Entrevista com Brazil Nunes, Secretário de Comunicação do TRE-GO.
O capacitismo ainda é uma realidade presente na sociedade, e as redes sociais refletem essa exclusão. Na edição do Redes deste ano, Brazil Nunes, Secretário de Comunicação do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO), abordará o tema em sua palestra “Capacitismo nas redes: como não fazer”. Nesta entrevista, ele fala sobre os desafios enfrentados pelas pessoas com deficiência, a importância de uma comunicação mais inclusiva e o que espera do evento.

Redes – O capacitismo ainda é uma realidade nas redes sociais. Na sua visão, quais são os erros mais comuns que órgãos públicos e empresas cometem ao produzir conteúdo digital sem considerar a acessibilidade e a inclusão?
Brazil Nunes – Infelizmente, o capacitismo ainda está muito presente na nossa vida. Ele começa na família e se estende para a sociedade. Muitas pessoas acreditam que, por ter uma deficiência física ou dificuldade de locomoção, você não pode produzir como qualquer outra pessoa, não pode ter uma vida social ou constituir uma família. Esse é um paradigma que enfrentamos diariamente.
Apesar de já existirem leis, muitas ainda ficam camufladas na prática, e a sociedade nos isola. Estamos constantemente quebrando essas barreiras e mostrando que temos o direito de ocupar espaços como qualquer cidadão. Pagamos impostos, gostamos de viajar, de comer bem, de trabalhar e produzimos da mesma forma que uma pessoa sem deficiência.
Redes – Na sua palestra no Redes você falará sobre “Capacitismo nas redes: como não fazer”. Pode dar um spoiler sobre os principais pontos que pretende abordar e quais boas práticas podem ajudar a evitar esse problema?
Brazil Nunes – Nas minhas palestras pelo Brasil, gosto de compartilhar minhas experiências profissionais e pessoais. Conto um pouco da minha trajetória, do que aconteceu comigo e como consegui me destacar no mercado de trabalho, que já é desafiador por si só – e ainda mais sendo uma pessoa com deficiência.
No Redes, sei que estarei diante de multiplicadores que podem levar esse conhecimento para suas cidades e locais de trabalho. Quero mostrar como cada um pode contribuir para evitar o capacitismo, mesmo sem ter uma deficiência. Pequenas ações fazem a diferença, como garantir que uma vaga reservada para pessoas com deficiência seja respeitada ou verificar se a calçada de sua cidade é acessível. É essencial denunciar situações de exclusão e lutar por um ambiente mais igualitário.
Redes – Como o Tribunal Regional Eleitoral de Goiás tem trabalhado para tornar sua comunicação mais acessível e combater o capacitismo nas redes? Você pode compartilhar algum exemplo concreto?
Brazil Nunes – Tenho 18 anos de atuação no TRE-GO e percebo como a Justiça Eleitoral tem evoluído para atender melhor as pessoas com deficiência. Estamos preparados para receber eleitores com dificuldade de locomoção e incentivamos sua participação na democracia. Essas pessoas podem e devem votar, ser votadas e ocupar seu espaço na sociedade.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) tem implementado pautas importantes, como acessibilidade e linguagem simples. Isso tem sido essencial para tornar a comunicação mais inclusiva. O número de eleitores com deficiência que comparecem às urnas tem aumentado a cada eleição, graças às nossas campanhas de incentivo. Além disso, vejo como os servidores públicos com deficiência são mais acolhidos em órgãos públicos do que no mercado de trabalho privado. Sempre incentivo pessoas com deficiência a prestarem concursos públicos, pois é um ambiente mais respeitoso e igualitário.
Redes – No nosso evento procuramos estimular a troca de experiências e a inovação no setor público. O que você espera dessa edição e qual a importância de trazer o debate sobre capacitismo para esse espaço?
Brazil Nunes – Acho fundamental que o Redes traga essa pauta, pois demonstra o compromisso dos gestores com a inclusão, tanto no serviço público quanto na sociedade em geral. Esse é um tema que deveria ser discutido por todos os órgãos. Hoje, vejo que grandes veículos de comunicação, como a Globo, já estão colocando esse assunto em evidência, e isso é muito importante.
Fico muito feliz e grato por participar desse evento e ver essa discussão ganhar força. A acessibilidade não se limita apenas ao espaço físico, mas também à forma como nos comunicamos. Trabalhar a linguagem simples, para que todas as pessoas possam compreender uma mensagem sem precisar de ajuda, é essencial. Nosso país ainda é muito desigual, e nós, como servidores públicos, temos a obrigação de promover uma comunicação mais efetiva e acessível. Só assim estaremos contribuindo para um futuro melhor.
14º Redes WeGov
A 14ª edição do Redes WeGov acontece nos dias 29 e 30 de abril, em Florianópolis (SC), e está com inscrições abertas.