“Desculpa, mas com ele não dá pra conversar”

Quantas pessoas você bloqueou nas suas redes sociais durante as últimas eleições? Você já saiu de algum grupo do WhatsApp porque não deu conta de ler tanta coisa que considerou “absurda”?

Não é fácil. Eu sei. Tem muita gente por aí que agarra visões políticas, ideológicas ou religiosas com unhas e dentes e torna praticamente impossível conversar com elas.

“Ah, agora você vai me dizer que essas pessoas têm as mesmas necessidades que eu e que tenho que aplicar a CNV com elas???” – Bem, acho que você leu meus pensamentos… Mas calma! Vou explicar isso melhor.

Quando a gente entende de verdade que todos os seres humanos (todos mesmo! de qualquer gênero, idade, nacionalidade e até de qualquer partido político!) tem as mesmas necessidades que nós, tudo fica mais fácil. 

Pode parecer mentira, mas, no fundo, a pessoa com quem você discorda também está tentando ser feliz e também quer ter saúde, amigos, amor e não sofrer.

Recomendo fortemente que conheça o trabalho do escritor Alex Castro. Para ter um “aperitivo” do seu pensamento dele, sugiro o Guia Pessoal para Conversas Políticas, criado em 2018, mas ainda extremamente atual.

E você sabia que dá para discordar de alguém com empatia? Não, não estou falando no “é melhor ser feliz do que ter razão”. Estou falando de realmente se esforçar para entender o ponto de visto do outro, para só depois ter certeza que você não concorda com ele e expressar a sua visão com empatia e assertividade.

Já falamos sobre escuta em nossa aula 2. E olha ela aqui outra vez?

Pra discordar com empatia, é preciso, primeiro, criar um espaço para que a pessoa possa se manifestar. Rosenberg chama isso de “escuta radical”, que é a tentativa de nos esvaziarmos dos preconceitos e ouvir o outro sem interrompê-lo. 

 “Blá. Blá. Blá. Eu até poderia escutar, mas não estou disposto a fazer isso com quem votou no Sicrano” – Não, você não é obrigado. Mas você deveria.

Isso porque conflitos são verdadeiros combustíveis para o nosso crescimento e para a nossa capacidade de inovar.

“Ah, vá! O curso todo é sobre como evitar conflitos e agora você vem dizer que brigar é positivo?”

Sim! Se todos pensássemos da mesma forma, manteríamos sempre o “status quo” e dificilmente teríamos progresso em nossa sociedade. 

O filósofo Mário Sérgio Cortella diz que o conflito é criativo, uma forma de movimento e nós só avançamos quando alguém olha para algo de forma diferente. Em seu livro “Qual a tua obra? Inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética”, ele fala sobre a diferença entre conflito e confronto. Segundo ele, conflitos são apenas divergências de postura ou de escolhas, enquanto confrontos buscam a anulação do outro e a imposição de ‘verdades’. 

“Conflitos são inerentes à condição humana e são usuais em comunidades de vida. Em uma sociedade democrática, o pensamento divergente não deve ser excluído e nem escolhido como único. A sociedade brasileira precisa ganhar gosto pelo conflito, pela convivência inteligente e recusar o confronto desnecessário”

MÁRIO SÉRGIO CORTELLA

(Fonte da citação: Entrevista dada à CNN em maio de 2020).