbuda do atendente levantou-se, Xavier arregalou os olhos, mas manteve-se estático. Então, o rapaz aproximou-se do ouvido de Xavier e disse: “Fique tranquilo. Você está fazendo bem. Sei o que está passando. Eu também estou procurando a chave para o banco de dados. Agora, deixe essa última pergunta sem responder e siga-me.”

Xavier, muito assustado e olhando a sua volta, começou a seguir o atendente que o levou a uma saleta sem janelas, pediu para sentar-se, serviu um copo d’água e disse: “Você parece estar com a carga certa de nanorrobôs-Marie e teve a sorte de escapar do Mero. Agora ouça bem: quando tiver todas as pistas, deve lembrar-se disso: a cada pista, a última letra, menos a palavra-chave.” Repetiu mais uma vez e, em seguida gritou bem alto: “O que você está pensando?! Você deve obedecer a mim, que sou o representante da Companhia Mundo neste posto, está bem entendido?!” Deu uma piscadela, abriu a porta, sinalizou para que Xavier saísse e voltou-se para o pad que estava sobre a mesa, digitando o número cinco e concluindo o questionário.

O Passarinho Azul

O que estava acontecendo? Devo obedecer? Mas o que ele disse? “A cada pista, a última letra, menos a palavra-chave…” Pelo menos quanto à Marie, ele parecia estar em boa companhia. Mas já não dava mais tempo, a tela em seu campo de visão já indicava a próxima etapa do tal Biohack a ser cumprida. Procurando mostrar tranquilidade, Xavier dirigiu-se à porta, seguindo as setas que pareciam agora conduzi-lo a uma encosta de sua comunidade onde, por trás de uma grande pedra, alguns moradores se arriscavam plantando raízes, frutas selvagens e outras plantas alucinógenas e curativas.

No caminho, Xavier ouviu um pio e, olhando para o lado, viu um passarinho azul que, em pleno voo, olhava fixamente para ele enquanto cantava “piiii-piiii-pi, pi-piiii, pi-pi-pi, pi-piiii-piiii, pi-pi, piiii-pi”, repetindo o mesmo canto até que ficasse gravado em sua memória. O canto não era comum, mas dessa vez não parecia haver uma nova pista. Ou será que tinha perdido algum detalhe? A não ser que fosse… Sim, aquilo devia ser uma mensagem em Código Morse e, se fosse, deveria significar, ops! Perdido em suas divagações, Xavier quase errou uma entrada e o drone o repreendeu, com uma nova agulhada nas costas que doeu um bocado.

Xavier sabia que não podia xingar o drone nem mentalmente, então respirou fundo e focou no caminho, levando até um ponto distante da comunidade, onde havia a plantação comunitária clandestina. Lá chegando, esbaforido, encontrou três dos micro fazendeiros, usando chapéus para se proteger do sol inclemente, herança dos últimos anos em que a emissão de dióxido de carbono manteve-se alta demais, prenunciando os eventos climáticos extremos que passaram a ser comuns.

Arando a terra dura e molhando com um pouco de água da chuva que reservavam em uma pequena cisterna um pé de limão cravo, quatro ou cinco pés de abacaxi, uma mirra, vários pés de madioca, um canteiro de pimenta, duas moitas de canabis sativa, outra de chacrona, um cipó bem grosso que descia grudado à pedra e mais algumas plantas alimentícias não convencionais, os fazendeiros mostraram-se aflitos com a chegada dos visitantes.

Uma a uma, as mensagens na tela orientaram o olhar de Xavier para que pudesse registrar e analisar de perto as folhas e os caules que determinariam as espécies ali cultivadas para avaliar se eram permitidas ou proibidas. Em seguida, Xavier começou uma entrevista com um dos humildes fazendeiros, que respondeu pacientemente suas perguntas, sem desconfiar de nada. Quando ia dirigir-se ao segundo, um outro, que tinha os olhos claros e cabelo liso, intercedeu-se no seu caminho e disse: “Posso ajudar?”

O painel então ajustou-se e orientou para que as perguntas fossem feitas ao solícito fazendeiro de olhos claros. Conforme perguntava, Xavier se esforçou para parecer natural pois não queria derrapar agora. Já na segunda pergunta, sobre a utilidade daquele cipó grosso e esquisito que crescia em volta da pedra e que eles cuidavam com tanto esmero, o fazendeiro pôs a mão do bolso de onde retirou uma chave com que raspou a casca do cipó e, apontando com ela para cima, indicou o azul do céu, olhando fixamente nos olhos atentíssimos de Xavier, sem uma palavra.

O Porco

Tendo concluído a entrevista com o último dos fazendeiros, a tela indicou o quarto destino de Xavier, o caminho da filial da loja física da Companhia Mundo em Miçangas, aquele lugar para onde se ia, caso houvesse necessidade de comprar produtos ou serviços físicos ou digitais ou no caso de haver a necessidade de atualizar algum aplicativo para controle da Companhia Mundo.

Xavier, perturbado com os últimos acontecimentos, seguiu tentando discernir o significado do gesto do fazendeiro de olhos claros, entender o que uma escola de especialistas de aeronáutica tinha que ver com tudo aquilo e, ao mesmo tempo, desvendar o Código Morse enviado pelo passarinho azul: piiii-piiii-pi, pi-piiii, pi-pi-pi, pi- piiii-piiii, pi-pi, piiii-pi. Mas parecia que subitamente ele podia traduzir o Código Morse de cabeça! Curto, longo, curto: letra R; longo, longo, longo: letra O; longo, longo, curto, longo: letra Q; curto, curto, longo: letra U; curto, curto: I; e longo, curto: N. R-O-Q-U-I-N. ROQUIM! Exultou-se.

Xavier juntou tudo o que tinha até aquele momento. KEINIS, DARVEM e ROQUIN. A cada pista, a última letra, menos a palavra-chave. Mas aquilo ainda parecia muito confuso. Como ele desvendaria aquelas pistas? Cético, perguntou-se se aquela antiga Marie no galinheiro ainda estava funcionando bem.

Chegando à loja, esperou em pé à porta até ser chamado por uma mulher muito bonita vestida de enfermeira, que o encaminhou para uma sala com um equipamento grande onde havia uma cadeira como as de dentista. Xavier sentou-se, conforme orientado, e a simpática enfermeira lhe falou: “Parabéns! Esta é a última etapa do seu Biohack. Agora você só precisará permitir que entremos em suas amigdalas cerebrais, franqueando acesso às suas emoções. Podemos começar?

Minhas emoções?!!! Que maluquice era aquela?!!!”, apavorou-se Xavier. Assentiu com a cabeça ao mesmo tempo em que desesperadamente procurava uma saída para aquele último teste que poderia por tudo a perder, até perceber sua atenção sendo chamada para um sinal tremeluzente em sua tela que indicava um pontinho no mapa da comunidade. Enquanto a enfermeira o ajustava no equipamento, imobilizando-o pelos braços e pernas e ajustando um anel em torno de sua cabeça, a mente de Xavier seguiu aquele pontinho que ia em direção ao chiqueiro de Miçangas, até um porco grande e gordo e, entrando por seu ouvido, encontrou as amigdalas do suíno.

Com os olhos fechados, Xavier concentrou-se naquela parte do sistema nervoso do porco, agarrando-se à possibilidade de ser ele a ter suas emoções invadidas e devassadas. O processo foi doloroso e a vibração do equipamento causou-lhe náuseas. Quando finalmente a enfermeira desligou o aparelho, concluindo o exame, Xavier vomitou. Sentindo-se fraco, limpou a boca na manga da camisa, desculpou-se e saiu cambaleando, sem olhar para a enfermeira, que parecia confusa com aquele resultado adverso.

Chegando novamente à rua, a tela de Xavier mostrou uma luz branca e uma mensagem gentil dizendo: “Obrigado por sua colaboração. Você é o motivo maior da existência da Companhia Mundo. Com as suas informações seremos capazes de oferecer melhores produtos e políticas públicas de acordo com o seu perfil. Tenha um bom dia.” e a tela se apagou.

Conforme abriu os olhos e percebeu que sua visão havia voltado ao normal, a claridade da luz do Sol filtrada pela nuvem espessa de poeira refletiu nas antenas desalinhadas que enfeitavam as lajes em Miçangas e o lembrou do fazendeiro de olhos claros, apontando a chave para o céu. A chave do fazendeiro! O que isso poderia significar? Uma chave que aponta para o céu… A chave… A chave! Sim, a chave, a palavra-chave é “céu”! Só pode ser!

Burcalem

Atônito, Xavier olhou para os lados, encontrando um equipamento para carregamento de cartões de acesso a serviços públicos. Ele sabia que era proibido utilizar esses equipamentos para outras finalidades, mas sabia como fazer isso facilmente para o seu propósito: ter acesso às informações tão valiosas que a Companhia Mundo não permitia que ninguém como ele, conhecesse.

Cautelosamente Xavier lançou-se na direção do equipamento, pronto para utilizar os códigos que guardara em sua mente e acessar o poderoso banco de dados que indica todos os recursos da Terra a que cada um tem direito. Com um sorriso no rosto, começou a digitar os códigos, quando foi surpreendido por um policial da Companhia Mundo que o alvejou com um raio.

Ferido e com os movimentos paralisados, Xavier foi jogado em um cercado atado a um pequeno veículo que, após receber as orientações do policial, imediatamente seguiu pelas ruas estreitas até chegar à autopista que levava até Burcalem, a prisão mais tenebrosa do Setor Nordeste.

Do ambiente sujo, insalubre e violento dessa prisão, poucos escapavam com vida. Xavier viu-se jogado em uma cela do nível sete, enterrado sete níveis abaixo da superfície da terra, lugar reservado para os que fraudavam os rígidos protocolos de acesso a recursos da Companhia Mundo, e chorou ao sentir que a grande chance de se ver livre de sua vida miserável, escorria como areia fina por entre seus dedos.

Seus companheiros de cela, além dos cadáveres que eram retirados apenas uma vez por semana, estavam desesperados pois sabiam que do nível sete ninguém saia com vida. Eram monstros ainda mais brutalizados pelas condições a que estavam submetidos.

Depois de semanas sendo agredido, cansado, com frio e sem nem mesmo conseguir acesso à água suja, servida apenas uma vez por dia, ou à ração de comida que não era digna nem de porcos, Xavier permitiu que suas pálpebras caíssem. Deitado em um cantinho escuro da sua cela, sua respiração que já estava muito fraca cessou e seu coração maltratado parou de bater. O único a perceber sua passagem foi aquele a quem chamavam de Abutre. Magro e com os dentes projetados para fora da boca, este ser quase não humano, especializou-se em roubar os pertences e comer os pedaços mais macios assim que um de seus companheiros de cela dava seu último suspiro.

Sorrateiramente, Abutre debruçou-se sobre o corpo inerte de Xavier e, quando levantou a pálpebra para alcançar um de seus olhos, macio e suculento petisco que esperava avidamente a morte para roubar e sorver, deu um pulo para trás. Pela ação dos nanorrobôs comandados pela Marie, fazendo a gestão da sua energia vital, a pupila de Xavier se contraiu, mostrando que ainda havia vida naquele corpo.

Em modo de gestão de energia, o corpo de Xavier, que já era esquálido e agora ainda completamente desidratado e desnutrido, tornou-se tão fino que, sob os olhos incrédulos de Abutre, deslizou como líquido e conseguiu esgueirar-se por uma fresta da parede, descendo pelo encanamento e renascendo em uma sarjeta, do outro lado do Setor Nordeste.

A Chave

Emergindo por uma boca de lobo, Xavier ainda teve forças para erguer seu corpo, quase sem peso, para fora e sentou-se na calçada, sob uma fina chuva que caia e, com os olhos fitos no infinito, foi sorvendo aquelas gotas que, aos poucos hidrataram o seu corpo, permitindo que que seus órgãos recobrassem as funções e os pensamentos retornassem.

Lentamente, Xavier começou a se lembrar de tudo: o drone branco… A Marie no quartinho do galinheiro… As provas… As pistas… As pistas! KEINIS, DARVIM e RÓQUIN! E a chave? Qual era a chave? “CÉU!”, gritou logo antes de perceber o risco que ainda corria e a oportunidade que tinha pela frente depois de ter passado por tudo aquilo.

Percebendo que ninguém o observava, olhou para o lado e viu um drone branco da Companhia Mundo estacionado em modo de espera. Sorrateiramente, seguiu até ele e inseriu sua senha pessoal, ganhando controle sobre o equipamento de propriedade da Companhia Mundo. Agora precisava descobrir se a chave que tinha estava correta. O que o atendente tinha dito mesmo? A cada pista, a última letra, menos a palavra-chave. Era isso! Vamos lá!

Cada uma das pistas: KEINIS, DARVIM e ROQUIN. A última letra de cada uma: S, M e N. Menos a palavra-chave, que é CÉU… Como subtrair letras? Como se faz S menos M…? Talvez transformando as letras em números a partir da sua posição no alfabeto! Sim, boa ideia! Assim, Xavier calculou mentalmente a soma das últimas letras de cada uma das pistas. S (=19) mais M (=13) mais N (=14) dá 46. E subtraiu cada uma das letras da palavra-chave. 46 menos C (=3) dá 43, menos E (=5) dá 41, e menos U (=21) dá 20. 43–41–20. Uma senha de seis dígitos! Era isso o que o banco de dados da Companhia Mundo pedia quando, no passado tentou acessá-lo para saber como obter os remédios que poderiam ter salvado a vida de um de seus irmãos.

434120. Xavier digitou a senha na tela do drone e, ante seus olhos estupefatos, viu o início do download do banco de dados diretamente para a sua mente! Que incrível! Não podia acreditar. Olhando em volta, Xavier mal podia esperar pelo fim daquele processo. Após alguns instantes, percebeu que já conhecia as leis, os regulamentos, seus direitos, toda a contabilidade das estatais, a estrutura do investimento público, a forma como os impostos eram calculados e como os preços eram formados para cada um dos produtos e serviços existentes.

Depois de alguns minutos, ele já era capaz de dizer a quanto dos recursos existentes no planeta cada pessoa tinha direito, a partir de quando poderia começar a recebê-los e cada um dos passos necessários para isso: instrumentos jurídicos, procedimentos burocráticos, cadastros etc.

Xavier finalmente teria acesso ao que é justo! Teria como receber os benefícios conforme diziam as leis, ter assegurados os seus direitos como todos os seres humanos e ainda ser capaz de driblar com facilidade as miríades de obstáculos que durante toda a sua vida impuseram-se para que pudesse viver com dignidade.

Feliz com sua conquista, começou a digitar naquela tela, habilitando serviços e benefícios e, em poucos minutos, outro drone parou à sua frente lhe entregando um aparelho com acesso à internet local, conforme as políticas públicas criadas ainda durante a última pandemia, para que pudesse acessar os serviços públicos. Abriu o aparelho com sua marca ótica, acessando seu perfil na Companhia Mundo, e notou uma conta bancária aberta em seu nome e com os créditos que há tanto tempo ele lutava para receber. Seus documentos também apareceram todos lá, criptografados e protegidos para serem usados com um piscar de olhos sempre que necessário.

Ainda incrédulo pelas conquistas proporcionadas pelo conhecimento amplo e detalhado sobre o funcionamento das coisas criadas pelo ser humano que adquirira, Xavier deixou o drone no mesmo lugar em que o encontrara, novamente em modo de espera e, com uma tranquilidade que não lhe era familiar, começou a caminhar muito mais confiante pelas ruas deste bairro do Setor Nordeste, onde nunca tinha estado. Quando ouviu queixas de pessoas miseráveis como ele, ofereceu o que tinha de melhor, pois sabia agora como acessar os recursos tão necessários para responder às necessidades não atendidas de cada um. Conforme passava, uma trilha de alívio e alegria pela liberdade alcançada se estendia na forma de pessoas cujos corações se acalmavam, os peitos se enchiam de esperança e os olhos voltavam a brilhar.

Nova Vida

Tranquilamente, Xavier localizou-se usando os recursos de seu aparelho celular, conectou-se com o meio de transporte público mais próximo e indicou a casa 1984 da comunidade de Miçangas para retornar para casa.

Em uma parada para aguardar a travessia de enormes megacaminhões carregados do que fora extraído em uma enorme operação de exploração mineral a poucos quilômetros dali, perto de duas pequenas comunidades como a dele, Xavier olhou para o lado e viu um sujeito de cabelo engomado, vestindo roupas finas e cheias de brilho, sinalizando em sua direção. Abrindo a pequena janela lateral, perguntou como poderia ajudar e o sujeito respondeu: “Está procurando diversão, meu amigo? Tenho tudo o que possa desejar. Desça rápido que minhas garotas vão te levar aos céus.” Xavier não estava para isso. Sentia muita falta de sua mulher e ainda não tinha tido tempo de contar a ela o quanto a vida deles iria mudar. Agradeceu com um sorriso e voltou a olhar para os caminhões, impaciente pela demora, quando foi surpreendido pela figura de cabelo engomado saltando em sua frente, gesticulando e gritando: “Por favor, me ajude! Estou em perigo! Minhas coisas! Meu negócio!

Preocupado, mas intrigado com o desespero daquele homem, alcançou a maçaneta e, abrindo a porta lentamente, viu uma lâmina que se enfiava por entre a fresta do vidro. Tentou fechar a porta, mas já era tarde. O homem puxou a porta, agarrou Xavier pela gola da camisa, jogou-o no chão e, ameaçando-o com sua faca, disse: “Você não me entendeu? Preciso do seu dinheiro e tenho tudo que possa desejar. Drogas, prostitutas, armas, documentos falsos. E então, o que vai ser?

Xavier, deitado de costas para o chão, olhando aquela expressão endemoninhada, fez menção de alcançar seu cartão de memória com dinheiro, mas deu um giro, passou por baixo dos veículos e embrenhou-se por entre os megacaminhões, correndo o risco de ser esmagado. Eram tão grandes que nem percebiam a sua presença. Uma roda passou ao seu lado e quase o esmagou.

Assustado, mas muito alerta, Xavier correu, rolou, desviou e, finalmente, chegou ofegante ao outro lado do comboio coberto de poeira e fuligem. Olhando para trás, ainda podia avistar o brilho das roupas daquela figura, em luta física com um outro que, como ele, seria intimidado e forçado comprar “Tudo o que possa desejar.” Riu-se por dentro e, voltando-se para onde seguia o seu caminho, ativou seu rastreador, chamou agora um meio de transporte ultrarrápido, que custava apenas umas poucas moedas, mas que agora já podia pagar. Ele tinha pressa de voltar para casa.

Avistando a montanha coberta pela floresta tropical que subia além das nuvens de poeira e poluição que se formavam nas proximidades de Miçangas, Xavier começou a descer, fez uma curva e, avistando a casa 1984, pousou na parte dos fundos, descendo rápido, antes que o ultrarrápido decolasse verticalmente.

Alguns vizinhos, de perto e outros de um pouco mais longe, vieram para saber o que aquele veículo estava fazendo lá. Era muito raro que algum deles pudesse utilizá-los. Sua mulher, chegando até a soleira da porta, olhou para ele sem saber se ria ou se chorava. Seus olhos pareciam querer saber se estavam em perigo, mas, ao mesmo tempo, tinham a esperança de sonhar que um dia seriam felizes. Os outros chegavam perguntando onde tinha estado, o que tinha acontecido e, mais do que tudo, ficaram intrigados com o sorriso que Xavier tinha no rosto.

Xavier olhou diretamente nos olhos de cada um deles, caminhou alguns passos, sentou-se à porta da sua casa e anotou em uma placa: “Despachante para a Companhia Mundo. Grátis para os moradores da comunidade.”

Esperança

Conforme recebia os primeiros moradores, que vinham consultar-se, Xavier sonhava junto com eles pela instalação da rede de água e esgoto que a administração do Setor Nordeste prometia há tanto tempo, a implementação dos incríveis projetos arquitetônicos para a melhoria das moradias que uma ONG oferecera a eles há muitos anos e que nunca tinham saído do papel, com o calçamento das ruas, permitindo a drenagem da água e refletindo o calor do sol, as praças e passeios largos e arborizados, abrindo espaços de convivência para os seus moradores, os telhados das casas, cobertos por lajes que esquentavam o ambiente e serviam para abrigar as caixas d’água, antenas e restos de pequenas obras cobertos por lonas, transformados em telhados verdes que ajudariam na absorção da poluição e na produção de oxigênio, amenizando o calor pelo isolamento térmico e pelo microclima que se criaria, evitando as enxurradas, com as chuvas regando milhares e milhares de plantas de todas as espécies, atraindo pássaros e borboletas e embelezando a pequena Miçangas.

Logo, ninguém mais se lembraria de como isso tudo começou e a vida na comunidade seria cheia de vida e alegria. Xavier poderia trabalhar três ou quatro horas por dia, Voltar para casa, banhar-se e sentar-se na varanda para orientar seus filhos sobre os melhores caminhos para uma vida feliz, alimentar-se saudável e frugalmente, inebriar-se com sua mulher e fazerem amor até dormirem um nos braços do outro, confiantes de que no dia seguinte poderiam novamente interagir na sua comunidade oferecendo seus recursos e suas competências para melhorar as vidas uns dos outros.

Mas, uma nuvem de poeira que vinha de longe, acompanhada do alarido de mil sirenes e o barulho de hélices e motores elétricos, indicava que a um alarme tinha soado no escritório central da Companhia Mundo.

O Voo

Em poucos minutos, com o céu coalhado por um sem número de pequenos aparelhos brancos voadores, Xavier discerniu a figura de Mero saindo do bananal e, olhando para a nuvem de drones brancos, acenando afirmativamente. Xavier e seus infelizes circunstantes olharam para o alto desolados e pressentiram o pior.

Jogados no chão por força das armas, cada um dos moradores de Miçangas envolvidos no que a Companhia Mundo classificou como um conluio que ameaçava o seu poder hegemônico, recebeu uma carga por suas entradas USB humanas, permanecendo imóveis.

Vendo todos submetidos daquela forma cruel e começando a sentir a enxaqueca que já lhe era familiar e prenunciava o fim, Xavier concentrou-se em Marie e, percebendo as alterações produzidas pelos nanorrobôs ainda presentes, seguiu um pontinho no mapa da comunidade, transportando sua mente em um voo até o galinheiro onde uma galinha garnisé de pescoço fino olhava estática para o além, a partir de seu ninho de palha.

Xavier então, aceitou o comando sugerido e iniciou a transferência daquela imensa carga de informações do banco de dados da Companhia Mundo para o pequeno sistema nervoso da penosa, que, após um cacarejo estridente, levantou-se abruptamente, revelando um bonito ovo marrom cintilante.

FIM


PS: Para chegar até o momento de escrever este breve texto literário, comecei com uma série de conversas com alguns amigos que me ajudaram com perspectivas, resultando em Contar histórias e dar sentido ao mundo pós-pandemia de Covid-19 e A Jornada do Herói no mundo pós-Covid-19.

OBS: Publicado originalmente no Medium do autor e reproduzido aqui com autorização.

Por Rodrigo Bandeira

Consultor em projetos de articulação intersetorial, governança social e inteligência de informação para tomada de decisão.

Mestre em Administração Pública e Governo e graduado em Administração de Empresas pela FGV-SP e especializado em Administração para o Terceiro Setor pela New York University.

Gabriela Tamura
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O valor da inovação na pandemia

Inovação na pandemia

Estamos acompanhando diversas iniciativas dos laboratórios de inovação de instituições públicas que estão colaborando no combate ao Covid-19.

Com o objetivo de iluminar as iniciativas de inovação na pandemia e dar ideias para que outros inovadores possam replicar, reunimos algumas ações aqui neste texto. Boa leitura!

Íris – Ceará

O Laboratório de inovação da Casa Civil do Governo do Ceará – Íris – criou o Guia “Teletrabalho no setor público”.

O documento é um excelente compilado, focado em setor público e tem um design maravilhoso. Veja sugestões sobre como garantir as rotinas de gestão, a produtividade e a segurança da sua equipe nessa quarentena.

Nidus – Santa Catarina

O Governo de Santa Catarina lançou um painel de acompanhamento que vai utilizar a tecnologia, os dados e a geolocalização para monitorar o avanço dos casos da Covid-19 no estado.

O Laboratório de inovação da Secretaria de Estado da Administração de Santa Catarina – Nidus , é um dos parceiros do projeto. Confira aqui.

GNova – Enap – Governo Federal

Em parceria com o GNova, a Escola Nacional de Administração Pública – Enap lançou 4 desafios na sua plataforma de inovação aberta para enfrentamento ao novo coronavírus.

  • Desafio 1 – Saúde: Como aumentar a eficiência do sistema de saúde no enfrentamento da pandemia?
  • Desafio 2 – Economia: Como reduzir impactos e gerar oportunidades para empresas e empreendedores?
  • Desafio 3 – Impacto social: Como mitigar as consequências socioeconômicas?
  • Desafio 4 – Tecnologia: Como usar a tecnologia para ganhar escala no monitoramento e enfrentamento da pandemia?

iNOVATCHÊ – Laboratório da JFRS

O Projeto Voronoy-Delaunay, do iNOVATCHÊ (Laboratório de Inovação da JFRS), visa a sensibilizar os colaboradores da Justiça Federal, de outros órgãos e a sociedade em geral para as necessidades da população menos favorecida economicamente, que está passando por necessidades durante o período de isolamento social.

O Projeto prevê a divulgação e ampliação da rede de apoio e a promoção de ações e campanhas de auxílio aos necessitados e, também, a discussão de alternativas de sustentabilidade ambiental, econômica e social para implementação após o período de isolamento. O projeto está alinhado com 7 objetivos da Agenda 2030 da ONU e reforça a missão do iNOVATCHÊ como um agente de transformação institucional e social, por meio da cocriação e experimentação de soluções criativas, com foco no ser humano. Para saber mais, entre em contato pelo email: inovatche@jfrs.jus.br.

Reflexões e outros trabalhos

Para além das iniciativas das áreas de inovação indico também a leitura deste texto do Promotor de Justiça de Santa Catarina e Coordenador do Núcleo de Inovação no Ministério Público de Santa Catarina, Dr. Guilherme Zattar, com ótimos insights que nos fazem refletir por dias sobre os impactos do Covid na inovação e no sistema de justiça.

Conclusão

O que eu achei muito legal foi a resposta rápida dos laboratórios (e dos inovadores) em relação à pandemia, isso demonstra que já conseguiram incorporar o pensamento ágil e método de trabalho mais colaborativo tão inerente e necessário para estes espaços de inovação.

Alguns estavam preparados e conseguiram mostrar o valor da inovação em tempos como esses que estamos vivendo. Parabéns inovadores! O momento é altamente crítico, mas é também, uma ode à inovação.

*Essas foram as iniciativas que eu vi, com certeza existem muitas outras. Indique aqui nos comentários do blog.

Por Gabriela Tamura

Fundadora e Diretora de Negócios da WeGov. Administradora Pública graduada pela Universidade do Estado de Santa Catarina, Pós-graduada em Gestão Pública pela Universidade Aberta do Brasil. Resiliente de plantão começou seu relacionamento com o setor público há 12 anos. Conhece bem a realidade do governo e resolveu ajudar.
Foi agraciada com a medalha do Exército Brasileiro em função dos serviços prestados à Nação pela WeGov.

Gabriela Tamura
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Assista o vídeo de Heloísa Fischer A WeGov convidou Heloísa Fischer, especialista em linguagem simples da Comunica Simples, para dar dicas às instituições públicas de como se comunicarem interna e externamente perante a situação do COVID-19.  Vamos assistir? Linguagem simples – Heloísa Fischer 10 passos para escrever em linguagem simples Planejar e escrever para a(o) […]

Assista o vídeo de Heloísa Fischer

A WeGov convidou Heloísa Fischer, especialista em linguagem simples da Comunica Simples, para dar dicas às instituições públicas de como se comunicarem interna e externamente perante a situação do COVID-19. 

Vamos assistir?

Linguagem simples – Heloísa Fischer

https://vimeo.com/400642223/1d289e9637

10 passos para escrever em linguagem simples

Planejar e escrever para a(o) cidadã(ão). Conheça 10 passos que o Íris – Laboratório de Inovação e Dados do Governo do Ceará recomenda para você redigir textos usando a técnica da Linguagem Simples.


Por Gabriela Tamura

Fundadora e Diretora de Negócios da WeGov. Administradora Pública graduada pela Universidade do Estado de Santa Catarina, Pós-graduada em Gestão Pública pela Universidade Aberta do Brasil. Resiliente de plantão começou seu relacionamento com o setor público há 12 anos. Conhece bem a realidade do governo e resolveu ajudar.
Foi agraciada com a medalha do Exército Brasileiro em função dos serviços prestados à Nação pela WeGov.

Quem são? Onde vivem? O que comem?

Quem são? Onde vivem? O que comem?

Os inovagófagos são um povo de uma ilha perto do Brasil. O seu nome advém de se alimentarem das flores e frutos de Inovis, existentes nessa ilha em quantidade abundante. A árvore de Inovis é uma planta exótica e quando suas flores e frutos são consumidos podem causar distorções da realidade e alucinações.

Nos últimos anos, algumas pessoas desembarcaram na ilha e passaram a viver a rotina dos inovagófagos para tentar entender o que acontece por lá… Segundo relatos, a ilha é maravilhosa! As atrações são tantas que as pessoas acabam esquecendo de voltar para casa, esquecem a razão de estar ali. Mas na verdade, são os inovagófagos que prendem as pessoas na ilha…

Em uma rara oportunidade, um dos homens que havia desembarcado por lá foi resgatado e amarrado no Brasil para que não voltasse para ilha nunca mais.

O homem foi questionado sobre a rotina da ilha e os habitantes. Ele contou que os Inovagófagos são um povo milenar — chamados “comedores de Inovis” — que possuem conhecimentos e hábitos do passado e aprenderam a preparar as flores e os frutos da árvore de Inovis em uma infinidade de receitas. Os habitantes ainda querem construir novas ilhas para que outras pessoas fiquem presas fora da realidade.

O homem resgatado, ainda amarrado, contou que certa vez teve oportunidade de perguntar para um dos grandes líderes dos “comedores de Inovis”:
Por que vocês prendem as pessoas fora da realidade? Vocês se sentem bem com isso?

O líder dos Inovagófagos respondeu:

Prendemos as pessoas para que esqueçam seus problemas e tenham vidas eternas e felizes e eu me sinto maravilhado pelo que faço pois a árvore de Inovis é minha vida.

Líder dOS INOVAGÓFAGOS

O poder da árvore de Inovis

Esse homem que conseguiu escapar, tornou-se um especialista em Inovis e, segundo seus estudos, a árvore é poderosíssima. Quando as flores e os frutos estão frescos, são consumidos em quantidades adequadas e preparados em receitas exclusivas, as pessoas conseguem manter o contato com a realidade e ainda melhoram suas capacidades cognitivas, colaborativas e criativas.

Por ser um povo milenar, os inovagófagos acreditam que a Inovis deve ficar sob seu controle e ainda não perceberam a melhor forma de libertar todo o potencial da árvore de Inovis.

Exílio sazonal

De quatro em quatro anos, a produção de Inovis cessa completamente. Com isso, os inovagófagos costumam viajar pelo Brasil — local onde moravam antes de migrar para a ilha.

Durante a entressafra, os inovagófagos param de consumir as flores e os frutos da árvore e entram em contato com a realidade. Chocados com tudo que veem, percebem que nada mudou desde que saíram do Brasil. Assustados, a única coisa que eles esperam é voltar a consumir as receitas mágicas sem limites e entorpecer outras pessoas para que fiquem presas, fora da realidade, em sua maravilhosa ilha.

Dizem que, nos dias de hoje, os inovagófagos foram integrados com outros povos brasileiros e estão descobrindo progressivamente as medidas certas para usar planta de Inovis.


Moral da História

“Cuidado com o solucionismo! Embarque no mundo da inovação, mas não deixe que seja uma panaceia para o setor público.”

Foto de David Cohen no Unsplash

Por André Tamura

Pai e Marido. Fundador e Diretor Executivo da WeGov. Empreendedor entusiasta da inovação no setor público e das transformações sociais. Estudou Administração de Empresas e Ciências Econômicas. Desde que trabalhou como operário de fábrica no Japão, tem evitado as “linhas de produção”, de produtos, de serviços e de pessoas. Em 2017, foi condecorado com a Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro.

”Os tomadores de decisão geralmente confundem sistemas complexos com sistemas simplesmente complicados e procuram soluções sem perceber que ‘aprender a dançar’ com um sistema complexo é definitivamente diferente de ‘resolver’ os problemas que surgem dele.

Roberto Poli

Muitas pessoas acreditam que complexidade é apenas uma complicação de ordem superior, ou seja, que existe um continuum e que a diferença é de grau, não de tipo. Quando se considera, no entanto, quão diferentes esses estados são um do outro, eu tendo a concordar com Dave Snowden quando ele diz que, de fato, há mudanças de fase entre eles, ou seja, são tipos de sistemas fundamentalmente diferentes.

Por que essa diferença é importante:  enquanto os tomadores de decisão acreditarem que estão lidando com sistemas complicados, eles assumirão que são capazes de controlar os resultados. Basicamente, encontre soluções para os problemas e gaste muito dinheiro com consultores especializados para lhes dar as ”respostas”. Para que as organizações se tornem mais resilientes e sustentáveis, a ciência dos negócios simplesmente precisa ir além de suas fundações newtonianas em direção a um entendimento da complexidade.

Roberto Poli articula a diferença entre complicado e complexo da seguinte maneira: 

”Problemas complicados originam-se de causas que podem ser distinguidas individualmente; eles podem ser abordados peça por peça; para cada entrada no sistema, há uma saída proporcional; os sistemas relevantes podem ser controlados e os problemas apresentados apresentam soluções permanentes.

Por outro lado, problemas e sistemas complexos resultam de redes de múltiplas causas de interação que não podem ser distinguidas individualmente; devem ser tratados como sistemas inteiros, ou seja, eles não podem ser tratados de maneira fragmentada; são tais que pequenos insumos podem resultar em efeitos desproporcionais; os problemas que eles apresentam não podem ser resolvidos de uma vez para sempre, mas precisam ser gerenciados sistematicamente e, normalmente, qualquer intervenção se funde em novos problemas como resultado das intervenções com eles; e os sistemas relevantes não podem ser controlados – o melhor que se pode fazer é influenciá-los ou aprender a “dançar com eles”, como Donella Meadows disse com razão.”

Vamos ver isso com mais detalhes:

1. Causalidade

Complicado: os caminhos lineares de causa e efeito permitem identificar causas individuais dos efeitos observados.

Complexo: como estamos lidando com padrões decorrentes de redes de múltiplas causas em interação (e interconectadas), não há caminhos de causa e efeito claramente distinguíveis.
Implicações: a análise da causa raiz é amplamente uma perda de tempo em um sistema complexo. No entanto, com que frequência você ouviu um tomador de decisão expressar uma necessidade exatamente disso?

2. Linearidade

Complicado: Toda saída do sistema tem uma entrada proporcional, isto é, a física newtoniana se aplica.

Complexo: As saídas não são proporcionais ou linearmente relacionadas às entradas; pequenas alterações em uma parte do sistema podem causar saídas repentinas e inesperadas em outras partes do sistema ou mesmo uma reorganização em todo o sistema.
Implicações: grandes iniciativas de mudança de vários milhões de dólares podem ter zero impacto, enquanto uma palavra errada em um email (ou uma imagem em uma camiseta da H&M) pode levar a uma revolta em todo o sistema. Experimentos pequenos de segurança à falhas são mais úteis do que grandes projetos projetados para serem à prova de falhas.

3. Redutibilidade

Complicado: podemos decompor o sistema em suas partes estruturais e entender completamente as relações funcionais entre essas partes de maneira fragmentada.

Complexo: Não se pode presumir que uma estrutura tenha uma função, pois as partes estruturais do sistema são multifuncionais, ou seja, a mesma função pode ser realizada por diferentes partes estruturais. Essas partes também são ricamente inter-relacionadas, ou seja, mudam-se de maneiras inesperadas à medida que interagem. Portanto, nunca podemos entender completamente essas inter-relações.
Implicações: Muitos métodos de gerenciamento, solução de problemas e desenvolvimento organizacional supõem que um problema e/ou sistema possa ser desconstruído em suas partes componentes, entendido, otimizado e corrigido. Pense em nossa ferramenta de mudança favorita: a reestruturação, que se acredita ser a cura para qualquer problema de mudança. Sistemas complexos são emergentes, são maiores que a soma de suas partes… Precisamos interagir ou “dançar” com o sistema para poder influenciá-lo, e também precisamos entender que nossa mera presença já está mudando. Nossas tentativas de reduzir e reorganizar irão mudar fundamentalmente ou até destruir as propriedades do sistema que mais prezamos, como cultura e resiliência.

4. Controlabilidade e solvabilidade

Complicado: Contextos e interações sistêmicas podem ser controlados e os problemas que eles apresentam podem ser diagnosticados e resolvidos permanentemente.

Complexo: Problemas complexos se apresentam como padrões emergentes resultantes de interações dinâmicas entre várias partes não linearmente conectadas. Nesses sistemas, raramente somos capazes de distinguir o problema real, e mesmo intervenções pequenas e bem-intencionadas podem resultar em conseqüências desproporcionais e não intencionais.

Implicações: Esses sistemas são propensos a altos níveis de surpresa, incerteza; e intervenções (mesmo simplesmente observando o sistema), causando mudanças inesperadas e até desafios novos ou piores. Precisamos mudar o pensamento de “problema e solução” para “padrões e evolução”. Isso serve como um desafio particular para a comunidade Design Thinking.

5. Restrição (abertura)

Complicado: a razão pela qual a suposição “uma estrutura, uma função” é válida em sistemas complicados é que seus ambientes são delimitados, ou seja, existem restrições de governo que permitem que o sistema interaja apenas com tipos de sistemas selecionados ou aprovados. De acordo com Poli: “as funções podem ser delimitadas fechando o sistema (sem interação) ou fechando seu ambiente (interações limitadas ou restritas)”.

Complexo: sistemas complexos são sistemas abertos, na medida em que geralmente é difícil determinar onde o sistema termina e outro começa. Sistemas complexos também estão aninhados, fazem parte de sistemas complexos de maior escala, por exemplo, uma organização dentro de uma indústria dentro de uma economia. Portanto, é impossível separar o sistema do seu contexto.Implicações: o contexto é importante, ignore-o por sua conta e risco. Assim que as organizações se tornam muito focadas internamente, o olhar tanto para “o próprio umbigo” as torna vulneráveis. Garantir a existência de mecanismos adequados e diversificados de feedback é um imperativo estratégico essencial.

6. Conhecimento

Complicado: esses sistemas, porque estão fechados e podem ser desconstruídos, podem ser totalmente conhecidos ou modelados.

Complexo: acho que foi o físico Murray Gellman que disse: “O único modelo válido de um sistema complexo é o próprio sistema”. A complexidade de um sistema não depende da quantidade de dados ou conhecimentos disponíveis. Não podemos transformar sistemas complexos em sistemas complicados gastando mais tempo e recursos na coleta de mais dados ou no desenvolvimento de melhores teorias.

Implicações: a única maneira de realmente entender um sistema é interagir com ele. Os dados seduziram muitos tomadores de decisão a pensarem que podem entender suas organizações à distância… Confortáveis ​​em suas torres de marfim, tomam decisões com consequências distantes, sem ter um entendimento real do impacto potencial dessas decisões. Da mesma forma, o big data tem sido um grande foco para muitas organizações entenderem seus clientes. Embora certamente tenha valor, o big data e os métodos de coleta relacionados levantam sérias preocupações morais e éticas. Seu valor também é limitado: o big data pode indicar para onde vou, quando, quanto estou gastando e os métodos de pagamento que uso… Mas não pode dizer por quê estou fazendo e minhas motivações. Portanto, em resumo, aproxime-se do sistema, interaja com ele e, com o tempo, obterá uma melhor compreensão do todo emergente, não apenas das partes.

7. Criatividade e adaptabilidade

Complicado: sistemas complicados precisam de uma força externa para agir sobre eles, a fim de introduzir mudanças.

Complexo: esses sistemas são capazes de se observar, aprender e se adaptar. Eles são criativos. Segundo Poli, “tudo muda, mas nem tudo é criativo. Para mencionar apenas um componente da criatividade, a capacidade de (implícita ou explicitamente) reformular é uma das características definidoras da criatividade. A criatividade também inclui alguma capacidade de ver valores e desvalores e de aceitá-los e rejeitá-los. Portanto, é também uma fonte de esperança e desespero. Nenhuma dessas propriedades é possuída por sistemas complicados. ”

Implicações: sistemas complexos são adaptáveis ​​e capazes de aprender. Na intencionalidade de sistemas complexos humanos, as construções de identidade e a inteligência também desempenham um papel. As pessoas tendem a resistir a reorganizações, iniciativas de mudança de cima para baixo e a introdução de novas formas de trabalho que incluem novos papéis como o SCRUM. Tudo isso leva a uma perturbação das dinâmicas e estruturas sociais que podem ter conseqüências indesejadas significativas, por exemplo, as pessoas podem fingir estar em conformidade, mas sabotam o processo de mudança de maneiras sutis. Da mesma forma, dadas as restrições de habilitação corretas e a liberdade de adaptação de maneiras relevantes ao contexto, as pessoas nesses sistemas podem ser mobilizadas para evoluir de maneiras inesperadamente benéficas. 

Esta não é uma lista completa, existem muitas outras diferenças a serem exploradas, mas espero que essas reflexões sejam úteis para facilitar um melhor entendimento desses diferentes sistemas e como agir neles de maneiras apropriadas. Também é importante observar que na maioria dos sistemas humanos o complexo e complicado coexistem, isto é, você encontra problemas complicados em sistemas complexos e problemas complexos em sistemas complicados. Estruturas de criação de sentido como o Cynefin são úteis para ajudar os líderes a identificar o contexto com o qual estão lidando.

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Referências: A Note on the Difference Between Complicated and Complex Social Systems, Roberto Poli, 2013.

Leia aqui versão original em inglês.

Por André Tamura

Pai e Marido. Fundador e Diretor Executivo da WeGov. Empreendedor entusiasta da inovação no setor público e das transformações sociais. Estudou Administração de Empresas e Ciências Econômicas. Desde que trabalhou como operário de fábrica no Japão, tem evitado as “linhas de produção”, de produtos, de serviços e de pessoas. Em 2017, foi condecorado com a Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro.

Metodologias ágeis no setor público

O conceito de ágil surgiu na indústria de tecnologia como resposta às frustrações sofridas no desenvolvimento de softwares. Longos e detalhados planos de trabalhos de projetos com alto nível de incerteza levavam muito tempo para terem suas entregas concluídas e, muitas vezes, o resultado final era diferente do esperado; ou já não atendia mais às necessidades do negócio e dos usuários.

No início dos anos 2000, alguns líderes da indústria de softwares assinaram o Manifesto Ágil, onde escreveram as diretrizes do que seria uma maneira de fazer projetos de tecnologia de forma mais rápida e dinâmica. Desse manifesto derivam diversos métodos diferentes de se trabalhar o desenvolvimento de softwares, sendo o Scrum, Kanban e XP os mais conhecidos.

O ágil é mais do que aplicações de metodologias: é um mindset para entregas de valor pequenas, rápidas e contínuas ao longo do projeto.

12 princípios do manifesto ágil:

  • Garantir a satisfação do cliente, entregando rápida e continuamente um software funcional;
  • Adaptabilidade: Mudanças tardias de escopo no projeto são bem-vindas;
  • Software funcional é entregue frequentemente (semanal ou mensalmente – o menor intervalo possível);
  • Cooperação constante entre as pessoas que entendem do ‘negócio’ e os desenvolvedores;
  • Projetos surgem por meio de indivíduos motivados, devendo existir uma relação de confiança;
  • A melhor forma de transmissão de informação entre desenvolvedores é através da conversa ‘cara a cara’;
  • Software funcional é a principal medida de progresso do projeto;
  • Novos recursos de software devem ser entregues constantemente. Clientes e desenvolvedores devem manter um ritmo até a conclusão do projeto;
  • Design do software deve prezar pela excelência técnica;
  • Simplicidade;
  • As melhores arquiteturas, requisitos e designs emergem de equipes auto-organizáveis;
  • Em intervalos regulares, a equipe reflete sobre como se tornar mais eficaz e então refina e ajusta seu comportamento.

Metodologia Scrum

Umas das metodologias ágeis mais conhecidas e utilizadas é o Scrum. No Scrum, o projeto é dividido em pequenos ciclos de planejamento, execução e entrega, os chamados sprints. Em geral, um sprint dura cerca de 15 a 30 dias. 

Ao longo do projeto, as necessidades (chamadas também de história) dos clientes / usuários surgem, sendo preciso incluir atividades que antes não eram previstas. No caso do desenvolvimento de um software, por exemplo, pode ser essencial uma nova funcionalidade, ou mudar a interface, para melhorar a usabilidade. Essas demandas são acumuladas num backlog, que é uma pequena lista de necessidades que precisam ser resolvidas.

O sprint é tipicamente dividido em 3 etapas: o sprint planning (planejamento), o sprint development (desenvolvimento) e o sprint retrospective (retrospectiva). 

No sprint planning são discutidas as histórias do backlog (as necessidades dos clientes) e verificadas qual é a prioridade de cada uma e qual é o esforço necessário para resolvê-las. Então, são definidas quais histórias serão trabalhadas naquele ciclo e quem irá trabalhar nelas.

Uma vez definidas, essas histórias serão executadas na etapa de desenvolvimento, o chamado sprint development. Durante o desenvolvimento, a equipe faz reuniões diárias curtas para conversarem sobre o que foi produzido no dia anterior, o que será produzido no dia seguinte e tomar pequenas decisões para direcionar o time, as chamadas daily standup meetings

Ao fim do sprint, as tarefas são finalizadas e entregues aos clientes. Independentemente de todas as demandas serem concluídas ou não, o sprint irá terminar na data prevista e as demandas não concluídas ficam para outros sprints.

Em seguida, o time se reúne para analisar o sprint passado e discutir o que foi bom e os pontos de melhoria, o chamado sprint retrospective. Em alguns casos, é feita uma apresentação das entregas realizadas para os clientes internos da empresa. O time aproveita essa etapa para colher primeiros feedbacks.

Em geral, os times (também chamados de squads) são pequenos com uma média de 5 a 15 participantes, cada um com um papel definido.

O product owner (ou simplesmente p.o.) avalia as necessidades dos clientes e stakeholders* (envolvidos no projeto) e ajuda a definir uma ordem de prioridade, ou seja, ele gerencia o backlog do produto. O próprio p.o., juntamente com um UX designer, utiliza métodos de design thinking para entender as necessidades dos clientes e stakeholders em detalhe e desenhar uma solução para elas. O p.o. e o time de desenvolvedores (ou simplesmente devs) definem o grau de dificuldade das necessidades e quais serão trabalhadas em cada sprint. Os desenvolvedores são responsáveis por executar as melhorias no produto, conforme definido com o p.o. O scrum master garante que todas as etapas do ciclo estão sendo realizadas, e garante os recursos que o time precisa para executar suas tarefas. 

Metodologias ágeis que podem ser aplicadas em projetos para além do desenvolvimento de softwares

Mais do que as práticas, o ágil é um mindset que requer transformações profundas de cultura do ambiente de trabalho. No entanto, devido à grande dificuldade de implementar uma transformação dessas no setor público pelo alto nível de complexidade da organização, a proposta deste texto é trazer ideias de como aplicar algumas práticas da metodologia scrum no dia-a-dia de qualquer projeto. Trazendo primeiro mudanças de metodologia, incitando o mindset ágil de maneira bottom-up (de baixo para cima).

Planos de trabalhos longos X pequenos sprints

Uma prática comum em gerenciamento de projetos é construir planos de trabalhos longos e detalhados que abarcam todas as fases de execução daqueles projetos na etapa de planejamento. Muitas vezes o direcionamento muda e o plano não é mais coerente com o esperado. Neste caso, praticar os sprints pode ser um método mais eficiente  para projetos em desenvolvimento. Por exemplo, a cada início de mês, o gerente de projeto pode revisar com a liderança se os principais objetivos daquele projeto ainda se mantém e, a partir disso, ele monta uma proposta de atividades detalhadas. Ele, então, pode trazer para o time de projetos essa proposta e discutir o tempo de execução e prioridades de cada atividade, fechando com esse time um plano de atividades  para o mês em questão (sprint planning).


Gerenciamento de atividades e visibilidade para todo o time

A prática do daily standup meeting pode ser bastante saudável para dar visibilidade sobre o que está sendo realizado a todos os membros do time de projetos; identificar falhas de antemão e ajudar ao membro da equipe a tomar pequenas decisões do dia-a-dia. Se o time não tiver disponibilidade de se reunir, uma ótima prática também é cada membro enviar um e-mail diário com a  lista do que foi feito no dia e próximos passos para o dia seguinte.

O uso do quadro Kanban também ajuda os envolvidos a ter visibilidade do avanço das tarefas, além de poder  ser usado também para medir a eficiência do time. Assim, toda vez que alguém tiver dúvidas sobre o andamento de determinada atividade, pode checar no quadro ao invés de ter que fazer reuniões de check-in. Existem várias ferramentas gratuitas disponíveis para gerenciamento de tarefas e quadros de Kanban, como Trello e Asana.

Entregas menores e com visibilidade para a alta liderança e áreas envolvidas

Mensalmente, ao final do sprint, o time pode juntar tudo o que foi realizado e apresentar para a liderança ou áreas cliente o que foi desenvolvido ao longo daquele mês, demonstrando como aquela etapa contribuiu para atingir o objetivo final do projeto. Isso ajuda a dar visibilidade para os stakeholders sobre o que o time está desenvolvendo, bem como colher feedbacks para adaptar o plano de trabalho futuro.

Feedbacks contínuos

Além da prática do feedback 1:1 ao final de cada mês, o time de projetos pode se reunir para discutir sobre o que deu certo, o que falhou e o que pode ser feito para melhorar. É importante também aproveitar estes momentos para medir a moral e o engajamento do time, identificando pontos a serem trabalhados com antecedência. O ideal é começar fazendo uma pesquisa anônima entre os membros e depois uma reunião para discussão em grupo e elaboração do plano de melhoria.

Autonomia

É importante trazer o time para participar das etapas de planejamento, replanejamento e apresentação das entregas, bem como deixar com que, mesmo os membros mais juniores, participem das tomadas de decisão do projeto ou permitir que eles tomem decisões sozinhos no meio do caminho. Isso permite que os membros se vejam como parte daquele projeto, faz com que fiquem mais felizes e mais eficientes.


Interação entre membros de equipes diferentes

Criar espaços para que membros que exercem mesma função possam interagir e trocar experiências pode ser bastante valioso para o desenvolvimento deles. Por exemplo, os gerentes podem se reunir e trocar experiências; ou os analistas para participarem de treinamentos, discussões em grupo, encontros de happy hours.

Mínimo Produto Viável e testes AB

Suponhamos que o seu projeto seja realizar uma série de melhorias num determinado serviço (por exemplos em hospitais públicos), mas você não tem certeza do valor/impacto que cada iniciativa trará ao usuário. Um grupo de teste pode ser montado (por exemplo, uma ala do hospital) e as iniciativas podem ser aplicadas naquele grupo. Comece com iniciativas simples (um Mínimo Produto Viável, chamado MVP), avalie se as iniciativas estão surtindo o efeito esperado neste grupo pequeno e faça contínuas melhorias nos serviços. Uma vez que as iniciativas provarem seu valor no grupo pequeno, expanda as iniciativas para grupos maiores, por exemplo, para o hospital todo.

Espero que essas dicas possam ajudar ao serviço público a criar projetos de forma mais dinâmica e integrada, adaptando as propostas iniciais às demandas que podem vir a surgir no meio do processo.

*Nota da WeGov: Segundo Edward R. Freeman (1984), Stakeholders pode ser definido como o conjunto de grupos que podem afetar uma organização ao mesmo tempo que também podem ser afetados por ela.


Foto de Dylan Gillis no Unsplash

Por WeGov

Somos um espaço de aprendizado para fazer acontecer a inovação no setor público.

Florian Madruga
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Estudos demonstram que países com uma administração pública mais transparente são mais eficientes e apresentam menos casos de corrupção. No Brasil, apesar do longo caminho que ainda temos que percorrer para aprimorar nossa administração pública, podemos nos orgulhar de sermos referência em ações relacionadas à transparência no setor público. Nossa Lei de Acesso à Informação (LAI) é uma das mais avançadas do mundo, além de o nosso país ter sido pioneiro na adesão à Open Government Partnership, entidade transnacional que cria parâmetros de transparência.

Nessa temática, o Senado Federal tem um caso de sucesso a apresentar. Até há pouco tempo, a nossa “Câmara Alta” era muito questionada em relação à lisura e à transparência das decisões administrativas. Esse problema chegou ao ápice em 2009, quando a imprensa batizou de escândalo dos atos secretos a descoberta de decisões que não tiveram a devida publicidade.

Em 2013, a Casa chegou ao consenso de que esse cenário deveria ser revertido. O Senado então se reinventou para tornar-se um dos órgãos públicos mais transparentes do Brasil. Essa transformação foi feita em três etapas: desenvolvimento do mais completo portal de transparência no país; estabelecimento, sem custos adicionais, de uma Secretaria de Transparência para gerir o portal e definir outras ações relacionadas ao tema; e instalação de um Conselho de Transparência com representantes de ONGs e outros segmentos da sociedade civil, para monitorar a transparência.

O Portal de Transparência do Senado

Por meio do Portal de Transparência, é possível acessar todas as despesas realizadas pelo Senado. Os contratos estão reproduzidos na versão original, com as assinaturas inclusive dos gestores responsáveis. Todos os objetos que compõem o patrimônio do Senado podem ser consultados. É possível selecionar um setor administrativo e verificar quantas mesas, equipamentos de informática e armários, por exemplo, constam na sala.

Cada gabinete de senador tem uma página específica com os nomes de todos os servidores lotados e as respectivas remunerações. Além disso, informações sobre viagens feitas pelo senador, verbas utilizadas e uso de imóvel funcional estão detalhadas.      

Esse esforço em se tornar mais transparente gerou um reconhecimento público ao Senado. Instituições como a Fundação Getulio Vargas e a ONG Artigo 19 realizaram estudos que colocaram o Senado entre as instituições mais transparentes do Brasil. O número de usuários do Portal da Transparência do Senado também tem batido recordes. De 2013 a 2017, houve mais de 7 milhões de acessos.

Após esse reconhecimento, o Senado dedicou-se a desenvolver projetos que contribuem para que outras casas legislativas no Brasil também possam se tornar-se mais transparentes. O Portal Modelo do Interlegis, o Índice de Transparência Legislativa e o curso a distância sobre transparência legislativa são exemplos dessas ações.

Portal Modelo

O Brasil dispõe de mais de cinco mil câmaras de vereadores espalhadas por nosso vasto território. A maioria desses órgãos apresenta uma estrutura muito precária e orçamento limitado. Ciente dessa realidade, o Senado desenvolveu um projeto que contribui para a inclusão digital desses órgãos.

Batizado de Portal Modelo, o projeto oferece, de forma gratuita, uma estrutura de site completa que pode ser adotado por qualquer câmara de vereadores do Brasil para dar divulgação à atividade parlamentar e tornar os gastos públicos mais transparentes. Para operar o Portal Modelo, não é necessário ter nenhuma formação especial em computação: o Senado oferece um curso online sobre como administrar o portal para pessoas que tenham conhecimento básico em informática. Além disso, os portais das câmaras de vereadores ficam hospedados em servidores do próprio Senado.

Para saber mais sobre o projeto, acesse aqui

Assista também a um vídeo no Youtube que apresenta o Portal Modelo 

Índice de Transparência Legislativa

Além da Câmara dos Deputados e dos Senado Federal, a estrutura do Poder Legislativo no Brasil se espalha por assembleias legislativas, uma câmara legislativa no DF e câmaras de vereadores. São órgãos muito heterogêneos e com capacidades distintas. No esforço de criar uma métrica que permita aos cidadãos avaliar o quanto essas casas legislativas são transparentes, o Senado desenvolveu uma metodologia que permite a qualquer pessoa saber em que estágio de transparência estão esses órgãos.

No site do Índice de Transparência Legislativa (ITL), é possível conhecer o método em detalhes e acessar a planilha que pode ser preenchida por qualquer cidadão. Espera-se assim que as casas legislativas com bom índice continuem transparentes e as que não apresentarem bom resultado possam se aprimorar.      

Curso a distância sobre transparência legislativa

A modalidade de educação a distância tem se firmado como um método promissor de compartilhamento de conhecimento. Há alguns anos, o Senado investiu nesse segmento e hoje dispõe de uma plataforma com amplo portfólio de cursos gratuitos voltados para a educação cívica. Em breve, o curso “Transparência Legislativa” também estará disponível. O curso será ofertado de forma gratuita para a sociedade e será acessível de qualquer lugar do país.

Missão cumprida?

Os avanços nas ações de transparência não significam que a missão está cumprida. Há desafios permanentes. Ampliar a quantidade de informações no formato dados abertos é uma delas. Nesse formato, o usuário pode desenvolver análises que contribuem para o controle social e para o aprimoramento da administração pública. Outro desafio é tornar as informações já publicadas nos portais da transparência mais didáticas e compreensíveis para os cidadãos. Um balancete pode até conter informações contábeis completas e corretas, mas é pouco compreensível para a maioria das pessoas.  Esses são desafios que exigem o esforço criativo para soluções inovadoras.

Florian Madruga é mestre em administração pela Fundação Getúlio Vergas (FGV) e bacharel em Comunicação Social pela Universidade de Brasília (UnB). É servidor de carreira do Senado desde 2010. 

Photo by John Schnobrich on Unsplash

Nos trabalhos da WeGov, é comum termos na mesma sala pessoas de diferentes setores, áreas de conhecimento, experiências e percepções distintas sobre a inovação no setor público. Em alguma etapa, os trabalhos revelam – em nível individual, projetual ou global – três coisas sobre a inovação no setor público

1. Inovar é confuso

Em quase todos esses trabalhos, enquanto estamos fazendo as exposições e conduzindo as atividades, as pessoas demonstram desconforto e podemos perceber expressões de confusão. Algumas inclusive verbalizam o desconforto.

Eu ouço, fico animado e tento explicar:

“Vocês estão recebendo uma quantidade grande de informação e executando as atividades sob uma nova forma de trabalhar no setor público. Essa nova forma funciona de um modo bem diferente da lógica que vocês estão acostumadas. Diante disso, a reação comum mais esperada e mais humana das pessoas é mesmo ficarem confusas.”

É praticamente impossível ter um entendimento completo sobre inovação. Workshops e programas de inovação servem para os indivíduos e grupos desenvolverem um novo modo de enxergar o próprio trabalho, empurrar as barreiras (algumas até imaginárias) e aumentar as habilidades para delinear problemas reais (do presente e do futuro), propondo assim soluções mais adequadas à sociedade atual.

Para cada participante é dada uma permissão para assumir responsabilidade e autonomia de tomar uma decisão. No entanto, a não-linearidade do processo de inovação gera confusão. Geralmente, uma pessoa confusa se ausenta da responsabilidade de tomar decisões e busca um caminho conhecido, seguro e sem riscos.

2. Inovar é arriscado

Inovar é arriscado, sabemos disso.

Imagine que você está em um jogo e precisa escolher o que fazer em cada um dos cenários.

Cenário A: Você prefere a certeza de perder R$100 ou uma aposta que dá 50% de chance de perder R$200 e 50% de não perder nada?

Cenário B: Você prefere a certeza de ganhar R$100 ou uma aposta que dá 50% de chance de ganhar R$200 e 50% de não ganhar nada?

Se você é parte de 90% das pessoas que jogou esse jogo, respondeu que faria a aposta no cenário A e não faria a aposta no cenário B.  Ambos os cenários tratam da nossa propensão ao risco.

As pessoas só assumem riscos quando vão perder alguma coisa. Daniel Kahneman e Amos Tversky dizem, em sua teoria da perspectiva, que as pessoas são propensas a arriscar quando há uma possibilidade de perda.

Para um servidor público, “perder alguma coisa” pode ser extremamente subjetivo. Na maioria dos casos, os mecanismos e incentivos de reconhecimento para inovação se apresentam na forma do Cenário B: se você não fizer nada, você ganha; se fizer, e errar, você perde. O serviço público está perdendo por não se arriscar, com a ilusão de que está ganhando.

Além dos mecanismos e incentivos, temos uma narrativa cruel com servidores públicos que desejam inovar e assumem riscos. As pessoas ainda entendem inovação como algo supérfluo (com razão em alguns casos), que deve ser feito a partir do momento em que tudo estiver funcionando perfeitamente. Trago uma verdade: esse dia não vai chegar.

3. Inovar é ilegal

“Inovar no setor público é ilegal, por definição.” Eu ouvi essa frase em 2015, de uma pessoa que tenho muito respeito e admiração. Ao longo dos anos, a frase colou como um mantra nas conversas sobre inovação no setor público.

A princípio provocativa, a frase pode ser uma armadilha perigosa, pois reforça uma postura engessada padrão de não buscar novas caminhos para o setor público. Além disso, contribui para consolidar a narrativa que mantém uma percepção negativa da sociedade sobre esse profissional: o servidor público é aquele que não fará nada além do previsto, não resolverá o meu problema, mesmo em circunstâncias em que poderia fazê-lo.

Hoje, quando escuto a frase, gosto de pensar nos “fora-da-lei”, insurgentes e inquietos que têm trabalhado forte para mudar a cara do setor público. São os “loucos” que mudam o mundo

Um inédito mais do mesmo

Seguimos contribuindo com essa comunidade de inovadores públicos, cada vez mais fortalecida. O desafio atualmente é de manter-se consistente em duas frentes: atrair novas pessoas para a cultura de inovação e avançar a agenda para os já “convertidos”, que querem mais resultados.

Temos que construir a capacidade de manter, ao mesmo tempo, duas ideias opostas na mente: a forma como o setor público opera e a forma como a inovação acontece. E, ainda assim, conservar a habilidade de funcionamento deste setor.

Se está arrumado, ordenado e explicado não é inovador, é certo e seguro. A inovação é confusa, arriscada e “ilegal”.

Que a inovação esteja conosco!


Photo by Alice Achterhof on Unsplash

Por André Tamura

Pai e Marido. Fundador e Diretor Executivo da WeGov. Empreendedor entusiasta da inovação no setor público e das transformações sociais. Estudou Administração de Empresas e Ciências Econômicas. Desde que trabalhou como operário de fábrica no Japão, tem evitado as “linhas de produção”, de produtos, de serviços e de pessoas. Em 2017, foi condecorado com a Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro.

Cel Luis Haroldo
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Coronel Luis Haroldo faz uma reflexão que vai da internet das coisas ao Robotic Process Automation (RPA).

No meu artigo anterior para a WeGov, chamei a atenção para as coisas que estão monitorando você a todos os momentos. Recentemente, através da identificação facial, vimos diversas prisões e o reconhecimento de pessoa desaparecida nas ruas. Em Florianópolis, como em outras cidades do Brasil, a identificação facial começa a ser utilizada de forma experimental. A automação de vigilância eletrônica, usando o videomonitoramento urbano, está trazendo resultados: substituindo o ser humano na tarefa de vigiar os monitores de vídeo vigilância.

A “coisa do seu lado” está cada vez mais presente, integrada a sistemas de inteligência e a ferramentas de big data. Em alguns casos, já está até integrada com tecnologias de inteligência artificial mais sofisticadas. Logo, falar de internet das coisas é falar de tecnologias de inteligência lendo, armazenando e processando para entrega de valores. Não há como separar “coisas” de inteligência.

Por dentro do Robotic Process Automation (RPA)

Enquanto as tecnologias de inteligência artificial amadurecem para uso exponencial, temos uma tecnologia que não é nova – vem sendo utilizada há muitos anos para automação de processos e tarefas – e voltou a ficar em evidência neste ano, principalmente, pelo amadurecimento tecnológico da sociedade. Vamos da internet das coisas ao Robotic Process Automation (RPA). Seguindo a provocação do artigo anterior, vou chamar esta tecnologia (e esse artigo) de “A coisa no seu lugar”.

RPA são sistemas que substituem você em tarefas repetitivas. Como aplicação disso, podemos automatizar um grande número de processos repetitivos feitos no Programa de Governo sem Papel do Estado de Santa Catarina, como, por exemplo, o recebimento e registro automático em sistemas de notas fiscais e processos eletrônicos.

Implementar software de RPA está longe de ser uma solução de implementação robótica de processos sem a presença humana, mas pode otimizar e tirar o ser humano de tarefas simples e repetitivas. Fazer logins, registrar notas fiscais, informações de planilhas e qualquer outra atividade que não exija análise humana, são os processos indicados para RPA. E pode ser feito, portanto, sem a implementação complexa de software de automação.

No Centro de Informática e Automação do Estado de Santa Catarina, a fim de entender e ver aplicações destas tecnologias no governo, estamos realizando provas de conceito com RPAs de mercado. As aplicações testadas visam uso em funções administrativas e automação de testes via simulação de usuários robóticos remotos. Essa última função é para análise e identificação de performance e gargalos em redes e sistemas.

A coisa no meu lugar?

Nem toda coisa, neste novo mundo, tem forma de câmeras, drones ou smartphones. Muitos robôs são invisíveis – integrados a plataformas de software ou em serviços de nuvem – e exercerão algum tipo de atividade antes realizada por humanos.

Da internet das coisas ao RPA, essas coisas estão liberando o ser humano das atividades simples e repetitivas, dando a chance para ele reinventar seu trabalho. E aí, você está fazendo o trabalho de robôs?

Photo by Andy Kelly on Unsplash

Os atores que fazem a inovação acontecer.

A pergunta “Quem inova o setor público?” pode nos limitar a pensar que alguém sozinho realizará essa tarefa. Isso não vai acontecer. Serão necessários múltiplos atores e uma capacidade de colaboração enorme. Ainda assim, essa pergunta é importante para entendermos quais são os papéis e as motivações centrais desses atores que fazem a inovação acontecer no setor público.

É necessário dizer que a inovação não é um lugar onde vamos chegar. Inovar deve ser uma prática diária para que servidores públicos trabalhem da melhor forma e entreguem os serviços que os cidadãos precisam. Inovar é uma necessidade básica para a instituição pública que pretende ser relevante neste século.

A inovação é como alimentar-se… Se você parar de comer, você morre. No entanto, comer mal pode trazer problemas. Dietas malucas, nem pensar.

Se a inovação é como a alimentação, o setor público pode considerar alguns “grupos de alimentos” para seguir a vida inovando. Cada grupo tem seus pontos prós e contras:

A. Grandes empresas de TI

As maiores inovações que conhecemos no último século estão nas TIC – tecnologias de informação e comunicação. São empresas de tecnologia, nacionais, multinacionais e estatais, que comandam e controlam grande parte das estruturas de hardware e software no setor público. Por terem bastante poder e influência, carregam grande capacidade de inovar e transformar o setor. Ao mesmo tempo, podem impedir mudanças significativas quando a inovação representar uma perda de mercado.

?? Prós: Inovação estrutural e tecnológica.

?? Contras: Decisões demoradas, grandes investimentos.


B. Consultorias tradicionais

Em uma época de mudanças constantes, as grandes consultorias podem contribuir muito com a compreensão do que está acontecendo no setor público e para onde se deve seguir. Uma boa consultoria pode permitir que a inovação aconteça sem que a máquina tenha que ficar parada e os riscos sejam altos demais. Em alguns casos, pode haver pouco espaço para co-criação genuína com as instituições.

?? Prós: Diagnósticos completos e definição de estratégias

?? Contras: Baixa replicabilidade e engajamento


C. Terceiro setor – Associações e Fundações Privadas

Historicamente, pioneiros no formato de prestação de serviços públicos finalísticos. Associações e fundações são fundamentais para inovação no setor público. Fundações de grandes empresas e alianças estratégicas entre os portadores de grandes fortunas, tem possibilitado a criação e execução de inovações positivas.

?? Prós: Alta escala, menor gasto público direto.

?? Contras: Alta segmentação e grupos de influência fechados.


D. Startups

Através da criação e uso de tecnologias e processos de trabalho modernos. As chamadas startups conquistaram um espaço relevante na inovação do setor público. Da “porta pra fora” e “da porta pra dentro”, soluções cada vez mais úteis, viáveis e desejáveis estão disponíveis para felicidade geral da nação.

?? Prós: Soluções avançadas de alto impacto.

?? Contras: Baixa capacidade de operar em modelos de negócios públicos.

Foto de Peter Bond no Unsplash

E. Consultores Individuais

Atuando como especialistas, alguns consultores são peças-chave para inovação no setor público. Alguns aparecem com frequência em projetos e costumam estar presentes em eventos relacionados. Muitos deles atuam e mais de uma das categorias apresentadas aqui no texto e podem até fazer parte do quadro de servidores públicos.

?? Prós: Alta flexibilidade para contratação.

?? Contras: Presença de aventureiros e oportunistas.


F. Empreendedores Públicos

Uma categoria de inovadores em ascensão. Aqui encontramos servidores públicos que lutam a batalha diária de inovar no setor público e em suas carreiras, especialmente nos últimos 5 anos, tiveram oportunidade de consolidar modelos de pensar, linguagens e métodos para fazer a inovação acontecer – vale dizer que a WeGov tem causado impactos positivos com esse grupo. Alguns servidores já são consultores ou formalizaram startups.

?? Prós: Imersos na realidade e próximos dos desafios.

?? Contras: São parte do desafio.


G. Movimentos de renovação política

Cada vez mais frequentes, esses grupos compostos por jovens bem orientados por técnicos e figuras influentes, têm conseguido resultados impactantes no campo da inovação política. Apresentando-se de forma suprapartidária, com agendas focadas em superar desafios complexos, surgem aqui novas formas de articulação política.

?? Prós: Influenciar a política.

?? Contras: Ser influenciado pela política.


H. Cidadãos

Somos todos nós, o tempo todo.Cada cidadão pode fazer sua parte para inovar, especialmente em seus comportamentos e no modo de pensar serviços públicos. Melhorar um país é trabalho de todos. Entender o setor público como um grande aliado para a inovação é fundamental. Lembrando que neste grupo, especialmente, estão todas as pessoas dos outros grupos, essa condição é inegociável.

?? Prós: Vida real. A razão de existir de todas as instituições públicas são os cidadãos

?? Contras: Distância dos decisores e descrença com as instituições.


Quem inova o setor público?

Cada grupo é responsável por uma parte dessa arte de inovar o setor público. As instituições devem equilibrar muito bem “as suas dietas” para que o “prato da inovação” seja completo e nutritivo. 

O custo da “dieta de um só grupo” e o pressuposto de que se pode ter um grupo protagonista de toda inovação é alto. Não podemos depositar todos os ovos na mesma cesta. Os diferentes interesses e origens podem revelar inovações holísticas mais poderosas e atender um público ainda maior.

Para nós, a inovação transformadora só acontecerá quando todos os grupos trabalharem de forma colaborativa, entregando o que possuem de melhor e trazendo suas limitações como um ponto de vista para enriquecer o processo.

Em uma dieta, é melhor comer de tudo, isso é sabedoria popular. Sorte das instituições públicas, pois o cardápio está aumentando.

Alimente-se bem, afinal, como diz o título de um famoso livro do início do século XXI: “Você é o que você come!”

Foto de Dan Gold no Unsplash

Por André Tamura

Pai e Marido. Fundador e Diretor Executivo da WeGov. Empreendedor entusiasta da inovação no setor público e das transformações sociais. Estudou Administração de Empresas e Ciências Econômicas. Desde que trabalhou como operário de fábrica no Japão, tem evitado as “linhas de produção”, de produtos, de serviços e de pessoas. Em 2017, foi condecorado com a Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro.

Heloisa Fischer
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Conheça a técnica de comunicação que está ganhando força no setor público de vários países.

O que é e como utilizar?

À medida que a vida digital avança, torna-se mais evidente a importância da linguagem escrita ser fácil de entender.

As telas diminuíram,  a atenção despencou, o comando de voz ganhou espaço. É questão de (pouco) tempo para a fala exceder o texto nas buscas do Google.

Neste cenário, a administração pública enfrenta mais um enorme desafio: equilibrar a complexidade tão própria de seus processos e de seus documentos com um estilo de escrever que seja direto e objetivo.

O setor público brasileiro mal se adapta às novas exigências da transformação digital e os tempos acelerados já demandam uma nova transformação, desta vez linguística.

É que, por aqui, as telas de celular pequenas e a atenção reduzida somam-se à alarmantemente baixa escolaridade da população. Dezenas de milhões de brasileiros têm acesso a informações básicas da cidadania prejudicado porque não conseguem entender os textos dos serviços públicos.

Só 12% da população brasileira entre 16 e 64 anos têm proficiência em leitura, dizem os dados mais recentes do INAF-Indicador de Alfabetismo Funcional. Ou seja, só 12% conseguem interpretar textos de maior complexidade como os escritos no “burocratês” tão característico de órgãos governamentais.

Daí a relevância da Linguagem Simples ou Clara, conhecida em inglês como “Plain Language”.

Afinal, o que é Linguagem Simples?

Trata-se de uma técnica de comunicação e de uma causa social com força em vários países, especialmente os de língua inglesa. O seu objetivo é tornar os textos mais fáceis de ler e entender.

Este tema, tão novo e tão urgente no Brasil,  vem ganhando relevância internacional desde os anos 1970. Em especial, nos Estados Unidos, Reino Unido, Suécia e Canadá.

A partir daquela década, grupos de servidores públicos, cidadãos e consumidores passaram a privilegiar estruturas textuais alternativas à linguagem burocrática típica das grandes organizações. Este corpo de conhecimento construído coletivamente gerou uma série de diretrizes de escrita e organização de informações com o nome de Linguagem Simples.

O movimento conquistou apoio de representantes dos três poderes que, por diferentes caminhos, produziram avanços sociais consideráveis. Como o Plain Writing Act (Lei da Redação Clara), em vigor desde 2011 nos EUA. Ou a simplificação de documentos públicos na Colômbia, que recentemente foi analisada em estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento, o BID. A política de “Lenguaje Claro” colombiana é prioridade da administração federal desde 2013.

No Brasil como esta questão repercute?

No setor público brasileiro, ainda são raras as iniciativas de Linguagem Simples, mas a discussão vem ganhando visibilidade. Em dezembro de 2018, organizei uma mesa sobre o tema no 3o Encontro Brasileiro de Governo Aberto, em São Paulo. Os demais integrantes da mesa e eu falamos para um auditório repleto de servidores e outros profissionais ligados à governança pública. O interesse foi grande.

Na Câmara de Vereadores de São Paulo, transita atualmente um projeto de lei que pretende instituir uma Política Municipal de Linguagem Simples. No âmbito estadual paulista, em 2016, o projeto SPUK de Governo Aberto publicou o Guia Orientações para Uso de Linguagem Clara.

Usar Linguagem Simples em documentos e comunicados traz benefícios muito concretos para o cidadão e para a máquina pública. Economiza  tempo e dinheiro, agiliza processos, aumenta produtividade e, principalmente, fortalece a confiança no setor público.

Lincon Shigaki
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Conversa com a líder e fundadora do The GovLab

Neste ano tive uma das conversas mais inspiradoras… entrevistei a Beth Noveck que lidera o GovLab – organização comprometida em transformar a maneira como se resolvem problemas públicos. A conversa me gerou algumas reflexões que compartilho abaixo:

1) O setor público precisa de novas ferramentas

Na maioria dos lugares, embora nem todos no mundo, nós estamos vendo um declínio na confiança nas instituições públicas. É fato que o Governo faz importantes e boas coisas para a sociedade. No entanto, o declínio de confiança demonstra que o setor público não está resolvendo tão bem os problemas como poderia. Os desafios que as democracias enfrentam são frutos de uma sociedade da informação que se vê diante de questões muito complexas e recentes. Tanto para essa sociedade quanto para o sistema democrático. Apesar disso, essa mesma sociedade foi capaz de produzir tecnologias que podem auxiliar o  desenvolvimento de políticas e serviços públicos adequados para atender à pluralidade social que o Governo precisa representar.

O GovLab tem trabalhado para auxiliar nesse desafio de governança. As tecnologias que o GovLab cita que podem auxiliar nesse processo e que, portanto, está desenvolvendo são:

  • Tecnologia de dados: O uso de big data, small data, open data, etc – irá ajudar na identificação de necessidades da população e monitorar a efetividade de políticas e serviços.
  • Tecnologia de inteligência coletiva: Irá criar mecanismos para entender as pessoas, aumentando a gama de comunicação e ferramentas de colaboração.

Incorporar essas tecnologias pode gerar um impacto profundo na maneira que os governos tomam decisões, tornando-a mais co-criativa/colaborativa, mais centrada no ser humano e engajando/envolvendo mais pessoas.

2) O setor público precisa de uma nova mentalidade

Em muitos casos, o que os cidadãos vivenciam – o que acontece na sua própria vida quando se trata de questões importantes como desemprego, saúde pública, imigração – são problemas complexos que exigem pessoas de diferentes disciplinas e setores para resolver. Por vezes, as necessidades do cidadão não correspondem com a estrutura do governo e seus programas.

Reflexões futuro setor público

Por isso, nas palavras da Beth: “É importante que o trabalho do setor público tenha como partida a experiência do cidadão ao invés de obrigações legais e definições burocráticas do órgão. Isso é uma grande mudança cultural”. Esse tema tem começado a ser disseminado pelo nome Human-Centred-Design, que consiste em projetar soluções a partir das necessidades das pessoas.

As pessoas devem ser o foco e o setor público precisa estar com uma mentalidade orientada à prestação de serviço. Resolver os problemas dos cidadãos deve unir servidores, instituições, dados e recursos – tangibilizando em serviços e políticas públicas.

3) O setor público precisa resolver problemas reais

A Beth trouxe uma reflexão muito profunda sobre medição de desempenho. Não basta saber quanto investimos ou quantas pessoas foram atendidas por um programa específico – estes, são indicadores “meios”. Precisamos começar a medir o quanto que os programas mudaram a vida das pessoas para melhor – que são os indicadores “finalísticos”.

Ela descreve que, geralmente, as pessoas no governo celebram ao lançarem uma iniciativa ou inaugurarem uma obra e consideram o trabalho concluído neste momento. De fato, é legítimo a celebração desde que a equipe tenha a consciência do impacto que a iniciativa irá gerar e saiba a diferença que trará para a vida dos cidadãos – o que nem sempre acontece, infelizmente.

O que mais me espanta nisso tudo é o nível de conhecimento que os formuladores de política deverão ter da realidade dos cidadãos. Saber o que é “a vida de alguém melhorando” é algo muito difícil de saber como medir e inexoravelmente exigirá um acompanhamento muito mais próximo das pessoas afetadas. Foi nesse momento que entendi a relevância do que ela chama de “Tecnologias de Inteligência Coletiva”. Será necessário criar mecanismos para identificar o que é o “impacto” para cada iniciativa e mensurar desempenho ao longo do tempo.

Para conseguir isso, será necessário ir além do “Human-Centred-Design”. Não basta considerar as necessidades das pessoas. Será preciso envolver as pessoas para entender o que é importante medir – abrindo para que eles participem da decisão. Além disso, continuar em contato com essas mesmas pessoas para avaliar se estamos efetivamente resolvendo os os problemas delas.

É usar a tecnologia como ferramenta para resolver os problemas da Humanidade.

Por Lincon Shigaki

Lincon é Facilitador de Aprendizado da WeGov. Formado em Administração na Universidade Federal de Santa Catarina. Trabalhou com consultoria em gestão no Movimento Empresa Júnior, onde foi Presidente da Ação Júnior e da Fejesc. Acredita que podemos viver em um país melhor, e não consegue se ver fora do processo de transformação dessa realidade.

Refletindo sobre as habilidades para o trabalho

Você já ouviu falar das habilidades “hard skills” e “soft skills”?

Há algum tempo, a OCDE publicou um material modelo sobre as habilidades-chave para inovar no setor público, recentemente o Apolitical também apontou para o tema, criando um “tracker” para avaliação das habilidades do futuro.

Afinal, quais são as habilidades para o trabalho dos servidores públicos? Quais habilidades possuem e quais precisam desenvolver? Devemos nos preocupar mais com o quanto são bons em fazer algo hoje, ou sobre como vão aprender mais rápido para o futuro próximo?

OCDE e Apolitical já estão nos ajudando a encontrar as respostas. Aqui nas próximas linhas, convido você para refletirmos um pouco sobre isso.

Hard skills e soft skills: As habilidades para o trabalho

De maneira geral, os últimos cem anos transformaram a estrutura daquilo que entendemos como trabalho produtivo. As habilidades da “nova era digital”, estão relacionadas à produção de conhecimento, não à produção física.

Definiram-se dois grandes conjuntos de habilidades: hard skills e soft skills.
As hard skills são as habilidades ensináveis ou fáceis de quantificar. Normalmente, você aprende em sala de aula, através de livros , artigos, materiais de treinamento ou trabalhando.

As soft skills, são habilidades subjetivas que são muito mais difíceis de quantificar. Também conhecidas como “habilidades pessoais” ou “habilidades interpessoais”, a forma como você se relaciona e interage com outras pessoas.

Se você já passou por uma entrevista de emprego, leu ou acompanhou uma “conversa de RH” sobre desenvolvimento e avaliação de desempenho, já está familiarizado com esses termos. Segundo o Linkedin, já existe uma lista das habilidades mais procuradas pelas organizações.

A linguagem aqui pode estar nos pregando uma peça, quando ouvimos hard (difícil), involuntariamente pensamos no oposto como sendo easy (fácil). É uma armadilha equivocada. Por exemplo, em seus trabalhos, OCDE e Apolitical, nem sequer citam as palavras hard skill e soft skill, como duas categorias, indicando que as chamadas novas habilidades não se enquadram apenas nesses dois grandes conjuntos.

Habilidades para o setor público

Teoricamente, as habilidades para o trabalho não se diferenciam entre setor público x setor privado. Profissionais qualificados para o tempo espaço em que atuam, devem entregar valor para suas organizações independente de estarem ou não no setor público.

A Marília Assis entrou para a WeGov, após anos de trabalho e entregas no setor público. Em seu último cargo, as habilidades dela em inovação e em governo foram fundamentais para a estruturação do LAB.ges. Hoje, na WeGov, ela segue utilizando as suas habilidades e, claro, aprendendo novas.

Quando acontece o contrário, os profissionais do setor privado que migram para o setor público, gostam de dizer: “Eu vim do mercado!”, como se isso os qualificasse automaticamente para entregar valor no setor público. Cuidado, um profissional com habilidades ultrapassadas pode atrapalhar o desenvolvimento das novas habilidades no setor público.

O grande desafio é aprender a aplicar as habilidades em contexto adequado e também saber como aprender. O fato é que as oportunidades de aprender novas habilidades são mais limitadas no setor público do que no setor privado. Os servidores ficam imersos em rotinas operacionais que ocupam a maior parte do tempo ou trabalham para “apagar incêndios” atendendo a convocações emergenciais inesperadas.

O setor público está trabalhando com isso há algum tempo através da criação de ambientes que permitam a aprendizagem e desenvolvimento de novas habilidades que entreguem resultados (individual e organizacional). Os laboratórios de inovação costumam experimentar, aprender e construir, construir aprendendo.

Habilidades que resolvam problemas

Ter uma habilidade não necessariamente se traduz em entregar resultados e resolver problemas, o contexto importa muito. Não faz sentido dizer que hoje é importante saber datilografar. Há algumas décadas isso era essencial e hoje está obsoleto, pois são outras tecnologias disponíveis. Por outro lado, as habilidades de saber ler, escrever e usar um dispositivo eletrônico não são “habilidades do futuro”, mas são grandes diferenciais, trazem vantagens e te ajudam a resolver muitos problemas.

Uma habilidade está ligada a saber fazer algo, você só aprende a fazer algo fazendo e isso exige muita prática. Nem sempre os anos de experiência significam que você tem as melhores habilidades. No exemplo da datilografia, ninguém mais fala que possui anos de experiência em datilografar. Inclusive, “aprender a aprender” já é uma habilidade necessária, com cursos exclusivos para isso. Saber identificar um problema, com boas perguntas é uma grande habilidade humana.

Um outro aspecto relevante é que nenhuma habilidade é algo que nascemos sabendo. Nem mesmo o talento, que muitos apontam como divino, faz sentido em um contexto de aprendizagem constante. Temos que quebrar o mito do talento nato.

“Em um mundo cada vez mais ubíquo em tecnologias e automações, cabe a nós, humanizá-las na arte de aplicar nossas habilidades em contextos que resolvam problemas e melhorem a vida das pessoas.”

ANDRÉ TAMURA

Hard ou Soft?

Há alguns anos, um maluco ousou considerar o hard e o soft como algo integral, que funcionasse conjuntamente em total sinergia. Por acaso, esse maluco fundou uma empresa, por acaso essa ideia teve que combater outras já estabelecidas, por acaso o conflito não fez com a ideia fosse abandonada. Essa empresa é a Apple e não por acaso é a mais valiosa do mundo.

Entre as hard skills e soft skills, não seja apenas hard ou soft; público ou privado. Seja integral e entregue o seu melhor.

Por André Tamura

Pai e Marido. Fundador e Diretor Executivo da WeGov. Empreendedor entusiasta da inovação no setor público e das transformações sociais. Estudou Administração de Empresas e Ciências Econômicas. Desde que trabalhou como operário de fábrica no Japão, tem evitado as “linhas de produção”, de produtos, de serviços e de pessoas. Em 2017, foi condecorado com a Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro.

Ana Camerano
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Qual é o seu perfil?

O Apolitical sintetizou as habilidades do servidor público do futuro! Os tópicos foram elaborados considerando os frameworks de competência dos governos no Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia, Quênia, Austrália Meridional e África do Sul e de organizações que incluem as Nações Unidas, a OCDE e o Nesta.  Qual delas você possui?

ADAPTÁVEL

Ambientes de formulação de políticas são frequentemente de alta pressão e imprevisíveis, de modo que a capacidade de se alternar facilmente entre diferentes responsabilidades é uma característica importante para servidores públicos. Como tal, a adaptação à mudança é um tema central para frameworks de competências governamentais por todo o mundo.

O framework Australiano descreve essa habilidade como a capacidade de ”orientar e implementar mudanças” – os servidores públicos têm de ser capazes de se planejar para o curto e longo-prazo. O governo Canadense nomeia essa habilidade de ”adaptabilidade”, e um de seus principais componentes é o de ajustar e perseverar perante contratempos.

EXPERIMENTAL

Ideias só podem ser melhoradas sistematicamente se os profissionais se sentirem à vontade pensando fora da caixa, tentando novas abordagens e ultrapassando barreiras.

”Nós sempre fizemos assim” não pode ser uma desculpa para políticas e entregas ruins quando o setor público é confrontado desafios complexos.

O potencial inovador do governo não pode ser desbloqueado sem uma mentalidade criativa e experimental. Isso significa buscar ativamente melhorar os serviços, promovendo novas ideias e assumindo riscos calculados.

CURIOSO/A

Servidores públicos devem, continuamente, procurar novas maneiras de melhorar serviços e produtos. Como tal, a procura de oportunidades para o desenvolvimento está incluída em vários frameworks incluindo os do Reino Unido e da ONU.

O Reino Unido chama essa competência de ”mudar e melhorar” e afirma que as equipes que são flexíveis e questionadoras vão liderar a ”cultura da inovação” dentro do serviço público. Essa competência é chamada de um ”compromisso com a aprendizagem contínua” no framework da ONU, que significa que os servidores públicos precisam estar atentos a novos desenvolvimentos e mostrar disposição em aprender novas habilidades.

PROATIVO/A

Um servidor público proativo é orientado para a ação, focado em resultados e tem o objetivo de traduzir a visão mais ampla do governo em políticas públicas e programas concretos.

Isso envolve manter-se atento às prioridades e ao desempenho oportuno, lidando com desafios de maneira responsiva e estabelecendo uma visão de futuro persuasiva.

Nesta descreveu essa competência como uma inclinação à ação e ao aprender fazendo. Para a Comissão de Serviço Público Australiano, um compromisso com a ação engloba determinação, motivação e orientação para resultados. Mostrar iniciativa e energia não apenas proporcionam melhores resultados, como também empoderam outros a fazer o mesmo.

PERSUASIVO/A

Quando servidores públicos têm de fornecer uma informação ao público, eles são frequentemente encarregados de tornar políticas públicas complexas em narrativas convincentes.

Elaborar histórias persuasivas e acrescentar criatividade à formulação de políticas frequentemente aparece em frameworks globais de competência. Por exemplo, no framework da ONU, essa competência é chamada de ”comunicação”: aos servidores públicos é indispensável falar eficazmente. A OCDE explica isso como ”explicando a mudança de maneira que constrói apoio”, ou storytelling.

Adaptar a sua entrega de informação baseando-se na audiência e na finalidade serão elementos-chave para adquirir esse conjunto de habilidades.

COOPERATIVO/A

Um consenso entre a comunidade de políticas globais é o de estar aberto à ideias de outros e facilitar resolução de problemas em grupo são fundamentais à função dos funcionários públicos.

O framework Queniano afirma que funcionários públicos precisam reunir diversos pontos de vista juntos de maneira a atingir objetivos os quais chamam de ”traço comportamental de gestão de equipes”. De forma parecida, o framework de competência do serviço público Australiano chama de ”cooperação e parcerias” e declara que servidores públicos têm promover  ambientes onde o trabalho em equipe é valorizado.

ALFABETIZADO/A EM DADOS

Os dados não podem ser uma reflexão tardia em uma era de transformação digital. Os servidores públicos só serão capazes de aproveitar o potencial da análise de dados se forem proficientes em habilidades de coleta, visualização e análise de dados.

A OCDE identifica a tomada de decisão baseada em dados como uma habilidade básica para a inovação no setor público e o Nesta a cita como uma competência sem a qual a solução de problemas públicos não pode ocorrer.  Investir em alfabetização de dados possibilitará organizações do setor público a acelerarem a exploração de novas ideias e soluções.

REFLEXIVO/A

Uma habilidade, uma atitude e um hábito, ser reflexivo é fundamental para o desenvolvimento de competências, melhoria de ações e aprendizagem com os resultados.

Para o Nesta, o processo ”refletir criticamente sobre o processo e resultados” conduz a melhores soluções e experimentações de problemas públicos.

Para ser completo e eficaz, o serviço público como um todo, e os indivíduos dentro dele, devem ter a habilidade de refletir sobre suas capacidades, sistemas e visão.

QUAL É O SEU PERFIL?

Tracker de Habilidades do Futuro: Uma ferramenta em inglês de auto-avaliação para servidores públicos

Projetada para servidores públicos atarefados, o Rastreador de Habilidades do Futuro do Apolitical é uma ferramenta rápida e fácil para que você possa descobrir quais habilidades e competências são pontos fortes – e quais você deve focar para o desenvolvimento da sua carreira se tornar à prova do futuro.

Ao fazer o breve teste, você receberá pontuações em oito competências principais, além de links para recursos que você descobrirá úteis para o desenvolvimento futuro. Essas pontuações são confidenciais. Você também recebe um dos doze ”tipos de personalidade” – uma maneira divertida de se comparar com os colegas.

*Você deve levar de 5 a 10 minutos para completar o quiz.

O rastreador é fundamentado em uma pesquisa conduzida pelo Apolitical sobre frameworks de competência para governo, desde a Nova Zelândia à OCDE. Primeiro, eles identificaram as competências comuns para diferentes governos, para isolar as mais centrais ao serviço público.

Então, foram isolados oito conjuntos comuns de habilidades importantes não apenas agora, mas que provavelmente aumentarão em importância ao longo do tempo, à medida em que o governo é forçado a se adaptar à rápida transformação da sociedade e da tecnologia.  

👉🏻 Membros Apolitical: Iniciar o Tracker

👉🏻 Não-Membros: Iniciar o Tracker

*O Rastreador de Habilidades do Futuro é exclusivo a servidores públicos e decisores políticos. Sendo assim, está disponível apenas para membros verificados pelo Apolitical.

*traduzido por WeGov. Originalmente publicado por nossos parceiros do Apolitical.

Photo by Marvin Ronsdorf on Unsplash
https://apolitical.co/solution_article/the-future-skills-tracker/

Por Ana Camerano

Ana é formada em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Trabalhou no 3º setor como diretora de projetos sociais na cidade de Florianópolis. Tem experiência de voluntariado e estágio em países da América Latina e acredita que temos muito a aprender com os nossos vizinhos. Responsável por parcerias e relacionamento com o cliente, encontrou na WeGov uma maneira de impactar positivamente a sociedade através da co-produção e colaboração no setor público.

WeGov
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Cases selecionados para o 8º Redes WeGov

A inovação no setor público tem o poder de causar impacto em escala e transformar a vida dos cidadãos. E, mesmo com o desafio que sempre vem junto da prática de inovar, muitos times buscam inspiração para criar projetos e iniciativas dentro de suas instituições. Por isso, iluminar as boas práticas é essencial! O setor público tem acolhido cada vez mais ações incríveis, que têm gerado resultados poderosos e impactado de muitas formas a gestão pública no Brasil.
Pensando nisso, no começo deste ano lançamos uma chamada para inscrição de projetos na Feira de Cases do 8º Redes WeGov, evento dedicado à comunicação e tecnologia no setor público.

No Redes, teremos um espaço para profissionais do setor público compartilharem histórias, práticas e experiências de sucesso relacionados à comunicação, tecnologia ou inovação em suas instituições. No total, foram 26 projetos do Brasil inteiro inscritos para a Feira de Cases do 8º Redes WeGov, dos quais 10 foram selecionados para apresentar suas iniciativas. Entre os 10, há representantes dos três poderes em todas as esferas de governo, contemplando 5 estados brasileiros além de órgãos nacionais.

Vamos conhecer um pouco mais sobre cada um deles pra ter um gostinho do que será a feira do 8º Redes?

Os cases

1 – A AGU Advocacia-Geral da União criou a iniciativa “Conversa com a AGU”, com o intuito de trazer às notícias de teor jurídico um tom mais acessível e prático para o cidadão. O projeto consiste em vídeos curtos, de um a dois minutos, que são gravados no formato de selfie e divulgados nas redes sociais do órgão falando sobre as iniciativas da AGU. Eles têm tido uma boa aceitação do público e conseguiram criar uma proximidade e conscientização maior com relação à atuação do órgão em temas que são vistos como complexos.

2 – A Agência Nacional de Águas (ANA) resolveu comemorar o Dia Mundial da Água de 2019 promovendo a conscientização da sociedade sobre o cuidado com esse recurso. Junto com a “Banda do Seu Pereira”, a ANA incentivou os seus seguidores a produzirem conteúdos dos mais diversos (desenhos, vídeos, músicas…) para a campanha #AÁguaÉUmaSó. A ideia era mostrar para as redes das formas mais diversas possíveis, que todos somos diretamente responsáveis pelo destino das águas no Brasil.

3 – A Assembleia Legislativa Do Paraná teve a ideia de criar o aplicativo “Agora é Lei no Paraná”, com o intuito de democratizar o acesso às leis estaduais e de interesse do consumidor! O app conta com mais de 270 leis, apresentadas por meio de ilustrações e descritivos simples. Cada vez mais pessoas estão usando essa ferramenta que tem aproximado muito a ALEP dos cidadãos paranaenses.

Feira de Cases 8º Redes WeGov

4 – A Prefeitura de Balneário Camboriú inovou com o “Digital PMBC”, um sistema de monitoramento que acompanha em tempo real todas as menções à prefeitura da cidade, as filtra e classifica, gerando relatórios semanais. O projeto tem sido utilizado na tomada de decisão por parte da administração municipal e ajudado a melhorar as estratégias de comunicação da cidade e a capacidade de resposta em tempo real.

5 – O projeto selecionado da Justiça Federal no RN, foi a campanha “Doar Sangue é gesto de amor, ato pela vida”. Com diversas ações focadas em conscientizar sobre a importância de doar sangue, a ação engajou um grande número de colaboradores da instituição e público externo, impactando diretamente mais de 2.000 pessoas com as doações! Não havia a cultura de doadores de sangue entre os servidores da JFRN e a campanha conseguiu, além das doações no período específico, gerar o interesse de outros potenciais doadores.

6 – Já o Governo do Rio Grande do Sul, fez uma campanha de engajamento para doação de sangue que viralizou nas redes sociais. Usando referências da cultura pop e com muito humor, a ideia era mostrar que várias coisas no dia a dia são bem mais dolorosas que doar sangue. Através dessa abordagem super leve, a campanha foi compartilhada a ponto de alcançar mais de 5 milhões de pessoas apenas pelo post oficial, fora os reposts feitos por páginas de grande alcance no Facebook.

Feira de Cases 8º Redes WeGov

7 – A Prefeitura de Palhoça também estará apresentando seu projeto de sucesso! Com a implementação de uma plataforma de gestão pública, a prefeitura digitalizou seus processos internos, o que possibilitou, além de otimizar a rotina de mais de 1.200 colaboradores e economizar cerca de R$180.000,00, poupar o equivalente a 83 árvores ao dia.

8 – Partindo da ideia de valorizar e reconhecer mais os seus servidores e humanizar a instituição perante a sociedade, o Tribunal de Contas do Mato Grosso criou o “Além do olhar: Relatos e trajetórias dos servidores e colaboradores do Tribunal de Contas de Mato Grosso”. A ideia de escrever perfis dos servidores e colaboradores do TCE de Mato Grosso ganhou campanhas nas mídias sociais e, posteriormente, tornou-se um livro digital, que teve mais de 300 downloads!

9 – Para mobilizar o eleitor a fazer o recadastramento biométrico em Belém do Pará, a Assessoria de Comunicação do Tribunal Regional Eleitoral do Pará desenvolveu vídeos institucionais com personagens emblemáticos (Homem Aranha, Mulher Maravilha, Mascotes dos principais times de futebol) e personalidades regionais. No roteiro, os personagens passavam pelo recadastramento, mostrando que o processo era rápido, simples e essencial.

Feira de Cases 8º Redes WeGov

10 – Já o Tribunal de Contas da União – TCU criou o Zello, o Chatbot do TCU! O Zello é um robô com inteligência artificial que fica no Twitter, com o objetivo de facilitar o contato entre os cidadãos e o órgão de prestação de contas auxiliando o acesso à lista de candidatos com contas declaradas como irregulares. A ideia é aproximar o eleitor de informações que podem ser de difícil acesso e aumentar a transparência da campanha eleitoral.

Sobre a feira

Os 10 projetos serão avaliados pelo público do evento e os seis mais votados serão anunciados como finalistas ao final do dia 25. O time da WeGov irá escolher os três primeiros colocados, que serão anunciados no final do evento, no dia 26/04.

Cada case de sucesso tem muito mais a compartilhar sobre comunicação, inovação ou uso de tecnologia no setor público! Para a WeGov, é muito gratificante ver tanta coisa boa acontecendo e ter a oportunidade de facilitar esse contato entre quem precisa de inspiração e quem tem experiências bem sucedidas.

Para mais informações sobre o 8º Redes WeGov e inscrições: http://bit.ly/8-Redes

Por WeGov

Somos um espaço de aprendizado para fazer acontecer a inovação no setor público.