André Tamura
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Inovação orientada pelo design. Desde soluções simples até a formação de políticas públicas.

Reduzir o orçamento significa inovação no governo e é vital para que os serviços públicos tornem-se mais eficazes melhorando a experiência dos usuários.
Para fazer uma diferença real nos serviços prestados, esta inovação tem que começar com as necessidades dos cidadãos. Este é um princípio que se aplica em todas as áreas para renovação do setor público, incluindo a governança e políticas públicas.
Estamos testemunhando uma série de tendências encorajadoras nesta área:
Projetos piloto que demonstram como métodos de design pode revigorar serviços públicos;
Os funcionários públicos estão sendo treinados em design thinking;
Designers (gerentes de projeto) estão sendo contratados para melhorar a tomada de decisão em órgãos públicos;
Unidades de inovação multidisciplinares sendo estabelecidas no coração do governo;
O surgimento do design como um método inclusivo para o desenvolvimento de políticas públicas.
Um conjunto crescente de evidências demonstram que a inovação orientada para o design pode resultar em ganhos de eficiência significativos, redução de riscos e um forte retorno sobre o investimento para o setor público.
Apesar de ainda não ter reunido todas as provas, estudos de caso presentes sugerem que, da mesma forma que retornos maiores são alcançados pelas empresas através do uso da concepção estratégica, o impacto para o setor público também é maior quando o design é integrado a uma estratégia.

Public Sector Design Ladder

A Public Sector Design Ladder é uma ferramenta de diagnóstico para os orgãos públicos trabalharem seu nível de uso do design e definir um roteiro para progredir.
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Para demonstrar como o impacto do projeto pode mudar estes diferentes níveis, os exemplos de cada etapa estão listados abaixo. Os estudos de caso completos podem ser lidos no relatório do Design for Public Good.

Passo 1: Design para problemas discretos

O projeto The Good Kitchen veio para repensar serviços de alimentação para os idosos no Município Holstebro, na Dinamarca, onde 60% das pessoas tiveram má nutrição. A implementação de um projeto de intervenção resultou em um aumento de 22% na satisfação do cliente e aumento de 78% nas vendas de refeições saudáveis.
O Make It Work é um projeto para o Conselho Municipal de Sunderland no Reino Unido focado em inserir os desempregados no mercado trabalho. Esta era uma cidade onde 26% da população ativa estava fora do trabalho e custando ao governo milhões de libras em benefícios. Depois de uma intervenção pelo design de £180.000 (€240.000), 275 pessoas encontraram trabalho, reduzindo o custo de ter um indivíduo de volta ao trabalho a partir de £62.000 (€83.000) para menos de £5.000 (€7.000) – uma economia de custo de 90% .

Passo 2: O design como capacidade

Um exemplo na etapa dois da escada seriam os Housing Option Services fornecido pelo Conselho de Lewisham em Londres. Em 2010, confrontado com subidas desafiadoras na demanda e reduções no orçamento, Lewisham transformou-se em Design Conselho para tentar uma abordagem diferente. Um novo serviço foi implementado como os casos acima, mas o objetivo principal era trazer uma mudança cultural no âmbito do Conselho para que os métodos de projeto virassem parte da prática normal de trabalho. A partir de um investimento inicial de £7.000 (€9.000) na formação, racionalização de £368.000 (€492.000) foram calculados.

Passo 3: O design para a política

Em toda a Europa estamos vendo um número crescente de designers, nas autarquias locais, nomeadamente em Lahti (Finlândia), Sainte-Étienne (França), Dublin (Irlanda), Barcelona (Espanha) e Kent, Shropshire e Monmouth (UK). No coração do governo, nós também estamos vendo o surgimento de unidades multidisciplinares de inovação utilizando design – alguns dos melhores exemplos incluem: MindLab (Dinamarca), Helsinki Design Lab (2009-2013), Experio Lab (Suécia) e o Government Digital Service and Cabinet Office Policy Lab (UK).
laboratorios-inovacao-wegov
Estas iniciativas representam a etapa três na escada, onde as abordagens do design são integradas na alta administração do governo. Por exemplo, o GOV.UK doo Reino Unido, iniciativa implementada pelo Government Digital Service (GDS ) , agrupou 350 sites que estavam separados para proporcionar uma melhor experiência digital para os cidadãos. Substituindo os dois principais sites de apoio do governo já economizou £55-70m (€74-94m) e a poupança anual estimada de uma mudança para o digital é de aproximadamente £1,7 bilhões (€2,3 bilhões). Dentro dessas unidades, o design também está sendo testado como um método para, inclusive, a formulação de políticas com foco no cidadão.
Nos próximos anos, prevemos que as autoridades públicas irão desenvolver suas capacidades internas para a inovação orientada pelo design através da formação de pessoal em Design Thinking, empregando gerentes de projeto, a criação de unidades de inovação multidisciplinares e adotando o design como um método centrado no usuário para a formulação de políticas inclusivas.
VIA: Design for Europe

Por André Tamura

Pai e Marido. Fundador e Diretor Executivo da WeGov. Empreendedor entusiasta da inovação no setor público e das transformações sociais. Estudou Administração de Empresas e Ciências Econômicas. Desde que trabalhou como operário de fábrica no Japão, tem evitado as “linhas de produção”, de produtos, de serviços e de pessoas. Em 2017, foi condecorado com a Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro.

Gabriela Tamura
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Compartilhamento interinstitucional de Serviços Públicos

O conceito de órgãos públicos que prestam serviços um ao outro não é nada novo, mas não acontece tão frequentemente quanto poderia. Sabichões da política, da mídia, agentes e gestores públicos concordam que o conceito faz sentido.
Uma organização pública cria algo, e compartilha essa experiência com outro órgão público, a um custo que fornece algumas economias de tempo e dinheiro. É mais eficiente, rápido e todos ficam felizes.

Ambiente fértil para G2G

Para o G2G ser viável não pode haver obstáculos políticos e guerras territoriais. Não pode haver desafios de governança. O viés do não inventado aqui também deve estar de fora das instituições que querem co-produzir serviços públicos em parceria.
Os serviços partilhados funcionam melhor quando são construídos com grandes relacionamentos profissionais. Essas relações podem ser entre os gestores das organizações envolvidas, ou entre o pessoal na linha de frente.
Uma das partes não pode estar em posição superior. Os envolvidos devem ser colegas que compartilham a ideia do interesse público antes de tudo e assim procuram maneiras criativas e a um custo menor para resolver questões comuns. A partir disso, então é só uma questão de determinar como o modelo de prestação de serviço funcionará, e se faz sentido para todos os envolvidos.

Como começar

O compartilhamento começa durante um encontro entre duas pessoas de instituições diferentes, mas com funções parecidas que estejam trabalhando em projetos com escopos semelhantes. Pense em quantos projetos parecidos o Governo possui? E se ao invés de cada um com seu projeto nós juntássemos forças para evitar o retrabalho, para aprender uns com os outros evitando erros e potenciando as forças?

E a WeGov com isso?

Somos mais do que uma empresa que organiza cursos e eventos para o setor público. Somos um espaço colaborativo de aprendizado em governo amparada pelo conceito Learning by Doing (Aprender fazendo). As oficinas e eventos que organizamos possuem exclusivamente as premissas:
1) empoderar os agentes públicos;
2) iluminar ideias e ações que possam ser replicadas;
3) promover a aproximação interinstitucional entre agentes públicos das 3 esferas e dos 3 poderes.
Esse conjunto de premissas existe justamente para facilitar o G2G na prática.

“Minha cidade tem uma equipe de GIS premiada, que começou a fornecer serviços de consultoria de GIS para outras cidades. Nosso primeiro cliente foi a cidade de Yountville, Califórnia, um paraíso.
Tudo começou com conversas entre os líderes da cidade que se conhecem bem, e cresceu a partir daí. Nossa equipe teve a honra de servir como parte da equipe de Yountville, e estamos gerando receita para compensar os nossos próprios custos do programa GIS. Esperamos construir sobre este modelo e trabalhar com outras cidades e agências nos próximos anos para expandir o uso de GIS.
Compartilhamento de serviços entre órgãos públicos funciona quando as pessoas nessas agências têm um relacionamento verdadeiro. Mesmo com o governo como o cliente, ainda é sobre as pessoas, e como eles funcionam juntos.”
Lari Sasson – GovLoop

G2G no Brasil?

Você trabalha em algum projeto interinstitucional que utiliza o conceito G2G? Conte para nós.
Inspirado no texto de Lari Sasson no GovLoop

Por Gabriela Tamura

Fundadora e Diretora de Negócios da WeGov. Administradora Pública graduada pela Universidade do Estado de Santa Catarina, Pós-graduada em Gestão Pública pela Universidade Aberta do Brasil. Resiliente de plantão começou seu relacionamento com o setor público há 12 anos. Conhece bem a realidade do governo e resolveu ajudar.
Foi agraciada com a medalha do Exército Brasileiro em função dos serviços prestados à Nação pela WeGov.

André Tamura
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A busca pela re-invenção da roda como barreira para inovação

Constantemente temos contato com projetos, práticas e ideias inovadoras. Procuramos – na medida do possível – explorar, divulgar e “iluminar” algumas delas, na expectativa que sejam praticadas e replicadas por toda a administração pública, em suas três esferas e poderes.
Não somos proprietários dessas ideias e tampouco queremos atuar como uma catraca (pedágio) para que sejam implantadas nas instituições.
Algumas resistências para que as ideias não aconteçam são bem conhecidas: as dificuldades burocráticas, falta de recursos, incapacidade de pessoal e etc. Porém, existe uma outra espécie de barreira pouco explorada que também é prejudicial à inovação, é esta barreira que vou desenvolver nas próximas linhas.

O viés do “não inventado aqui”

*Viés cognitivo é a tendência humana de cometer erros sistemáticos em certas circunstâncias baseados em fatores cognitivos ao invés de evidências.*
A lentidão em adotar ideias inovadoras valiosas (já existentes e praticadas) em algumas instituições, é algo curioso e inexplicável. Essa “forma de burrice” não se limita a nenhum governo específico, esfera ou poder. A inovação não acontece, simplesmente pois “não foi inventada aqui”, nada mais.
Considere que estamos partindo de um pressuposto em que fatores importantíssimos como tecnologia e trabalho estão disponíveis e acessíveis. Mesmo que, em uma observação aprofundada possam estar relacionadas ilicitudes e desvios de conduta(corrupção e favorecimentos de contratos) para que as ideias não aconteçam, não vamos considerar estes elementos na nossa história:

Um novo sistema de gestão

Olá Sr.______ (coloque aqui um nome e um cargo). Você conhece essa solução em que a população auxilia na gestão da sua cidade?
Hmmm, não conheço mas já ouvi falar de algo parecido…
Então, é bem simples de utilizar e a população vai gostar bastante de saber que sua instituição aderiu a plataforma.
Que ótimo (aqui começa o viés)! Vou marcar uma reunião com a área responsável e vamos criar um departamento para desenvolver este projeto (como se não estivesse pronto).
Mas Senhor, o projeto está pronto é só assinar.
Nada disso, temos que dar a “cara da instituição”, vamos nomear uma equipe e eles vão desenvolver algo semelhante, mas a nossa solução vai ser para a população auxiliar na gestão da cidade!
Exatamente o que eu disse no começo Sr… Temos isso pronto para vocês, outras instituições já estão fazendo desse jeito.
Não, é diferente…Obrigado e parabéns pelo trabalho, qualquer coisa entramos em contato. Quando lançarmos a nossa vocês podem ser nossos parceiros, certo?

Qualquer solução, desde que seja a minha

O viés do “não inventado aqui” é pessoal, porém acaba maculando as instituições. Uma maneira de entender o forte apego às próprias crenças, falas, processos e práticas é monitorando o fenômeno dos acrônimos nas instituições. Eles proporcionam a sensação de conhecimento secreto e exclusivo, uma linguagem cifrada única e importante que protege a entrada de outras ideias no círculo fechado de quem está dentro.
Repare em sua instituição (e nas outras) a quantidade de siglas em projetos e departamentos que poderiam certamente trabalhar em conjunto, facilitando a gestão do conhecimento e a inovação. A busca acaba sendo pela autoria e não pela solução real dos problemas.

A solução é compartilhar ao extremo

Em tempos passados quando poucos detinham acesso à informação, até poderia fazer sentido preservá-la na busca pela invenção da roda. Hoje, claramente isso é prejudicial (o debate de patentes médicas ilustra bem esse ponto) especialmente quando falamos de governo e bens públicos, pois somos nós que financiamos o ego dos gestores que sonham em re-inventar a roda. Todo mundo quer ser “o pai da criança bonita”.
Para estimular a inovação até grandes empresários estão abrindo suas patentes. Ao compartilhar, podemos acelerar o processo de criação e alcançar soluções novas e melhores. Vale lembrar que algumas instituições públicas fazem questão de convidar outras para conhecerem seus projetos e compartilhar conhecimento com as outras, e curiosamente são essas instituições que são vistas como modernas e inovadoras.

Por André Tamura

Pai e Marido. Fundador e Diretor Executivo da WeGov. Empreendedor entusiasta da inovação no setor público e das transformações sociais. Estudou Administração de Empresas e Ciências Econômicas. Desde que trabalhou como operário de fábrica no Japão, tem evitado as “linhas de produção”, de produtos, de serviços e de pessoas. Em 2017, foi condecorado com a Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro.

Gabriela Tamura
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Resumo do capítulo 6 do eBook "Dá pra fazer", e entrevista com Isabel de Meiroz Dias

O livro “Dá pra fazer” é um conjunto de relatos experimentais dos membros da equipe da Assessoria de Inovação em Governo (iGovSP) sobre inovação na gestão pública. O livro orienta os gestores públicos sobre o tema, desde a fundamentação e motivos para inovar em governo até a apresentação de métodos e alternativas para iniciar o processo de mudança no setor público.

Práticas de inovação em Gestão Pública

O capítulo detalha uma série de abordagens, ferramentas, casos e perspectivas sobre e para a inovação, sem a pretensão de ser uma lista exaustiva, mas sim uma ilustração de que a inovação já está acontecendo, hoje, em um governo perto de você.
Isabel inicia o capítulo com a reflexão de que no setor público o que impera é a escassez, o servidor está sempre com a sensação de que não consegue nem entregar o “feijão com o arroz”… como então podemos inovar em um cenário como este? Não deveríamos deixar a inovação para o setor privado que possui mais recursos e agilidade?
Para a autora é justamente em um cenário de limitação de recursos e de demandas crescentes que a inovação se torna mais fundamental: a verdadeira necessidade gera a verdadeira criatividade.
Existem diferentes tipos de inovação, desde melhorias contínuas até quebras radicais de paradigmas. Isabel acredita que, no dia-a-dia, inovação significa melhorar como trabalhamos, e gerar pequenos “milagres” diários, ao entregar muito com poucos recursos. Ela apresenta alguns exemplos que mostram que a inovação é possível:

Redes informais de inovação e a importância dos orquestradores

A primeira ferramenta na caixa do gestor inovador deve ser o grupo de organizações e indivíduos na sua área de atuação, espalhados pelo Brasil e pelo mundo, que estejam liderando o debate sobre as questões relevantes para o seu serviço. Publicamos anteriormente um resumo sobre o capítulo que Ana Neves descreveu estas redes sociais, e as ferramentas que as apoiam.
A autora cita algumas maneiras que os governos possuem de estimular a criação destas redes, como no Reino Unido (agência de fomento, como a Nesta; think tanks como a IDeA – Improvement and Development Agency e um modelo que reúne os dois anteriores e é um movimento autogerido, composto por um conjunto de iniciativas que têm como características principais o uso intenso de mídias sociais, a ausência de hierarquias e a participação 100% aberta e voluntária).

Gestão de projetos ágeis

A autora afirma que outra ferramenta fundamental para o gestor inovador é uma metodologia de gestão de projetos. Sem elas, não há como garantir que a inovação será entregue dentro dos requisitos definidos, assim como prazo, qualidade, e custo.
A metodologia de gestão de projetos é conhecida, mas a ágil é fundamental para que os indivíduos sem experiência nas metodologias de gestão de projetos convencionais possam aprender rapidamente tornando o trabalho em equipe mais transparente e produtivo.
Para a autora a experiência em gestão de projetos ágeis trouxe uma série de aprendizados, tais como: ter entregas concretas a cada fim de ciclo; quebrar a entrega em tarefas e saber quem está fazendo o quê e quando; ter lista de produtos; post its ajudam e deixam o processo mais visual, facilitando o compartilhamento de tarefas e incentivando a pró-atividade.

Governança de projetos, governança de TI e o papel das rotinas

Intuitivamente, criatividade e inovação estão associadas à informalidade, espontaneidade, ausência de regras. A autora concorda com essa visão.
Entretanto, ela ressalva que é necessário um equilíbrio. Ainda que a informalidade seja fundamental para que novas conexões sejam feitas, e para que ideias germinem, Isabel não acredita ser possível que inovações floresçam e frutifiquem sem uma infraestrutura ao seu redor, que garanta que os nutrientes, ar e água cheguem na medida e hora certa para que a sementinha se transforme em árvore frondosa.
É neste sentido que enxergo a grande importância de rotinas formais, isto é, processos, que deem o compasso, coerência e certo grau de previsibilidade ao trabalho, e que sejam pontos de controle para garantir que os passos importantes estão sendo dados e reconhecidos, além de atuar como balizas segundo as quais os times avaliam seus trabalhos.

Gestão de desempenho

A gestão de desempenho é a utilização de indicadores para apoiar as decisões de gestores referente à entrega dos serviços pelos quais são responsáveis e quando bem utilizada pode ser uma ferramenta muito útil nas mãos dos gestores inovadores.
Com base nos ensinamentos da Stacey, Isabel desenvolveu um roteiro em quatro etapas para guiar o processo de criação de indicadores de desempenho:
O que QUEREMOS medir; Qual a EVIDÊNCIA; COMO iremos medir; Para que iremos USAR;

Metas

A autora afirma que os indicadores não servem apenas para os serviços prestados diretamente pelo governo, mas também para o caso de fornecedores. Eles devem cumprir o estabelecido em contratos, mas é preciso que metas sejam continuamente revistas e adequadas no dia a dia dos serviços.
Por estes motivos é que indicadores de desempenho tendem a funcionar melhor quando são desenvolvidos pela própria área responsável por entregar os serviços, em conjunto com fornecedores, além de acompanhados e revistos periodicamente.

Participação

Inovação não é um esporte individual. Um gestor criativo pode até inventar mil maneiras de melhorar um serviço, mas só envolvendo os demais interessados é possível colocar em prática uma inovação que faça diferença. Portanto acredito que as ferramentas mais importantes na caixa do gestor inovador são aquelas que incentivam a participação, facilitando um governo aberto.
A autora afirma que as iniciativas de engajamento ainda são exceção, mas que há luzes no fim do túnel. O Brasil, por exemplo, é referência mundial em orçamento participativo, e a experiência pioneira de Porto Alegre hoje já se expande para um grande número de cidades brasileiras. Outro caso nacional importante é o da consulta pública para o marco civil da internet. Ou seja, o engajamento é possível, e o digital apoia, mas o mais importante é o desejo e a ação de envolver outras pessoas na tomada de decisão e no desenho de serviços.

Participação começa em casa

Para a maior parte das organizações há ainda um longuíssimo caminho para se chegar a uma cultura verdadeiramente colaborativa. Ainda assim, mesmo em uma estrutura quadradinha dá para inserir singelos eventos de colaboração, que ajudem a suavizar os excessos hierárquicos.

Localismo

Uma maneira interessante de promover a participação de cidadãos é focando em grupos mais próximos. Existem diversas definições do que é localismo, mas em síntese trata-se de uma preponderância de soluções locais, desenvolvida por grupos relativamente menores e geograficamente próximos, em oposição a decisões tomadas por um organismo central e distante. Uma outra discussão interessante em torno desse tema é o hiperlocalismo, expressão usada especialmente no contexto de mídias sociais. Trata-se do desenvolvimento de comunidades virtuais ligadas a uma vizinhança.

Co-desenho e co-produção

Uma ideia que é consequência direta da aplicação prática do localismo em gestão pública é a necessidade de se desenvolver serviços locais em conjunto com parceiros de fora do governo, como o terceiro setor, cidadãos, outras instâncias e outros departamentos de governo, bem como fornecedores privados. Essa necessidade traz para o centro do debate o co-desenho e a co-produção, que versam mais especificamente sobre o envolvimento de cidadãos e usuários no processo de prestação de serviços desde sua concepção (desenho) até a entrega final (produção).
Isabel encerra o capítulo afirmando que a gestão do conhecimento transforma o ambiente organizacional, facilitando que inovações profundas e de grande escala ocorram. E parafraseando o que os autores do livro pensam sobre a relação entre gestão do conhecimento e inovação:

“Vejo a inovação como que um processo da gestão de conhecimento, no fundo, uma forma de criar e de utilizar.”
Ana Neves

“Toda inovação é incorporação de conhecimento novo (a processos, organização, produtos etc.). Mas nem toda gestão do conhecimento consegue efetivamente incorporar conhecimento novo a processos etc., embora possa pretender. Porém, toda incorporação da gestão do conhecimento (como processo) a uma organização (que não a tinha) é inovação. E também, sim, há inovações que incorporam conhecimento sem qualquer gestão do conhecimento (como processo organizado). E, por outro lado, toda gestão da inovação (como processo de uma organização) é necessariamente gestão do conhecimento (para incorporar conhecimento novo….)”.
Sergio Bolliger

“Entendo que a prática da gestão do conhecimento se revela pela criação de um ambiente de trabalho centrado no uso de métodos, técnicas gerenciais e ferramentas tecnológicas que estimulem a geração continuada de inovações (P&D, Organizacional ou Marketing).”
José Antônio Carlos

“Inovação é valor percebido pelo mercado, que se dá na entrega, na adoção e na relação de pessoas com produtos/serviços/ideias. Se a gestão do conhecimento ganha essa percepção, creio que é quando entende-se o processo ou arranjo criativo que levou à inovação. Algo de meios e fins. Penso que gestão é meio, é processo, é ambiente, que podem ou não serem DE inovação, mas sempre PARA inovação.”
Alvaro Gregório

Entrevista Isabel de Meiroz Dias

Isabel de Meiroz Dias é graduada, mestre e doutora em administração pela FEA-USP. Além de contribuir para o iGovSP, é também assessora especial da presidência no Proderj. Foi analista de negócios estratégicos no Royal Borough of Kingston, governo local na Grande Londres, Reino Unido. É consultora em estratégia, inovação e uso de tecnologia de informação. Foi professora de cursos de graduação e pós-graduação em instituições como IBMEC, UFRJ e FUNDAP.
Gabriela: Percebi que as práticas de inovação que você citou muitas podem ser nomeadas como práticas de gestão. Podemos dizer que inovar é gerir bem os recursos que temos?
Isabel: Em muitos casos gerir bem recursos escassos é sim uma inovação. Qualquer ação que permita melhorar oferecer um serviço melhor, ou ampliar o escopo de um serviço existente, é sem dúvida uma inovação.
Porém, mais que isso, práticas de gestão como co-produção, gestão do conhecimento, ou mesmo métodos ágeis de gestão de projetos criam um clima propício para a inovação dentro das organizações, e possibilitam que boas ideias surjam e saiam do papel.
Gabriela: Qual o case de inovação em governo que você viu acontecer que foi mais simples e impressionante?
Isabel: Tendo a me impressionar quando testemunho a dedicação de servidores públicos que, muitas vezes nadando contra a corrente, vão além das suas obrigações básicas, superando inúmeros obstáculos para melhorar o serviço aos cidadãos.
O Prêmio Mario Covas sempre traz inúmeros exemplos assim. Me lembro que na primeira edição do prêmio, em 2004, uma diretora de escola de cidade pequenina do interior recebeu uma menção honrosa por ter conseguido patrocínio na cidade e obtido um link de internet para o uso de professores e alunos.
Gabriela: Muitas pessoas tentam fazer algo inovador no setor público, mas não sabe por onde começar. Você tem alguma dica/conselho para essas pessoas?
Isabel: Na minha opinião o ponto de partida não é a inovação. É a vontade de resolver um problema, ou melhorar uma situação. E para tanto, é fundamental envolver tanto os usuários do serviço como aqueles responsáveis pela entrega do mesmo. A inovação é apenas uma consequência.

Por Gabriela Tamura

Fundadora e Diretora de Negócios da WeGov. Administradora Pública graduada pela Universidade do Estado de Santa Catarina, Pós-graduada em Gestão Pública pela Universidade Aberta do Brasil. Resiliente de plantão começou seu relacionamento com o setor público há 12 anos. Conhece bem a realidade do governo e resolveu ajudar.
Foi agraciada com a medalha do Exército Brasileiro em função dos serviços prestados à Nação pela WeGov.

Gabriela Tamura
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Resumo do Capítulo 5 do [eBook] "Dá pra fazer", e entrevista com Álvaro Gregório

O livro “Dá pra fazer” é um conjunto de relatos experimentais dos membros da equipe da Assessoria de Inovação em Governo (iGovSP) sobre inovação na gestão pública. O livro orienta os gestores públicos sobre o tema, desde a fundamentação e motivos para inovar em governo até a apresentação de métodos e alternativas para iniciar o processo de mudança no setor público.

Um caminho para o Design de Serviços Públicos

O capítulo inicia com a reflexão de que trabalhar com os problemas complexos que envolvem vários atores da sociedade para obter melhores resultados, leva o Governo além do desafio da inovação. O autor sugere que, dentre as inúmeras metodologias de gestão existentes, o Design Thinking pode ser adaptado para o contexto do Serviço Público e ser um caminho para desenvolver projetos de inovação no Governo.

Álvaro lista as vantagens do Design Thinking:

Focando no usuário, em suas necessidades e satisfação, ao invés de focar no sistema do governo; Reunindo técnicas e ferramentas já conhecidas na maioria, porém em um contexto de trabalho inovador; Sendo flexível como método, variada como instrumental e rápida para o entendimento e prática; Trazendo uma linguagem comum a áreas especialistas diferentes, sem criar conflitos de métodos.
Para explicar mais sobre Design, Álvaro apresenta uma imagem que possui os níveis do design (estratégico e operacional) e os saberes básicos e transdisciplinares que constituem um projeto.
O estratégico está ligado à definição do problema, necessidade ou oportunidade, enquanto que o operacional concentra-se na entrega, tangibilidade e implantação da solução. O design é o processo de fazer coisas melhores para as pessoas, coisas que sejam desejáveis, práticas e viáveis.
Para Álvaro a escolha de uma abordagem metodológica baseada em Design Thinking e Design de Serviços parece óbvia para apoiar a inovação em serviços públicos, uma vez que possui as seguintes características:
Cuida dos aspectos da complexidade e que são originadas no Design Centrado no Humano;
Prioriza o cidadão, no lugar da estrutura das organizações ou dos sistemas que as restringem;
Torna compreensível e interpretável a complexidade de situações e problemas de governo;
Possui abordagem de rápida execução e implementação, com flexibilidade;
Proporciona veloz curva de aprendizado entre funcionários públicos e boa tática em casos de co-criação de serviços com o cidadão.
Álvaro relata cinco dos dez Princípios Orientadores para a Experiência do Cidadão reunidos pelo especialista em serviços inovadores Jeff McMullin acreditando que compreender estes princípios seja o background para projetar os melhores serviços públicos:
Experiência do cidadão é sobre pessoas;
É sobre a relação entre os cidadãos e o governo. A experiência do cidadão é a base dessa relação;
Como parte dessas responsabilidades, o governo deveria, por vezes, ser um parceiro e participar na conversa, oferecendo e usufruindo da colaboração e da co-criação;
Outras vezes, o governo deveria ser um fornecedor. Ele deve apenas trabalhar, de forma simples e sob demanda.
Estes papéis de parceiro, fornecedor e participante estarão presentes a cada interação
O autor ainda afirma que é desejável, porém não sem esforço, que a capacidade de mudança do pensamento, do modelo mental ou mindset dos envolvidos no projeto, anteceda à adoção do Design Thinking.
O modelo mental deve ser ampliado para as possibilidades para a criação e inovação. E o motivo principal é que a complexidade e a velocidade dos problemas e oportunidades não são suportadas pelo pensamento analítico como era no Século XX (justificado por José Antônio Carlos no capítulo 3, Inovação Organizacional no Setor Público).

Etapas do Design Thinking:

Aparentemente lineares talvez para efeito didático, o mais importante é a característica iterativa, ou seja, a repetição avaliativa das etapas antes (ou depois) de avançar à próxima, o que possibilita avanços incrementais.
Empatia: Decisiva no momento de Definições (entender, observar e definir) a Empatia será recorrente, a depender das características do projeto, nos momentos de Ideação e Prototipação. Nesta etapa é importante registrar a experiência enquanto cidadão, o que sente, o que ouve, seus sentimentos, reações, frustrações, enfim colocar-se no lugar do outro. Pode ser feito em áudio, foto, anotações. Usualmente as pessoas utilizam o mapa de empatia:
Definir qual é o problema, necessidades ou possíveis melhorias | Imersão:
Álvaro alerta que a definição errada do problema vai gerar outro problema ele afirma que é fácil confundir a consequência com o problema e assim reduzir a possibilidade de análise e soluções à simplicidade dessa consequência.
Por vezes os problemas não foram resolvidos por algum impedimento legal, por falta de recursos, por falta de apoio político ou por tudo isso que chamamos restrições do projeto. As restrições representam, no design de serviços, a fonte de oportunidades em inovar.
Uma técnica eficaz para essa percepção e entendimento é o Storytelling – contação de histórias. O Storytelling também será empregado nas etapas de ideação e implementação, então será bom adotar como prática comum e organizada.
Ideia na hora certa: O autor diz que não temos como, nem devemos, controlar o fluxo de ideias durante o desenvolvimento das etapas, mas cabe aqui diferenciar os insights ou intuir algo no decorrer do processo e apropriadamente trabalhar na produção de ideias e soluções para o desafio encontrado.
Os insights podem acontecer a qualquer momento e são excelentes agregações que muitas vezes nos salvam, mas quando não acontecem improvisar pode ser perigoso.
Ele cita os sete padrões observados por Steven Johnson na criação de novas ideias e que, uma vez compreendidos, dão nova dimensão à produção criativa:
1. O adjacente possível;
2. Redes líquidas;
3. A intuição lenta;
4. Serendipidade;
5. O erro como aprendizado;
6. Exaptação;
7. Plataformas.
Isto deve servir ao background da Ideação, na medida em que compreendemos, sem necessidade de classificar com essa série de nomes inéditos ao nosso vocabulário, que as boas ideias não surgem do nada, mas afloram em um ambiente frutífero nos níveis mental, interpessoal, social, tecnológico e corporativo. A IDEO enumera sete regras para a execução do brainstorming.
Prototipar cedo para errar logo: O protótipo ajuda a tornar tangível aquilo que, se permanecer apenas como ideia, dificilmente será completamente entendido. Para esta esta etapa Álvaro propõem os seguintes formatos de protótipos – de baixa fidelidade:
Teatralização: a equipe encena o processo de atendimento ao cidadão, com todos os atores desempenhando o roteiro de inovação concebido para o serviço.
Blocos Lego: Pode ser substituído por qualquer forma de representação em 3D, o importante é criar o movimento e poder perceber como funcionará.
Storyboard: como numa história em quadrinhos, conte de forma ilustrada como será prestado o serviço.
Jornada do Usuário: o melhor substituto ao fluxograma, em seu entendimento. O canvas, criado por Stickdorn e Schneider, é fundamental ferramenta de planejamento de novos serviços.
Quanto mais cedo testamos, mais cedo erramos. Esta é uma etapa onde erros e acertos aparecem e, com eles, aprendemos.

Modelo de negócios em Governo?

Um modelo de negócios não foca estritamente no lucro, mas na sustentação de um produto, serviço ou ideia ao longo do tempo, posicionando, em nosso caso de serviços públicos, os órgãos e pessoas envolvidas quanto ao que é esperado na implantação de um projeto de alcance maior.
Com pequenas adaptações, o modelo de Osterwalder (Business Model Generation – Inovação em Modelos de Negócios) pode ser utilizado por áreas de governo, com ganhos de visão estratégica e controle operacional, especialmente quando o projeto envolve parcerias e busca atender determinado perfil de cidadão.
Álvaro finaliza o capítulo apresentando uma versão para negócios públicos que foi adaptada de forma livre e aberta a novas colaborações, exclusivamente para o livro:

Entrevista Álvaro Gregório

Um caminho para o Design de Serviços Públicos
Álvaro Gregório é administrador público, mba em internet technology e mestre em educação, administração e comunicação. Atua na Assessoria de Inovação em Governo do Estado de São Paulo. Está no setor público desde 1981, implantou e gerenciou o e-Poupatempo e criou para o governo eletrônico de São Paulo o Portal Cidadão.SP, a iGovSP – Rede Paulista de Inovação, o inovaDay e o projeto de Open Data Gov – Governo Aberto. É professor no curso superior de Design da Universidade Anhembi Morumbi, no curso MBA de Excelência Gerencial da FIA/USP e do MBA de Gestão e Engenharia de Produtos e Serviços do PECE Poli USP.
Gabriela Tamura: Você mencionou que a escolha de uma abordagem metodológica baseada em Design Thinking e Design de Serviços parece óbvia para apoiar a inovação em serviços públicos. Por que ainda são utilizadas abordagens tão ultrapassadas no governo?
Álvaro: A escolha de design thinking é óbvia para os desafios públicos devido às características dos problemas em governo, como a complexidade, a importância de centrar no cidadão e obter profundo conhecimento do público-alvo, que possui perfis variados, aumentando os altos níveis de incerteza quando se trata de serviços públicos. Enfim, temos que lançar mão de uma abordagem metodológica que possa lidar com isso, com a não-linearidade, com colaboração e com o pensamento integrativo, por isso o design thinking parece-nos uma escolha evidente.
Isso não significa que outras abordagens de inovação, como o Funil, Scrum, teoria U, Stage Gates ou de resolução de problemas, como GUT, 5W1H, estejam ultrapassadas, mas dificultam sua utilização porque tentam objetivar coisas que são subjetivas e, em geral, estão muito afastadas de uma estratégia centrada no cidadão e em aspectos emocionais da experiência de um serviço público, por exemplo.
É mais fácil desenvolver serviço público centrado no sistema, pra isso, qualquer método analítico serve, mas será só o sistema que vai funcionar. A relação cidadão-serviço não será sequer percebida, ou seja, não vai funcionar como serviço ao público.
Gabriela Tamura: Ao analisarmos os procedimentos de instituições públicas normalmente chegamos à conclusão de que algumas práticas são desnecessárias, onerosas e obsoletas. Mesmo depois de um processo de Design Thinking as pessoas têm dificuldades de colocar em prática as ideias inovadoras, qual seu conselho para que elas não desanimem?
Álvaro: Você está certa, o design thinking é um processo, não um produto que se compre e instale. A resistência à inovação, apesar de acontecer também no setor privado, é quase que esperada no setor público.
Alguns dizem que é por causa da estabilidade do funcionário e da falta de concorrência do governo, características do setor. Eu acho que o principal motivo é a falta de Cultura de Inovação, por isso insistimos no convencimento de colegas, em palestras, escrever artigos, participar de cursos e promover eventos, como o inovaDay. A primeira dimensão é a cultural, a segunda é a da Capacitação, e ambas devem ter ações simultâneas nas organizações públicas de ponta.
Mas não posso dizer nada que possa conter o desânimo frente ao imobilismo, a não ser “faça isto ser divertido como uma descoberta”. Quem estuda o design thinking, por exemplo, e toca um projeto seguindo suas etapas, sabe que, além de mais produtivo, é divertido descobrir o que ninguém viu antes e melhorar a partir disso. Talvez assim convença os outros a acreditar que dá pra fazer.
Gabriela Tamura:  Você concorda que a estrutura do governo engessada e pautada na burocracia é um ambiente hostil para o Design Thinking / inovação?
Álvaro: A burocracia é ambiente hostil para a vida humana, não somente para a inovação. Não há muito em que concordar com hierarquias centralizadoras, mas apenas discordar também não adianta.
Temos que perguntar de que forma conseguiríamos trabalhar em gigantescas organizações, como o governo, de modo a manter objetivos, metas, produtos, serviços, qualidade e valor, com motivação e desenvolvimento pessoal, sem ter que construir uma rede centralizada baseada na hierarquia da autoridade para fazer cumprir esses propósitos. A questão talvez passe em saber como operar uma rede social laborativa, baseada no conhecimento de cada colaborador da organização. Por onde começar?
É claro que já existem alternativas, como a holocracia, que é uma das que mais gosto, mas quando você olha pro governo como um todo, sabe que não vai caber. Temos que redesenhar o governo, em forma, função, significado e valor.
Gabriela Tamura: Você já adotou o Design Thinking no serviço público? Conte um pouco sobre sua experiência.
Álvaro: Adotamos um novo modo de pensar, que se soma ao que já praticávamos, dando-lhe oportunidades de desenvolvimento de um ponto de vista especial e mais madura. Por isso chama-se Design Thinking, pensar sob a ótica do design. Uma vez apreendido, muda-nos pra sempre.
Dito isto, creio que todos os projetos em que fui envolvido nos últimos anos tem ingredientes e técnicas do Design Thinking, mesmo antes da organização do tema, como por exemplo o Poupatempo, o Portal Cidadão, o site do Governo Aberto (uma boa experiência de inovação aberta), o inovaDay, isso pra falar dos projetos internos.
Outros, que participamos mais como estimuladores, como no Metrô-SP, na SABESP e na Secretaria da Fazenda, estão em desenvolvimento dessa cultura, da formação do olhar. Tem um exemplo bem legal, que é o da Biblioteca São Paulo, executado pelo Tellus, que pode ser visto no Youtube como o Projeto +60.
Além desses, teremos a partir do final do ano, o início das operações do iGovLab, o Laboratório de Inovação em Governo, que trabalhará fortemente em prototipagem de projetos complexos, com a abordagem do Design de Serviços Públicos.

Por Gabriela Tamura

Fundadora e Diretora de Negócios da WeGov. Administradora Pública graduada pela Universidade do Estado de Santa Catarina, Pós-graduada em Gestão Pública pela Universidade Aberta do Brasil. Resiliente de plantão começou seu relacionamento com o setor público há 12 anos. Conhece bem a realidade do governo e resolveu ajudar.
Foi agraciada com a medalha do Exército Brasileiro em função dos serviços prestados à Nação pela WeGov.

Gabriela Tamura
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Resumo do Capítulo 4 do eBook "Dá pra fazer", e entrevista com Ana Neves

O livro “Dá pra fazer” é um conjunto de relatos experimentais dos membros da equipe da Assessoria de Inovação em Governo (iGovSP) sobre inovação na gestão pública. O livro orienta os gestores públicos sobre o tema, desde a fundamentação e motivos para inovar em governo até a apresentação de métodos e alternativas para iniciar o processo de mudança no setor público.
Continue reading “Gestão do Conhecimento, Redes e Ferramentas Sociais”

Por Gabriela Tamura

Fundadora e Diretora de Negócios da WeGov. Administradora Pública graduada pela Universidade do Estado de Santa Catarina, Pós-graduada em Gestão Pública pela Universidade Aberta do Brasil. Resiliente de plantão começou seu relacionamento com o setor público há 12 anos. Conhece bem a realidade do governo e resolveu ajudar.
Foi agraciada com a medalha do Exército Brasileiro em função dos serviços prestados à Nação pela WeGov.

Gabriela Tamura
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Resumo do Capítulo 3 e entrevista com José Carlos "Pepe".

O livro “Dá pra fazer” é um conjunto de relatos experimentais dos membros da equipe da Assessoria de Inovação em Governo (iGovSP) sobre inovação na gestão pública. O livro orienta os gestores públicos sobre o tema, desde a fundamentação e motivos para inovar em governo até a apresentação de métodos e alternativas para iniciar o processo de mudança no setor público.
Continue reading “Inovação Organizacional do Setor Público – [eBook] "Dá pra fazer"”

Por Gabriela Tamura

Fundadora e Diretora de Negócios da WeGov. Administradora Pública graduada pela Universidade do Estado de Santa Catarina, Pós-graduada em Gestão Pública pela Universidade Aberta do Brasil. Resiliente de plantão começou seu relacionamento com o setor público há 12 anos. Conhece bem a realidade do governo e resolveu ajudar.
Foi agraciada com a medalha do Exército Brasileiro em função dos serviços prestados à Nação pela WeGov.

Gabriela Tamura
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Resumo do Capítulo 2 e entrevista com Sérgio Bollinger

O livro “Dá pra fazer” é um conjunto de relatos experimentais dos membros da equipe da Assessoria de Inovação em Governo (iGovSP) sobre inovação na gestão pública. O livro orienta os gestores públicos sobre o tema, desde a fundamentação e motivos para inovar em governo até a apresentação de métodos e alternativas para iniciar o processo de mudança no setor público.

A coluna ‘Dá pra fazer’

No texto passado fizemos um resumo e uma entrevista do primeiro capítulo do livro com Senhor Roberto Agune. Neste seguimos – pela ordem dos capítulos – com o Senhor Sérgio Bolliger que escreveu sobre a inovação depois da nova gestão pública.
Depois do resumo você pode conferir a entrevista que realizamos com o autor. Aproveite 🙂

Inovação depois da Nova Gestão Pública

Resumo do capítulo: Sérgio Bolliger inicia o segundo capítulo do livro “Dá pra Fazer”propondo uma releitura da tradição inovadora chamada Nova Gestão Pública, fala sobre a passagem do gestor público do centro do processo de inovação para o papel de facilitador – integrador da inteligência coletiva dos cidadãos e aponta a necessidade de novos formatos organizacionais.
Para ele a inovação do século XXI não vai contra a inovação do século XX o que muda é o lugar do agente público, como ele se posiciona em relação ao processo de inovação.

O Gestor Público no Centro (Nova Administração Pública)

Bresser Pereira impulsionou a reforma federal de 1995-98 que identificava a inovação nos anos 80 e que ficou conhecida como “nova gestão pública”. Antes desta reforma não existia a figura do Gestor Público, quem trabalhava para o Governo era chamado de Agente Público. Quando Bresser Pereira fala do gestor no centro refere-se ao centro das reformas na gestão pública, atribuindo aos gestores maiores responsabilidades.
A nova gestão pública tinha a intenção de romper com a era burocrática onde o agente poderia fazer apenas o que estivesse na lei, a ideia era colocar o gestor no centro, de forma mais autônoma.
O autor afirma que não podemos dizer que estivemos estagnados, mas, em sua grande maioria, as inovações em gestão nasceram da iniciativa e inventividade do agente público no exercício de suas funções, do entusiasmo frente às soluções que poderiam ser carregadas para o setor público. E é por isso que conclui: o gestor estava no centro.

O conhecimento no centro (e a reforma de fato ocorrida)

Sérgio ainda afirma que o conhecimento tecnológico e organizacional do setor privado não poderia, simplesmente, ter sido transmitido ao setor público. Ele foi passível, em alguma medida e, com isso, ser informado aos agentes públicos e por eles interpretado. Porém, a sua incorporação aos processos não poderia ter acontecido sem a sua recriação nos processos efetivos do setor. E, inclusive, mesmo que nenhuma adaptação tenha ocorrido na introdução de uma inovação privada no setor público, ela não teria se dado sem que o agente público a tivesse incorporado ao processo. Por isso o autor conclui que coincidiram, à época da nova gestão pública, o fato de que agente público esteve no centro da reforma com o fato de que, no centro dela, estava o conhecimento.

O centro se desloca (e o futuro)

Para o autor a emergência da palavra “inovação” como conceito-chave assinala mudanças no modo de inovar – alteração no modo de incorporar conhecimento novo aos processos. E, se antes tínhamos o gestor público como o lugar necessário dessa incorporação, temos agora um deslocamento do seu lugar no processo de inovação. Dentre os conceitos correlacionados à inovação Sérgio dá destaque ao da inovação aberta e do emprego da inteligência coletiva.
O autor aponta que o relacionamento com o usuário de serviços é totalmente atravessado pelo inter-relacionamento entre os usuários e cidadãos, sobretudo por meio das redes sociais. Sua participação na avaliação, ideação e elaboração de serviços e de políticas públicas passa a se dar em um novo terreno, público e não mais individualizado entre cada cidadão e a organização pública. O agente público é chamado a atuar, como representante de sua organização, nesses espaços. E, mais do que isso, a criar tais ambientes de discussão e colaboração.
Com a exigência desses novos formatos e do novo papel para o agente público, delineia-se uma nova fronteira institucional para a inovação governamental

Entrevista Sérgio Bolliger

Inovação depois da Nova Gestão Pública
Sérgio Bolliger é arquiteto e mestre em filosofia. Atua na Assessoria de Inovação em Governo – iGovSP. Trabalha na área pública desde 1978, na Prefeitura e no Governo do Estado de São Paulo. Dedicou-se a obras públicas e à gestão e redesenho organizacional e de serviços. Participou da implantação e da gestão do Poupatempo.
Gabriela Tamura: Assim como as palavras que inspiravam inovação no século XX como desburocratização, gestão por resultados, qualidade total, descentralização e tantas outras já não soam tão inovadoras nem tão certeiras você acredita que a “inovação” pode cair no mesmo vazio uma vez que a alta administração das instituições já está cansada de modismos?
Sérgio Bolliger: O capítulo se refere àquelas palavras (desburocratização, qualidade total etc.) como “palavras-guia” e sem qualquer ironia. Quis caracterizá-las como condutoras de autênticas inovações, origem de muito do que temos hoje consagrado, embora o resultado seja limitado. Sim, elas suscitaram também modismos. Mas a desilusão de administradores com elas tem um endereço certo: sua relativa e progressiva perda de fertilidade, o fato de não entregarem tudo o que prometiam e inspirarem cada vez menos confiança de que valha a pena segui-las (de que pagam o custo e esforço). A designação genérica como “modismo”, entretanto, pode dificultar a análise e encobrir razões mais profundas da redução de fertilidade.
O modismo, em tese, é algo mobilizador, mas de fôlego curto e que se esgota sem um legado significativo. Normalmente associado a “modelos” tomados como receitas de sucesso. Porém, aquelas palavras-guia não podem ser pensadas assim e nem identificadas a modelos inspirados por elas. Elas deixaram um legado, para além de “modelos” – seja de desburocratizar, seja de gerir a qualidade etc.; e bem além do modismo em torno desses modelos. Na moda ou fora dela, elas inspiraram uma série de iniciativas inovadoras mais ou menos desorganizadas, com ou sem obediência a seus “modelos”; e o que legaram foi inovação, que não se confunde com modelo para inovar. Inovação: conhecimento gerado e incorporado na efetiva mudança da paisagem governamental. Por outro lado, quando falo da emergência de “inovação” como nova palavra-guia, não quero assinalar a chegada de uma “nova inovação”, um novo modelo para inovar, uma novidade a mais que substituiria outras “inovações”, que teriam ficado obsoletas. A emergência dessa palavra seria, em boa medida, consequência do vazio deixado por aquelas outras palavras. Ela clama pelo que aquelas antigas palavras geravam e parecem não mais gerar. Ela, antes, celebra o que as antigas palavras fizeram e procura resgatar algo que elas perderam, seu poder de gerar o novo.
Outra coisa é que, exatamente como as antigas “palavras”, “inovação” também vem inspirando iniciativas inovadoras, igualmente mais ou menos desorganizadas; inclusive com a criação de alguns “modelos para inovar”, assim como técnicas e ferramentas que passam também a circular como “modelos”. E, com isso, “inovação” decididamente entrou na moda. Faz tempo; há tanto, mais de dez anos, que até poderia sair. O que não significaria cair no “vazio dos modismos” e nem no vazio das anteriores palavras-guia que, no meu entender, não é de mesma natureza que o “vazio dos modismos”.
A tese do capítulo é a de que a perda de vitalidade das antigas palavras-guia está ligada a razões profundas, não à superfície onde flutua o modismo. O que passou não foi apenas a “moda” . As razões seriam que a produção do “novo” (geração de conhecimento e sua integração aos processos de trabalho) se deslocou para fora das organizações; ou seja, que os funcionários e servidores não mais conseguem concentrar, apenas no seu conhecimento e atividade, o impulso de inovar. Palavras-guia e modelos de inovar centrados na mobilização apenas dos agentes públicos no interior das organizações não produz mais inovação; ou, ao menos, não na medida da resposta que as necessidades e oportunidades atuais requerem. Assim, por exemplo, embora não considere que “qualidade total” tenha sido um mero modismo (e sim que apontava para um avanço imenso em serviços no início da década de 90), entendo que hoje não basta mais organizações e seus agentes pretenderem padronizar, certificar serviços públicos segundo a ISO e iniciarem a melhoria contínua. Os formatos flexíveis de serviço exigem que o agente público se desloque, ceda espaço e orquestre a participação colaborativa de agentes sociais para além do controle organizacional e das equipes, não só no desenho, mas também no provimento de serviços. É disso que o capítulo trata.
Gabriela Tamura: Então a forma de inovar está mudando?
Sérgio Bolliger: O modo (social) de inovar mudou, com novas oportunidades e necessidades (nessa ordem). E deixou as palavras-guia e os modelos de inovar anteriores no vazio, sim. Mas nesse vazio: o da mudança das necessidades e oportunidades que os fundavam e para os quais davam resposta. Isso não significa que todas as tarefas anteriores e modelos para atingi-los estejam obsoletos; mas requerem adequação e, de per si, não conseguirão dar resposta aos novos padrões e ritmos de inovação.
Outra tese do capítulo é a de que “inovação” passou a ser palavra-guia justamente por causa dessa mudança do modo de inovar. A interpretação desse modo e sua formalização, por sua vez, deu origem a novos conceitos e “modelos para inovar”, em especial o de “inovação aberta”. Nada do que antes propugnavam as antigas palavras-guia corresponde ao conceito de inovação aberta. Então, sim, esse conceito, assim como técnicas e ferramentas associadas se apresentam como “novas” inovações, novidades a serem consideradas pelo setor público.
Gabriela Tamura: E haveria então o risco de caírem no vazio dos modismos?
Sérgio Bolliger: Por um lado, não, porque estão fundadas em autênticas oportunidades e necessidades atuais. Um “puro e simples modismo”, ao contrário, mobiliza sem essa ancoragem; ele flutua tão só na especulação de possibilidades abstratas descoladas de condições efetivas. Mas, por outro lado, há o que podemos chamar de “modismo na implantação”; e, no que diz respeito a esse, sim, avalio que os modelos, técnicas e ferramentas de inovação atuais correm todos os riscos de degenerarem e se transformarem em modismos.
Modelos entram e saem de moda. Às vezes, sem deixar traço, simples modismo. Outras vezes, de forma mais virtuosa: com sua incorporação aos processos de trabalho e à rotina estabelecida; restam como inovação incorporada, mas que perderam a capacidade de gerar mais inovação. Mas o problema é que modelos autenticamente inovadores podem também ser assumidos de forma tal que são literalmente esterilizados pelo ambiente ou pela rigidez de sua implantação; destruindo, de partida, seu potencial inovador. Isso estou chamando de “modismo na implantação” de um modelo inovador; e que, sim, pode cair no vazio dos modismos.
A esterilização de uma inovação pelo ambiente de trabalho ocorre quando um modelo, técnica ou ferramenta de inovação é adaptada e “flexibilizada” de forma a justamente não gerar o novo na organização, deixar a coisa como está. Por exemplo, uma maneira de esterilizar a inovação aberta seria restringi-la às fronteiras da organização, do departamento, ao âmbito dos agentes que têm a atribuição formal de prestar o serviço. Já a rigidez de implantação vai na direção contrária. Ela é que impediria que o novo pudesse ser gerado e integrado aos processos organizacionais, porque não considera as limitações do ambiente e da cultura organizacional. É quando os modelos viram “receitas”; a organização é mobilizada e todos agem, mas apostando pouco, sem realmente pagar para ver, um pouco “para inglês ver”. Cumprem, obedientes, rituais que não fazem sentido, avaliando, no fundo, que poderiam estar fazendo algo mais útil. Creio que muitos de nós já passaram por esse tipo de “projeto” em falso, dispensando exemplos. Invariavelmente, ao final, a organização carrega a culpa de não ter seguido perfeitamente o método, seja porque “a direção não se comprometeu”, seja por “sabotagem da máquina”.
Gabriela Tamura: E o que fazer para impedir isso?
Sérgio Bolliger: Antes de mais nada, levar palavras-guia, modelos, técnicas e ferramentas a sério. Mas isso nunca quer dizer seguir a receita, pelo contrário; isso significa entender bem o que esses instrumentos visam, para incorporar esses métodos, técnicas e ferramentas com bastante liberdade e respeito ao ambiente organizacional. Sem transigir, apenas, com o objetivo de garantir a geração e a efetiva incorporação de conhecimento novo.
A regra básica é apenas essa: é preciso viabilizar que emerja o novo das pessoas envolvidas no processo, que elas seriamente se sintam respeitadas nisso e que esse novo seja acolhido e testado; se isso não estiver acontecendo, algo deve ser reconfigurado. E, por isso mesmo, é também preciso ter sempre em conta que resultados desse tipo é que mobilizam, não promessas e moda. Resultados, quanto mais rápido e frequentes melhor. E desse tipo: resultados em termos de conhecimento gerado, testado e incorporado (eventualmente, em função dos teste, rejeitado; mas que, por isso mesmo, também acolhe e consolida um conhecimento organizacional).
Gabriela Tamura: A Reforma Federal ainda não chegou nos Municípios menores e Estados mais carentes. Como convencer os gestores públicos que a inovação na gestão pública é o caminho necessário se muitos não ouviram falar nem dos conceitos antigos do século XX?
Sérgio Bolliger: A rigor, a Reforma Federal, considerada em muitos de seus aspectos centrais, jamais chegou à efetiva implantação nem em Municípios maiores nem nos Estados com mais recursos. Eu me refiro, especificamente, aos aspectos institucionais da autonomia do gestor e responsabilidade social mediante controle democrático. No entanto, isso não impediu que, em parte motivados por essa promessa, muitos gestores tenham agido com grande autonomia e aberto espaço para inovações importantes.
Em especial, no campo da agenda daqueles “conceitos antigos” da desburocratização, qualidade total, gestão por objetivos etc. Enfim, da agenda de passagem da administração burocrática para a gerencial. Não de forma sistemática como políticas de gestão, mas produzindo resultados parciais aqui e ali, de forma desordenada.
É interessante notar que, com o impulso dessas inovações, muitas outras de uma agenda mais anterior ainda foram enfrentadas (da agenda de passagem da administração patrimonialista para a burocrática), como que pegando “carona”, puxadas no arraste da onda inovadora gerencial. Tudo isso também de forma bastante precária e parcial. Assim, é evidente que, por toda parte, há grandes tarefas a cumprir dessas antigas agendas. Não só nos Municípios menores. Acontece que, hoje, essas tarefas não cumpridas não conseguem mobilizar como antes nem gestores com iniciativa e, muito menos, instituições. Como disse, não porque saíram de moda, mas porque a agenda de inovação mudou e exige muito mais do que estava antes prescrito.
As organizações públicas, via de regra, estão pressionadas por essa nova agenda. Que, no meu entender reclama a exposição da organização à inovação aberta e à colaboração de usuários e fornecedores externos de soluções. Essa, no meu entender, seria a agenda que poderia hoje mobilizar os agentes públicos de maior iniciativa. E, a meu ver, é em torno dela, no “arraste” de uma nova onda inovadora, que tarefas não cumpridas das agendas antigas seriam enfrentadas.
Gabriela Tamura: O que você diria aos servidores públicos que querem fomentar a cultura inovadora na sua instituição?
Sérgio Bolliger: Falamos justamente de cultura, quando discutimos antes a onda inovadora no setor público no final do século XX. Ela foi algo, antes de mais nada, cultural, que atingiu as organizações de então. E temos algo a aprender dessa onda que passou; mas, para isso, além de celebrarmos a cultura de então, temos de prestar atenção a como os reais processos inovadores concretamente se deram, como emergiram dessa onda cultural.
Como dissemos, foram processos desordenados, parciais, interrompidos, que mal conseguimos reconhecer. Mas o que mais importa é que, fundamentalmente, foram processos que demandaram iniciativas inovadoras, só ocorreram por causa delas. Desordem, resultados parciais e processos interrompidos não ocorrem apenas quando há inovação e nem sempre quando há. E gosto de dizer que, pelo contrário, a “bagunça” nesse processo inovador é a que resultou de uma “ordem”: aquela que sufoca, que não permite o surgimento e estabilização de iniciativas inovadoras. Que, caso não fosse desorganizada pela “ordem”, poderia teria dado emergência a uma ordem inovadora, aquela em que as iniciativas têm livre curso.
Assim, quando falamos de “cultura inovadora” na instituição, temos de ser práticos e pensar no que essa cultura deve criar. Simples: oportunidades à iniciativa inovadora. Ações por uma cultura inovadora, em sentido amplo, todas importantes e bem vindas, devem ser endereçadas a isso. Pois, se a oportunidade à iniciativa inovadora não acontece, cairão no vazio.
Enfim, e dito com todas as letras: instituição com cultura inovadora é aquela que abre espaço a iniciativas inovadoras. Quer dizer: espaço para experimentar e fazer diferente. Mas se essas oportunidades e espaços não são institucionalizados, não podemos dizer que a instituição tem uma cultura inovadora. Pode, quando muito, ter pessoas com cultura inovadora, que travam suas batalha dentro da “ordem” não inovadora.
Por isso, a minha opinião é que a organização que quer fomentar a cultura inovadora deve se concentrar na abertura desses espaços à iniciativa (tanto dos funcionários, quanto de usuários e fornecedores). Não é fácil. Acho que, para todos nós, o mais difícil é entender e aceitar que a inovação é um “processo emergente”. Quer dizer: não um processo estruturado com atividades bem concatenadas em torno de objetivos definidos; mas sim algo cujo resultado emerge da massa crítica de uma série de iniciativas inovadoras, tentativas e ensaios em processos fracamente estruturados, e que pouco podem prometer, de partida, quanto a resultados. Algo que não é, mas pode parecer desorganizado e, por isso, pode enfrentar sérias resistências. E, é claro, algo que custa algum tempo, esforço e dinheiro. E mais: toda ampliação do campo de iniciativas que abrimos a colaboradores, toda autonomia que damos a eles, é também “distribuição de poder”; e, com razão, quem distribui quer ter alguma certeza de retorno da autorização que dá ao emprego de recursos públicos.
Por isso mesmo, a prudência sugere que trabalhemos com base em ensaios controlados. É perfeitamente plausível para toda organização deixar espaço a iniciativas, a experimentos, de tal forma que permita a emergência de uma cultura inovadora, sem comprometimento de seus recursos. Essa, aliás, é uma razão pelas quais a formalização de certas estratégias de inovação, como o design thinking, adote processos iterativos, com passos definidos de ideação, construção e teste de protótipos, depois pilotos, para só escalar a solução depois que a solução tenha emergido de forma mais robusta. São estratégias de validação não apenas formal da inovação, mas realmente experimental nesse sentido: o usuário pode experimentar o novo e influir na construção da inovação. Com estratégias como essa, por exemplo, a cultura inovadora pode ganhar espaços cada vez mais amplos na instituição. De todo modo, essa é apenas uma estratégia. O que poderia recomendar, de forma geral, é que aqueles que pretendem fomentar a cultura inovadora em suas organizações se concentrem na construção e ampliação de oportunidades e espaços institucionais que permitam a iniciativa inovadora dos colaboradores.

Por Gabriela Tamura

Fundadora e Diretora de Negócios da WeGov. Administradora Pública graduada pela Universidade do Estado de Santa Catarina, Pós-graduada em Gestão Pública pela Universidade Aberta do Brasil. Resiliente de plantão começou seu relacionamento com o setor público há 12 anos. Conhece bem a realidade do governo e resolveu ajudar.
Foi agraciada com a medalha do Exército Brasileiro em função dos serviços prestados à Nação pela WeGov.

Gabriela Tamura
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Resumo do Capítulo 1 e entrevista com Roberto Agune

O livro “Dá pra fazer” é um relato experimental de alguns membros da equipe da Assessoria de Inovação em Governo (iGovSP) sobre inovação na gestão pública. O livro orienta os gestores públicos sobre o tema, desde a fundamentação e motivos para inovar em governo até a apresentação de métodos e alternativas para iniciar o processo de mudança no setor público.
Continue reading “O Governo do Século XXI – [eBook] "Dá pra fazer"”

Por Gabriela Tamura

Fundadora e Diretora de Negócios da WeGov. Administradora Pública graduada pela Universidade do Estado de Santa Catarina, Pós-graduada em Gestão Pública pela Universidade Aberta do Brasil. Resiliente de plantão começou seu relacionamento com o setor público há 12 anos. Conhece bem a realidade do governo e resolveu ajudar.
Foi agraciada com a medalha do Exército Brasileiro em função dos serviços prestados à Nação pela WeGov.

Alvaro Gregorio
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eBook exclusivo do iGovSP

Em 2004 iniciamos uma trajetória orientada para a gestão do conhecimento e inovação organizacional no Governo do Estado, focada na melhoria dos serviços públicos e na busca de novos paradigmas que acompanhassem a evolução social e administrativa neste início de século.

Dá pra fazer – Gestão do Conhecimento e Inovação no Setor Público

Nesse caminho, percebemos que a administração pública em todas as esferas e poderes, ressentia pela ausência de informações e relatos experimentais, capazes de orientar o gestor público sobre esse tema, desde a fundamentação e os motivos de inovar em governo até a apresentação de métodos e alternativas para iniciar essas mudanças no setor público.
Por isso, marcando essa década de trabalho, reunimos membros da equipe e duas consultoras da Assessoria de Inovação em Governo – iGovSP para registrar suas visões e experiências em um livro ( eBook) , com o título “Dá Pra Fazer – Gestão do Conhecimento e Inovação no Setor Público”.

Temas Abordados

O Governo no Século XXI, com Roberto Agune
Inovação depois da Nova Gestão Pública, com Sérgio Bolliger
Inovação Organizacional no Setor Público, com José Antonio Carlos, o Pepe
Gestão do Conhecimento e Redes e Ferramentas Sociais, com Ana Neves
Um Caminho para o Design de Serviços Públicos, com Alvaro Gregorio
Práticas de Inovação em Gestão Pública, com Isabel Meiroz Dias

Assista ao pré-lançamento, realizado no inovaDay de novembro de 2013

[youtube=”https://www.youtube.com/watch?v=BiGtNFsgB4I&w=720&h=400]
O livro ainda conta com prefácio do Prof. Guilherme Ary Plonski e as apresentações das Professoras Evelyn Levy e Regina Pacheco e da Presidente da SBGC Sonia Wada, que elevam a publicação a uma leitura imprescindível aos profissionais de governo.
Faça o download gratuito [eBook] Dá pra fazer – Gestão do Conhecimento e Inovação no Setor Público
VIA: iGovSP.