Alvaro Gregorio
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Um lugar que o cidadão pode contar

No início de junho, ouvi um diretor da Petrobras anunciar aquilo que seria a “grande inovação” de sua distribuidora, fruto de semanas em brainstorming interno que visavam aliviar a crise pela qual passa a empresa, vítima de corrupção, chegando a dois pontos miraculosos: 1- abrir uma nova empresa com 30% do capital da atual distribuidora para ser a gestora de 2- novos serviços nos postos da rede que, nas palavras do diretor, seriam lojas de conveniência, farmácias e lanchonetes. Ora, então a grande inovação é chegar ao modelo dos anos 1950!?
Diferente dessa falta de fôlego criativo, outra empresa do mesmo ramo, a Ipiranga, tem ajustado suas velas, embora não navegue no mesmo mar de corrupção, para navegar com mais conceito e propriedade em mares de concorrência, por meio do design de serviços.
A Ipiranga, sempre vista como o primo pobre das distribuidoras, parte da revisão de seu significado para gerar novo valor a seus clientes. A chamada que diz “tem no posto Ipiranga” movimenta um conjunto de ofertas complementares e suplementares de serviços, que vão desde a troca de óleo até conexão wi-fi, passando por aluguel de veículos, prêmios de milhagens, tags para pedágio e ingressos para shows.

Mais do que um lugar que centraliza serviços, a iniciativa vai além ao entregar ao cliente a gestão desse relacionamento pelo site e nos recibos do cartão de crédito. A metáfora não é a de um shopping center, mas a de um “lugar que eu posso contar”e gerir sem grandes complicações. Nisto o design de serviços é fundamental e aqui está a inovação.

[youtube=https://youtu.be/RFHPa6c1i-M&w=720&h=400]

Não basta encher o posto de serviços por consumo e adesão, mas fazer dessa adesão um relacionamento gerenciável, fortalecendo cada ponto de contato, ou touchpoints, que capacitem todas as interfaces entre prestador do serviço e cliente. Assim, frentistas, donos de postos, site na internet, atendimento telefônico e qualquer outra interface, devem estar alinhados em promover uma experiência agradável ao seu cliente, que por vezes é transformadora, como é o caso de tornar o ato de completar o tanque de combustível, algo dolorido para todos, em uma oportunidade de recompensa em milhagens por essa fidelidade à marca e ao posto.
É um erro pensar que os serviços públicos não devam se preocupar com isso por não terem metas de fidelização, nem problemas com concorrência. Na perspectiva do cidadão, é claro que os serviços de governo concorrem com outros, como os serviços bancários, os do shopping, os da companhia de seguros e até os do tráfico, que lamentavelmente aproveitam os vazios dos serviços de segurança, educação e emprego. Todos os serviços utilizados pelo cidadão estabelecem um padrão mínimo de tratamento, usabilidade e acessibilidade.
Mas quero fazer uma reflexão sobre um recorte específico de serviços públicos, aqueles do dia-a-dia, que estão nas Centrais de Atendimento e que, por utilizarem a metáfora vencida de shopping center, não conseguem evoluir em espírito e forma.

Padrões estabelecidos

Os padrões estabelecidos há vinte anos, quando começaram, permanecem quase idênticos aos atuais, mesmo sabendo que nesse período a internet, os serviços eletrônicos, a mobilidade e, principalmente, a integração de serviços tornaram-se essenciais a qualquer cidadão.
Esses mesmos padrões, apesar de inovadores e de impacto positivo à cidadania na época, também não conseguiram contagiar os demais serviços de governo. Assim, não é possível ver esse mesmo tratamento das centrais de atendimento serem adotados nas áreas de saúde, educação, segurança e outros pontos de contato com o cidadão.
Com isso permanece, na ótica do cidadão, a visão de um governo multifacetado e fragmentado, onde existem lugares de excelência e outros de penúria, o governo não é único, nem seus serviços são integrados, quem os integra é o cidadão, por meio de deslocamentos em labirintos de informações. As interfaces são focadas no sistema e não na experiência de uso pelo cidadão, quer em serviços presenciais, quer em serviços eletrônicos.
Penso que os modelos de centrais sejam insuficientes para uma sociedade que vive em rede distribuída. Exemplifico, por que devo me deslocar até uma central de atendimento do governo para emitir a carteira de identidade de meu filho, se ele estuda em uma escola do mesmo governo e que já tem lá todos os registros? A rede de postos seria maior, não é mesmo ? Isso já não é feito no caso de vacinas em escolas?
É certo que para tanto ainda seriam necessários vários passos, como um big data do cidadão, o redesign e fortalecimento de touchpoints, a derrubada de restrições anacrônicas, o investimento em capacitação das interfaces e, acima de tudo, a empatia com o cidadão. Coisas que levam tempo e empenho, mas que são inadiáveis.
Isso é apenas um exemplo da mudança do modelo que temos a considerar ao buscar governo único para um cidadão único.

A “ipirangalização”de postos de serviços públicos é uma nova metáfora, é oferecer ao cidadão um lugar que ele pode contar… e que possa chamar de seu governo.

Alvaro Gregorio
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O primeiro laboratório de inovação em governo do país

O governo de São Paulo inaugurou o primeiro laboratório de inovação em governo (iGovLab) do País, uma iniciativa que visa buscar soluções para aumentar a eficiência e a abrangência das políticas da gestão estadual.
O espaço foi aberto com um debate que reuniu cerca de 50 especialistas em TI (tecnologia da informação) e políticas públicas sobre alternativas para expandir o Acessa São Paulo, programa de inclusão digital com 847 postos em 600 municípios do Estado.
“O Acessa SP foi criado há 15 anos, quando a maioria da população ainda não tinha telefone celular, e precisamos reavaliar o conceito de inclusão digital levando em conta a nova realidade e o amplo acesso das pessoas à tecnologia”, destaca Júlio Semeghini, titular da Subsecretaria de Tecnologia e Serviços ao Cidadão, responsável pelo programa, junto com a Prodesp (empresa de Tecnologia da Informação do Estado) e a Escola do Futuro, da USP.
Uma das ideias é ampliar as parcerias com outras secretarias, empresas privadas e organizações da sociedade para levar o acesso à internet a toda população do Estado, além do desenvolvimento de novos modelos de atuação das unidades do Acessa São Paulo, com mais espaço para formação e capacitação profissional e estímulo ao empreendedorismo.
Durante os debates, foram discutidas também propostas para transformar os postos do AcessaSP em locais onde os usuários poderão levar seus equipamentos e se conectar à rede, trabalhando no modelo de coworker (espaço coletivo de trabalho para freelancers e empreendedores) e disseminar novos conteúdos, focados principalmente em demandas como games, robótica e reforço na capacitação de monitores; além da ampliação da cobertura WiFi.
Fonte: Revista Exame
Laboratórios de Inovação no Mundo
Convênio do Laboratório
Plano de Trabalho do Laboratório


Saiba mais

No dia 09 de julho às 19h30, a WeGov irá recebê-los para conversarmos sobre Laboratórios de Inovação em Governo. Eu estarei lá para compartilhar nossa jornada com vocês. Vamos?

Pedro Manerich Nicolau
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O Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP)

Fonte: elaboração própria, com base na série histórica (censos) do IBGE.

Como surgiram os concursos públicos no Brasil? O que levou o país a necessitar de funcionários mais qualificados no setor público? Como surgiu o Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP)?

Com o início da República no Brasil (1889), novas demandas surgiram para o Estado, de forma que se fez necessário um aumento da intervenção estatal na economia e na sociedade brasileira. Essa demanda só foi atendida, de fato, com a chegada de Getúlio Vargas à Presidência da República no ano de 1930.

Com o aumento das ações do Governo na sociedade brasileira, houve um aumento no número de órgãos, e, consequentemente, um aumento no número de funcionários públicos. Até Vargas, essas vagas eram preenchidas por “apadrinhamento político”, sem critérios de escolha dos melhores candidatos, o que fazia com que o serviço público fosse um antro de funcionários indicados pelos políticos.

Os primeiros censos realizados no Brasil mostram um aumento no número de funcionários públicos. Entre 1872 e 1900, o aumento, inexpressivo, se deu nos empregos civis. Já a partir de 1900, o aumento é justificado pelos momentos de conflitos mundiais, assim, para se proteger de possíveis ataques, houve um aumento no número de militares no país. Nas décadas posteriores a 1920, com a chegada de Getúlio à Presidência, começou a nova fase do Governo, que se caracterizou por uma maior intervenção estatal nas diversas áreas da sociedade.

Mesmo com um aumento no número de funcionários, não havia um inchaço no serviço público, mas, os interesses políticos prevaleciam e os empregos eram preenchidos por indicações, e não por méritos.

Meritocracia, um começo

Promulgação-Constituição-1988-WeGov

A meritocracia começou com a chegada de Vargas ao Poder, sendo que, entre 1935 e 1936, foi criada a “Comissão Mista da Reforma Econômico-Financeira” e a “Comissão de Reajustamento”. Através de Decreto-Lei, em 1936, foi aprovado o primeiro plano de classificação de cargos baseado no sistema de méritos, criando o Conselho Federal de Serviço Público Civil (CFSPC), que teve uma vida curta, pois, no ano de 1937, Getúlio deu um Golpe de Estado, fechando o Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas.

Vargas elaborou uma nova Constituição, na qual, estava previsto no artigo 67 a criação de um Departamento Administrativo junto à Presidência da República, que seria o responsável pela realização de concursos públicos. Assim, em 30 de Junho de 1938, através do Decreto-Lei 579, surgiu o Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), subordinado diretamente ao Presidente da República, e sendo dirigido por Luiz Simões Lopes, um dos grandes entusiastas da Reforma Administrativa.

Competia ao DASP a realização de concursos públicos, o aperfeiçoamento dos funcionários e a elaboração da proposta orçamentária. Além disso, o DASP ficou incumbido pela elaboração do primeiro plano quinquenal do governo, o chamado “Plano Especial de Obras Públicas e Aparelhamento da Defesa Nacional” (1939-1943). Também elaborou o primeiro “Estatuto do Funcionário Público Civil” (1939); o “Plano de Obras e Equipamentos” (1943); criou a “Fundação Getúlio Vargas” (1944); a “Revista do Serviço Público”; e a “Revista de Direito Administrativo”, além de conseguir enviar 200 funcionários ao exterior, anualmente, para especialização, e trazer as novas experiências adquiridas para o Brasil.

Até 1943, mais de 200 mil pessoas fizeram as provas do Departamento, mas, apenas 10% conseguiram aprovação, pois a grande maioria não estava preparada para a alta exigência dos concursos. Dessa forma, Simões criou a FGV com a intenção de preparar essas pessoas para os concursos do Departamento.

Em 1945, após a queda de Getúlio, o DASP ficou responsável somente pelos concursos públicos. Porém, o velho empreguismo político voltou à cena nacional e os cargos voltaram a ser preenchidos pelos interesses dos políticos. O DASP não foi extinto, mas não conseguiu trazer a meritocracia à seleção dos candidatos, pois, além do retorno do empreguismo político, a industrialização não era mais nascente, o que fazia com que houvesse a necessidade de criação de novos órgãos públicos para o controle, fiscalização e coordenação do novo cenário da economia brasileira.

A burocratização e centralização do DASP não coincidiam mais com a quantidade de órgãos existentes, visto que não caberia mais à Presidência da República o controle direto de todos os conselhos, comissões, institutos, etc. A saída encontrada para controlar os novos órgãos foi a descentralização da máquina pública, conhecida como Administração Indireta, que era feita através das Autarquias, Fundações e Institutos. Já a reforma de 1967 possibilitou a contratação via CLT, o que fez com que os cargos considerados de “alto escalão” fossem preenchidos pelos interesses dos políticos, trazendo o “empreguismo” ao setor público novamente.

Com o fim do Regime Militar em 1985, o DASP já mostrava-se desgastado, e era necessário uma nova reforma administrativa. Destarte, através do Decreto 93.211 de 1986, foi criada a Secretaria de Administração Pública da Presidência da República, e, por esse mesmo decreto, o DASP foi extinto.

Durante os seus quase 50 anos de existência, o Departamento enfrentou dificuldades para manter-se em funcionamento, passando por inúmeras tentativas de extinção. O órgão modernizou a máquina pública no Governo de Getúlio, mas, devido ao clientelismo, após a queda do ditador, o órgão não conseguiu mais se reerguer, e mesmo com as mudanças previstas pelos decretos-leis nos outros governos, acabou sendo extinto na redemocratização do país.

O Departamento modernizou a seleção de candidatos aos cargos públicos em uma época em que o Governo brasileiro estava começando a ter uma maior intervenção na sociedade. Podemos dizer, portanto, que o DASP foi o principal idealizador da meritocracia na máquina pública, fazendo com que, após quase 50 anos, os concursos públicos voltassem ao cenário público nacional.

André Tamura
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Assista a palestra de Pia Mancini no TEDGlobal 2014

Fonte: TED.com
Pia Mancini e seus colegas querem atualizar a democracia na Argentina e além. Através de sua plataforma de celular, de código aberto, eles querem inserir os cidadãos no processo legislativo e lançar candidatos que vão ouvir o que eles dizem.

“Acho que todos concordamos que caminhamos rumo a um novo modelo de Estado e de sociedade, mas não temos a menor ideia do que isso significa, ou do que deve significar. Parece que precisamos ter um debate sobre democracia nos nossos dias atuais. Vamos pensar assim: somos cidadãos do século 21, fazendo o melhor que podemos para interagirmos com instituições criadas no século 19, baseadas em tecnologia da informação do século 15. Vamos analisar algumas das características desse sistema. Primeiro, ele é projetado para uma tecnologia da informação que tem mais de 500 anos. O melhor sistema possível que poderia ser criado para isso é aquele em que a minoria toma decisões diariamente em nome da maioria. E essa maioria vota uma vez a cada dois anos. Em segundo lugar, os custos de participação nesse sistema são incrivelmente altos. É necessário ter uma boa fortuna e influência, ou devotar sua vida inteira à política. É necessário tornar-se membro de partido e, lentamente, começar a subir, até que, talvez um dia, você consiga sentar-se à mesa em que as decisões são tomadas.”

Pia Mancini – TEDGlobal 2014

Assista a palestra de Pia Mancini

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Pia Mancini

Co-founder of @democracyOS & Partido de la Red – Director The DemocracyOS Foundation. YC15. http://go.ted.com/gnL The X-Lab. Par de una sociedad en red. http://piamancini.com/

Por André Tamura

Pai e Marido. Fundador e Diretor Executivo da WeGov. Empreendedor entusiasta da inovação no setor público e das transformações sociais. Estudou Administração de Empresas e Ciências Econômicas. Desde que trabalhou como operário de fábrica no Japão, tem evitado as “linhas de produção”, de produtos, de serviços e de pessoas. Em 2017, foi condecorado com a Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro.

André Tamura
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Promova mudanças através de questionamentos

“Ah não tente mudar, aqui sempre foi assim…”
Você já deve ter ouvido isso (e até dito) quando tentou promover algum tipo de mudança, fazer as coisas diferentes ou emplacar projetos novos. Agora, conheça essa história…

A história dos cinco macacos

Essa história é muito utilizada para descrever uma situação que acontece em muitas instituições. Embora não tenha sido encontrado o registro oficial desse experimento.

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Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula. No meio, uma escada e sobre ela um cacho de bananas. Quando um macaco subia na escada para pegar as bananas, jogavam um jato de água fria em todos os macacos que estavam no chão.
Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada os outros o pegavam e enchiam de porrada, para que ninguém tomasse o banho de água fria. Depois de um certo tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas.
Então substituíram um dos macacos por outro novo.
A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo retirado pelos outros, que o surraram. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não subia mais a escada. Um segundo macaco foi substituído e o mesma coisa aconteceu, tendo o primeiro substituto participado com entusiasmo na surra ao novato. Um terceiro foi trocado e o mesmo ocorreu. Um quarto e afinal o ultimo dos veteranos foi substituído.
Os cientistas então ficaram com um grupo de cinco macacos que mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse pegar as bananas. Se pudéssemos perguntar aos macacos a razão de estarem apanhando (e batendo) a resposta seria sem dúvida: “Aqui sempre foi assim…”

Faça as boas perguntas

Quando lidamos com questões complexas, como por exemplo comportamento humano, tomada de decisões, escolha de políticas públicas e cultura organizacional, temos grande dificuldade em reconhecer e aceitar a mudança. O ambiente tem uma força que nos obriga a manter o status quo. Para romper essa barreira temos um pergunta poderosa: Por quê?
Subestimamos o poder de perguntar, evitamos parecer ignorantes e temos medo da dúvida ser somente nossa. As perguntas são tão importantes quanto as respostas. Não existirão respostas se não houver questionamentos adequados.

Vai ser sempre assim?

Se você enfrenta uma situação estagnada onde aparentemente não há mudanças, organizar uma boa conversa entre seus pares é um ótimo caminho para que surjam as perguntas certas, e claro, ótimas respostas.

Por André Tamura

Pai e Marido. Fundador e Diretor Executivo da WeGov. Empreendedor entusiasta da inovação no setor público e das transformações sociais. Estudou Administração de Empresas e Ciências Econômicas. Desde que trabalhou como operário de fábrica no Japão, tem evitado as “linhas de produção”, de produtos, de serviços e de pessoas. Em 2017, foi condecorado com a Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro.

Cândido Azeredo
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Porque inovar é urgente e de qual tipo de inovação necessitamos agora.

Tornar as instituições públicas mais inovadoras tem sido uma demanda crescente. No entanto, seria este apenas mais um assunto da moda, para vender caras consultorias? Uma forma de desviar o foco do que é realmente relevante? Seria mais uma palavra de efeito para decorar falatório político?

Definição de inovação

Gosto muito da definição adotada pelo Fórum de Inovação da FGV-EAESP, sinteticamente apresentada na equação: Inovação = Ideia + Ação + Resultado Positivo
Isto é, a Ideia pode ser algo novo ou uma melhoria de algo existente, mas precisa ser implementada na prática, não pode ficar no plano das idéias. Tem que virar Ação. Além disso, para ser inovação, esta ideia implementada precisa gerar Resultado Positivo para um grupo de pessoas (público-alvo), de forma sustentável e por um período satisfatório de tempo.
Esta forma de organizar o tema, sem reduzi-lo ou simplificá-lo, considera e engloba desde as inovações incrementais (melhoria contínua e qualidade total) até as de ruptura (mudança mais estrutural de paradigma). O assunto é complexo e existem várias definições válidas e complementares. Na essência, o motor do processo é a constatação de que necessidades não estão sendo atendidas e algo, alguma ideia, precisa ser criada e implementada para satisfazer tais carências.

E como isto se aplica ao contexto governamental?

Nota-se um pouco deste campo emergente no país pesquisando a incidência aproximada de termos no Google-Brasil ao longo dos anos, como “inovação em governo”, “inovação no governo” e “inovação do governo”. Considerando a soma das incidências dos três termos, vemos um incremento de 78.3 vezes em oito anos, de 15 incidências em 2005 para 1.174 em 2013:
Gráfico: Incidência aproximada dos termos relacionados à inovação em governo
É uma evolução sólida, difícil de ignorar. Por isto, convido-lhe a considerar possível, por um momento, ser este um assunto importante. Se topou, provavelmente indagará: por que é fundamental inovar em governo? Em seus processos, sua cultura, seu modo de servir à sociedade e em tantos outros aspectos? Para responder, vale ir mais fundo e compreender qual a real necessidade debaixo desta demanda.

Porque inovar em governo?

Em 2014, o IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento de Tributação) lançou a quinta edição do estudo “Carga Tributária/PIB X IDH” e constatou que o Brasil está entre os 30 países de maior carga tributária do mundo, mas continua oferecendo os piores serviços à população em termos de saúde, educação, transporte, segurança, saneamento, pavimentação das estradas, etc. Outra conclusão do IBPT é que o brasileiro, em média, tem que trabalhar 150 dias para pagar todos os impostos e, em relação à década de 70, hoje se trabalha o dobro de tempo para pagar a tributação.
Também em 2014, foi lançado o Segundo Relatório de Tendências do MyFunCity, que reforça a insatisfação do brasileiro com os serviços públicos existentes. E a estas, poderia acrescentar outras pesquisas de satisfação e desempenho sobre o Governo e que indicam um descompasso, uma percepção de déficit entre aquilo que é pago pela população e aquilo que ela recebe.
Então, pode-se traduzir a demanda por “inovar” como sendo um pedido de mudança e transformação do trabalho governamental (seja ele federal, estadual, municipal, direto ou indireto) para que a sociedade aumente seu bem-estar. Hoje, o que se deseja alcançar é, em grande parte, um crescimento na eficiência e na eficácia da gestão pública e um crescimento na efetividade do resultado gerado. Isto é, deseja-se tanto reduzir e otimizar os recursos consumidos pelo Estado quanto aumentar e melhorar o efeito final para a sociedade. Trocando em miúdos, deseja-se que ele gere melhores e mais benefícios, gastando menos recursos para isto.
Mas justiça seja feita, o governo tem crescentemente se esforçado para inovar. Evidências disto são os prêmios (como o Concurso Inovação na Gestão Pública Federal e o Prêmio Mario Covas), as escolas de administração pública (como a Fundap e a ENAP), as instituições de fomento (como a Rede Paulista de Inovação em Governo-iGovSP e inovaDay* foto abaixo), entre muitas outras iniciativas. Mesmo assim, as melhorias não têm dado conta do desafio e o abismo entre o dar e o receber é imenso.
Inovação em Governo é o principal tema do inovaDay.
Por que isto acontece? É falta de investimento e apoio? Mau uso dos recursos? As mudanças são lentas ou pequenas demais? As pessoas estão mais exigentes? Acredito ser um pouco das anteriores, somado a diversas outras razões. Para uma delas, gostaria de chamar a atenção.
Acredito que o tipo de inovação capaz de diminuir tal abismo e descompasso seja diferente do tipo já consolidado (como a desburocratização, gestão por resultados, qualidade total, etc.). Este tipo diferenciado engloba o tradicional, mas o expande e aprofunda. Um dos aspectos que o diferencia é operar a partir de certos conceitos, como por exemplo: complexidade; redes distribuídas; colaboração; inteligência coletiva; sistêmico; criatividade; experiência do usuário; transparência; diálogo; engajamento; aberto; horizontalidade; sustentabilidade; empoderamento; entre muitos outros.
O conjunto destes conceitos representa e caracteriza uma nova cultura, um novo modo de pensar e de se relacionar. Da mesma maneira, representa processos e ferramentas específicos para lidar com a realidade. Quando utilizados e combinados entre si para melhorar a vida ou resolver um problema social, o efeito final tende a ser diferente do tradicional. Em geral, o saldo do impacto é mais positivo e duradouro.
A respeito do tema, recomendo baixar e estudar o excelente livro “Dá Pra Fazer – Gestão do Conhecimento e Inovação no Setor Público”, elaborado pela equipe da Rede Paulista de Inovação em Governo-iGovSP, com a participação de especialistas convidados.
No Brasil, tais práticas inovadoras são minoritárias, estamos no início de uma longa estrada. Em outros países, como Reino Unido (ver Nesta), Austrália (ver Public Sector Innovation), Dinamarca (ver Mind-Lab), Singapura (ver Co-Innovation), Alemanha (ver Ver­wal­tung In­no­va­tiv), Estados Unidos (ver Data.gov), etc., elas já estão estabelecidas, com uma grande coleção de casos de sucesso.

Novos Paradigmas para inovação em governo

Em suma, não basta mudar e reformar o trabalho do governo. É o que tem sido realizado por décadas e, no geral, com ganhos insuficientes para o atual contexto do país. Para gerar um resultado diferente do que temos vivenciado e que atenda satisfatoriamente às necessidades da população, cada vez mais complexa, a maneira como se gera este resultado precisa também ser diferente. Vale lembrar uma citação muito difundida e atribuída a Albert Einstein:

“É insanidade continuar a fazer a mesma coisa, da mesma forma, dia após dia, e esperar resultados diferentes”.

As formas tradicionais de inovação precisam ser complementadas por outras que carregam novos paradigmas.
Na sua realidade dentro do governo como estes conceitos estão sendo aplicados, quais as resistências encontradas e quais os frutos obtidos?

Vanessa Salm
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Como utilizar o Scrum e atender ao novo serviço público

Vanessa Salm compartilha, neste post, os conceitos gerais da ferramenta e mostra como o Scrum pode ajudar as instituições públicas a alcançarem os preceitos do Novo Serviço Público.

O que é gestão ágil de projetos – Scrum

O Scrum é uma metodologia* ágil de gestão de projetos.

O novo serviço público

O novo serviço público busca na sua essência o interesse público conduzindo suas práticas em torno da transparência e responsividade. A transparência, visa informar fatos associados ao desempenho, acerto e erros da organização e a responsividade busca atender as expectativas acerca das diversas variáveis (valores) que envolvem a comunidade.
A finalidade de ambas as práticas leva os gestores públicos a avaliar os processos e projetos organizacionais a fim de alinhar a atual realidade do serviço público com as premissas sobre a qual o novo serviço público se propõe.

Desafios e soluções

Diante desse cenário de mudanças e adaptabilidade o gestor público necessita de ferramentas para conduzir os processos e os projetos de maneira que os mesmos possam ser embasados na transparência e na responsividade.
A maneira como os projetos são planejados nas grandes organizações não está mais atendendo a agilidade nem a transparência que a sociedade contemporânea está exigindo. São necessários processos mais ágeis de gestão de projetos, com mais dinâmica na comunicação.
Dentre as diversas metodologias* de gestão de processos e projetos, o que mais se assemelha com as característas do novo serviço público é o Scrum, pois visa tornar os processos e projetos mais flexíveis e eficazes visando à satisfação do cidadão e a rápida adaptação às mudanças.
Apesar do Scrum ser uma metodologia* utilizado para o desenvolvimento de software, suas premissas básicas de participação e integração de cidadãos e colaboradores nos processos de concepção do produto, planejamento e melhoria contínua faz com se torne adaptável a aplicação para os projetos e processos das instituições públicas.

ScrumPedia

Entendendo o Scrum:
Equipe: Product Owner, Scrum Master e o Time Scrum.
Cerimônias do Scrum: Daily Scrum, Sprint Planning Meeting, Sprint Review, e Sprint Retrospective.
Product Owner, é o responsável por gerar demandas e especificá-las
Scrum Master é a liderança que conduz o time, elimina as barreiras apresentadas pela equipe.
Time Scrum: é multifuncional, pois é composto por integrantes de diversas áreas. O time Scrum visa a colaboração, o aprendizado e a sinergia.
As cerimônias do Scrum consistem da: Sprint Planning Meeting, Daily Scrum, Sprint Review e Sprint Retrospective.
A Sprint Planning Meeting é a reunião de planejamento. O time juntamente com o Scrum Master e o Product Owner planeja as atividades que serão executadas em um Sprint. Durante a Sprint Planning Meeting o Product Owner apresenta as demandas a serem trabalhadas
O time busca entender essas demandas por meio de perguntas. Esse entendimento detalhado da demanda permite o compartilhamento do conhecimento, levando a um melhor entendimento do processo e da necessidade do cidadão.
A Daily Scrum é uma reunião diária, com período de quinze minutos, na qual os integrantes do time apresentam o status das suas tarefas. Durante esta reunião, cada integrante responde as seguintes perguntas: “O que eu fiz ontem? O que eu vou fazer hoje? Existem impedimentos?
A Sprint Review Meeting é a reunião realizada ao final de um Sprint, nessa reunião o time apresenta os resultados do que foi produzido. O conhecimento é compartilhado, pois há a troca de experiência entre os membros do time, isso traz agilidade e melhoria para o processo. Além disso, o fato do product owner dar feedback facilita a melhoria contínua do processo e um melhor entendimento das prioridades do cliente.
A Sprint Retrospective Meeting acontece logo depois da Sprint Review Meeting. Nessa reunião o time avalia os pontos positivos e apresenta propostas de melhorias. Este encontro inicia com a avaliação dos pontos discutidos no sprint anterior e, é durante esta reunião, que se avalia o processo, o time e o produto com o intuito de melhorar continuamente o processo.

A adaptação do Scrum para o novo serviço público

A adaptação da metodologia* Scrum nos projetos e processos das organizações do novo serviço público sugere que os envolvidos tenham primeiramente seu papel definido. Sendo assim apresenta-se a seguinte estrutura de equipe:
Os servidores públicos como time scrum
Os gestores público sou cidadãos como product ower
Gestores públicos como scrum master
Em relação a interação de equipe, planejamento, comunicação e melhoria de processos tem-se a seguinte adaptação:
Sprint Planning Meeting: Momento em que o gestor público ou o cidadão expõe um projeto que deve ser executado pela equipe. Durante essa reunião as tarefas que devem ser executadas são definidas.
Daily scrum: Reuniões diárias em que os servidores informam o status das tarefas que estão sendo executadas.
Sprint Review Meeting: Reunião em que a equipe apresenta o resultado do que foi executado.
Sprint Retrospective Meeting: Reunião em que servidores públicos, gestores e cidadãos se reúnem para avaliar o processo e pontos positivos e a melhorar.
*Scrum é um framework (quadro) para desenvolvimento e gestão ágil de projetos

Os benefícios do Scrum para o novo serviço público;

Dentre os diversos benefícios proporcionados pela aplicação do Scrum, aqueles que estão mais alinhados com as premissas do novo serviço público são:
Ser uma tecnologia que se presta a projetos de interesse público,
Comunicação constante e eficiente,
Liderança participativa,
Entendimento das demandas,
Divisão de tarefas,
Agilidade na resolução de problemas,
Disseminação, criação e compartilhamento de conhecimento,
Transparência na execução de tarefas,
Responsividade ao cidadão e à comunidade,
Melhoria contínua dos processos,
Espírito de equipe
Avaliação dos acertos e erros dos processos e projetos

Oficina Gestão Ágil de Projetos – Scrum

Nos dias 20 e 21 de maio, Vanessa Salm irá ministar a Oficna Gestão Ágil de Projetos – Scrum em Florianópolis (SC). Inscreva-se >>
Data: 20 e 21 de maio de 2015 | 9h às 18h
Certificado: Scrum Master Gov | Carga horária: 16 horas
Local: WeGov – Centro de Inovação Primavera | Florianópolis / SC
Endereço: SC401, Km 4
Imprima o Ofício Convite

Governo, Inovação e Riscos

Por que o Governo não sai do caminho e deixa a inovação para o setor privado – os “verdadeiros revolucionários”? É um retórica que você ouve em toda parte, e Mariana Mazzucato quer acabar com isso. Nesse TED Talk, ela mostra como o Estado – que muitos vêem como lento, burocrático e cheio de jeitinhos – é realmente um dos nossos principais tomadores de risco e formadores de mercado.
Qual ator na economia é mais responsável por fazer a inovação radical acontecer? Mariana Mazzucato surge com uma resposta surpreendente: o Estado.

Assista a palestra de Mariana Mazzucato


Os Estados e os governos são muitas vezes descritos como lentos, burocráticos e avessos ao risco. Esse argumento é usado em apoio à menor participação do Estado e maior liberdade às empresas privadas. Mariana Mazzucato oferece uma forte visão contrária:
Estados não são apenas os reguladores de mercado e fixadores, mas também “construtores de mercado” – criando ativamente um visão de inovação e investimento em áreas de risco e de incerteza, onde o capital privado pode não ver nenhum retorno sobre o investimento (ROI). Isso mesmo: Capital de Risco (Venture Capital) assume muito menos riscos do que geralmente se pensa. Como um exemplo, a tecnologia por trás o iPhone e Google existe porque o governo dos EUA tem sido muito intervencionista no financiamento da inovação. Os investidores privados chegam apenas depois. É o que deve ocorrer com a próxima “grande coisa” depois da internet: A Revolução Verde.
Mazzucato, professora de economia na Unidade de Ciência e Tecnologia Policy Research (SPRU , University of Sussex), argumenta que a Europa precisa hoje redescobrir esse papel – o que o continente precisa não é de austeridade, mas de investimentos estratégicos (e novos instrumentos como bancos de investimentos públicos) no sentido de uma “União da Inovação”.

“Trata-se de admitir que, em muitos casos, tem sido de fato o Estado, não o setor privado, que tem a visão de mudança estratégica ,a ousadia de pensar – contra todas as probabilidades – sobre o impossível.” Mariana Mazzucato em “O Estado Empreendedor”

Por André Tamura

Pai e Marido. Fundador e Diretor Executivo da WeGov. Empreendedor entusiasta da inovação no setor público e das transformações sociais. Estudou Administração de Empresas e Ciências Econômicas. Desde que trabalhou como operário de fábrica no Japão, tem evitado as “linhas de produção”, de produtos, de serviços e de pessoas. Em 2017, foi condecorado com a Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro.

Guilherme Rocha
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Escolher uma bengala é o caminho para a infelicidade no trabalho.

Trabalhar com comunicação pública oferece diversas bengalas para quem quer se esquivar das obrigações e do compromisso com a sociedade. As tentações para manter-se apoiado (escondido) nas dificuldades do trabalho na área pública são grandes. Fuja ou escolha uma bengala e seja INfeliz.

Busque seu objetivo e faça seu melhor

Ao me dedicar aos estudos para integrar a Administração Pública, confesso que não tinha a noção exata do órgão onde eu gostaria de trabalhar, mas uma certeza eu sempre tive: não queria engrossar o caldo negativo da imagem dos servidores públicos. “Seja útil” era o conselho do meu pai que eu tinha, e tenho, em mente.
Apesar de ter tido experiências anteriores na iniciativa privada, não acredito que isto tenha sido primordial para não me acomodar após ter sido aprovado na rigorosa seleção do concurso público. É uma questão de postura.
Desde o início, encarei o ingresso no Governo Federal como um começo, e não um fim. Como grande parte dos que começam em novas atribuições, demorou um pouco para que eu me encaixasse na equipe de comunicação, da Controladoria-Geral da União, no caso. Em dois meses, encontrei nas redes sociais o meu lugar.
Trabalhar em contato “direto” com o cidadão no Facebook e no Twitter é uma escola. Aprendi a aceitar a opinião do “hater”, assim como, a explicar pacientemente uma, duas, dezenas de vezes o mesmo assunto a qualquer pessoa que procura orientação. Afinal, ela paga o meu salário. Receber um entusiasta “obrigado!!” do internauta que não esperava uma pronta resposta pelo “face”, por eu apenas ter feito a minha obrigação, também reforça meu ânimo diário.
Além disso, as redes sociais oferecem as métricas que são um feedback natural da consequência do trabalho. Os números combatem algo que sempre me incomodou nas atividades de comunicação: o “achismo”.

Bengalas

Certa vez, um antigo chefe me disse que a motivação no trabalho era “auto-estimulável”. Na época me pareceu uma bela de uma desculpa para os problemas do setor, mas ele tinha um ponto de vista a ser considerado… Hoje entendo que: ou o empregado (seja servidor ou não) traz a responsabilidade para si e arregaça as mangas, ou pode se preparar para tratar o assunto em algumas boas sessões de terapia.
Centralização das atividades, contenção dos “incêndios”, dificuldade de inovar, falta de estrutura adequada… Quem trabalha com comunicação pública têm diversas bengalas para se sabotar, mas, no fim, a decisão sempre é individual e claro que existem ‘n’ saídas. Para mim, funcionou a velha opção de procurar o trabalho.
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Mais trabalho?

Aí eu já ouvi: “mas se eu sugerir isso, vai ficar por minha conta, eu vou ter mais trabalho!” Ué.. que bom, né? Sinal que seus superiores confiam em você para a tarefa e, convenhamos, você está à toa.
Foi de sugestão em sugestão que eu assumi os perfis da CGU com menos de 4 mil fãs/seguidores e chegamos (a equipe de apenas 3 pessoas) aos atuais mais de 196 mil. Quando minha chefe pediu para que eu fosse o responsável pelas redes do órgão, há 3 anos, não havia manual, nem caminho a ser seguido. Eu tive que trilhar. E tem valido muito a pena.

André Tamura
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A busca pela re-invenção da roda como barreira para inovação

Constantemente temos contato com projetos, práticas e ideias inovadoras. Procuramos – na medida do possível – explorar, divulgar e “iluminar” algumas delas, na expectativa que sejam praticadas e replicadas por toda a administração pública, em suas três esferas e poderes.
Não somos proprietários dessas ideias e tampouco queremos atuar como uma catraca (pedágio) para que sejam implantadas nas instituições.
Algumas resistências para que as ideias não aconteçam são bem conhecidas: as dificuldades burocráticas, falta de recursos, incapacidade de pessoal e etc. Porém, existe uma outra espécie de barreira pouco explorada que também é prejudicial à inovação, é esta barreira que vou desenvolver nas próximas linhas.

O viés do “não inventado aqui”

*Viés cognitivo é a tendência humana de cometer erros sistemáticos em certas circunstâncias baseados em fatores cognitivos ao invés de evidências.*
A lentidão em adotar ideias inovadoras valiosas (já existentes e praticadas) em algumas instituições, é algo curioso e inexplicável. Essa “forma de burrice” não se limita a nenhum governo específico, esfera ou poder. A inovação não acontece, simplesmente pois “não foi inventada aqui”, nada mais.
Considere que estamos partindo de um pressuposto em que fatores importantíssimos como tecnologia e trabalho estão disponíveis e acessíveis. Mesmo que, em uma observação aprofundada possam estar relacionadas ilicitudes e desvios de conduta(corrupção e favorecimentos de contratos) para que as ideias não aconteçam, não vamos considerar estes elementos na nossa história:

Um novo sistema de gestão

Olá Sr.______ (coloque aqui um nome e um cargo). Você conhece essa solução em que a população auxilia na gestão da sua cidade?
Hmmm, não conheço mas já ouvi falar de algo parecido…
Então, é bem simples de utilizar e a população vai gostar bastante de saber que sua instituição aderiu a plataforma.
Que ótimo (aqui começa o viés)! Vou marcar uma reunião com a área responsável e vamos criar um departamento para desenvolver este projeto (como se não estivesse pronto).
Mas Senhor, o projeto está pronto é só assinar.
Nada disso, temos que dar a “cara da instituição”, vamos nomear uma equipe e eles vão desenvolver algo semelhante, mas a nossa solução vai ser para a população auxiliar na gestão da cidade!
Exatamente o que eu disse no começo Sr… Temos isso pronto para vocês, outras instituições já estão fazendo desse jeito.
Não, é diferente…Obrigado e parabéns pelo trabalho, qualquer coisa entramos em contato. Quando lançarmos a nossa vocês podem ser nossos parceiros, certo?

Qualquer solução, desde que seja a minha

O viés do “não inventado aqui” é pessoal, porém acaba maculando as instituições. Uma maneira de entender o forte apego às próprias crenças, falas, processos e práticas é monitorando o fenômeno dos acrônimos nas instituições. Eles proporcionam a sensação de conhecimento secreto e exclusivo, uma linguagem cifrada única e importante que protege a entrada de outras ideias no círculo fechado de quem está dentro.
Repare em sua instituição (e nas outras) a quantidade de siglas em projetos e departamentos que poderiam certamente trabalhar em conjunto, facilitando a gestão do conhecimento e a inovação. A busca acaba sendo pela autoria e não pela solução real dos problemas.

A solução é compartilhar ao extremo

Em tempos passados quando poucos detinham acesso à informação, até poderia fazer sentido preservá-la na busca pela invenção da roda. Hoje, claramente isso é prejudicial (o debate de patentes médicas ilustra bem esse ponto) especialmente quando falamos de governo e bens públicos, pois somos nós que financiamos o ego dos gestores que sonham em re-inventar a roda. Todo mundo quer ser “o pai da criança bonita”.
Para estimular a inovação até grandes empresários estão abrindo suas patentes. Ao compartilhar, podemos acelerar o processo de criação e alcançar soluções novas e melhores. Vale lembrar que algumas instituições públicas fazem questão de convidar outras para conhecerem seus projetos e compartilhar conhecimento com as outras, e curiosamente são essas instituições que são vistas como modernas e inovadoras.

Por André Tamura

Pai e Marido. Fundador e Diretor Executivo da WeGov. Empreendedor entusiasta da inovação no setor público e das transformações sociais. Estudou Administração de Empresas e Ciências Econômicas. Desde que trabalhou como operário de fábrica no Japão, tem evitado as “linhas de produção”, de produtos, de serviços e de pessoas. Em 2017, foi condecorado com a Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro.

Gabriela Tamura
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Precisamos acabar com estigma dessa profissão tão honrosa.

Quando falamos em serviços públicos, costumamos pensar nas três grandes áreas: Saúde, Educação e Segurança. Essas atividades fins são compostas essencialmente por médicos, professores e policiais. Mas ser servidor público vai muito além disso.

1. Servidores Públicos trabalham, muito;

Pessoas fantásticas que conheço e trabalham muito, são da esfera pública. Conheço servidores que fazem muito mais do que suas atribuições ‘legais’, eles vão além do ambiente interno. Servidores que estão trasnformando a realidade do Brasil, que se preocupam com a transparência, participação popular no governo, combate à corrupção e que vestem a camisa sendo servidores inspiradores!.

2. Servidores Públicos precisam ser reconhecidos e motivados;

O trabalho é mediador de integração social, seja por seu valor econômico que propicia a subsistência, seja pelo valor simbólico, intervindo na constituição dos modos de vida, com a presença cotidiana e as relações sociais.
Através do trabalho, as pessoas esperam poder experimentar a sensação de que contribuem para a consecução de objetivos sociais e pessoais e de que se está aprimorando como profissional e pessoa. Diversos estudos relacionam depressão à profissão dos servidores públicos. Ser um servidor deixou de ser uma profissão honrosa e passou a ser um malogro, atividade vinculada a não fazer nada e ter uma vida estável.
Se de um lado a sociedade os enxerga com maus olhos, do outro o próprio servidor não encontra estímulos para prestar um serviço público de qualidade, pois são poucas as instituições que possuem ações de recompensa e reconhecimento pelo bom trabalho. Precisamos valorizar e, consequentemente motivar os servidores públicos que trabalham com afinco para o bem da sociedade, desta forma todos ganhamos.
Você já elogiou um servidor público hoje?

3. Servidores Públicos desejam aperfeiçoar o serviço que prestam;

Constantemente recebemos pedidos de servidores públicos que desejam fazer algum curso ou participar de algum evento para aperfeiçoar o serviço prestado. Servidores Públicos que não têm o apoio da instituição e que pagam por conta a capacitação. Sem contar os que possuem apoio institucional e que participam dos nossos cursos. Por ano capacitamos mais de 1000 servidores públicos. E em todos os cursos e eventos eles permanecem do início ao fim com o olhar de pessoas famintas pelo aprendizado.
Vale lembrar que as práticas burocráticas e desnecessárias que todos nós temos que enfrentar, também são apontadas negativamente pelos próprios servidores que lidam com isso. Existem mil razões para um serviço público não funcionar bem e nem sempre a responsabilidade é do servidor que está ali prestando o serviço.

4. Servidores Públicos buscam trabalhar com transparência;

Existe um movimento muito bacana de servidores públicos que desejam melhorar a estrutura dos dados para abrí-los à sociedade. Isso ainda não ocorre da forma que deveria mas já é algo real em andamento. Muitos servidores já estão vendo a melhor forma de disponibilizar os dados para a sociedade. Como exemplos temos a CGU, o Movimento Minas, Ministério Público de Santa Catarina, iGovSP e a Prefeitura de Altinópolis entre tantas outros. Nessas instituições, estão os servidores públicos.

5. Servidores Públicos não são políticos e políticos não são do mal;

Há uma certa confusão e preconceito em relação aos servidores públicos pois são normalmente confundidos com políticos que são ainda mais estigmatizados. O que o cidadão precisa entender é que “uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa”, não tão diferentes, mas distintas.
Políticos são servidores/agentes públicos, mas servidores públicos nem sempre são políticos.
Ambos devem estar interessados pelo bem comum, aliás este é o propósito de trabalhar para o Governo e se forem contra esta ideologia estão errados, são exceção e vão perder cada vez mais espaço. Muitos servidores que teriam condição de melhor remuneração e reconhecimento na iniciativa privada não o fazem, pela motivação intrínseca e verdadeira de servir ao público.
Os seres humanos incompetentes e mal-intencionados vão existir em todos os setores. Além de políticos e servidores públicos, essas pessoas estão o tempo todo nas empresas privadas, na fila do supermercado e no trânsito ao seu lado.

6. Servidores Públicos precisam da sua ajuda

Para servir ao público você não precisa necessariamente ser um servidor de carreira, você pode e deve colaborar com a gestão pública. Acompanhe as diversas ações de empreendedores sociais, isto é a inovação! Servidores e Cidadãos juntos por uma sociedade mais justa, transparente e melhor.

Conclusão

Se você perceber colocamos seis coisas, e achamos que há muito mais sobre servidores públicos que você precisa saber. Tentamos sempre entender a realidade dos servidores.
Tem mais alguma coisa que precisamos saber? Deixe sua opinião nos comentários 😉

Por Gabriela Tamura

Fundadora e Diretora de Negócios da WeGov. Administradora Pública graduada pela Universidade do Estado de Santa Catarina, Pós-graduada em Gestão Pública pela Universidade Aberta do Brasil. Resiliente de plantão começou seu relacionamento com o setor público há 12 anos. Conhece bem a realidade do governo e resolveu ajudar.
Foi agraciada com a medalha do Exército Brasileiro em função dos serviços prestados à Nação pela WeGov.

Gabriela Tamura
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Resumo do capítulo 6 do eBook "Dá pra fazer", e entrevista com Isabel de Meiroz Dias

O livro “Dá pra fazer” é um conjunto de relatos experimentais dos membros da equipe da Assessoria de Inovação em Governo (iGovSP) sobre inovação na gestão pública. O livro orienta os gestores públicos sobre o tema, desde a fundamentação e motivos para inovar em governo até a apresentação de métodos e alternativas para iniciar o processo de mudança no setor público.

Práticas de inovação em Gestão Pública

O capítulo detalha uma série de abordagens, ferramentas, casos e perspectivas sobre e para a inovação, sem a pretensão de ser uma lista exaustiva, mas sim uma ilustração de que a inovação já está acontecendo, hoje, em um governo perto de você.
Isabel inicia o capítulo com a reflexão de que no setor público o que impera é a escassez, o servidor está sempre com a sensação de que não consegue nem entregar o “feijão com o arroz”… como então podemos inovar em um cenário como este? Não deveríamos deixar a inovação para o setor privado que possui mais recursos e agilidade?
Para a autora é justamente em um cenário de limitação de recursos e de demandas crescentes que a inovação se torna mais fundamental: a verdadeira necessidade gera a verdadeira criatividade.
Existem diferentes tipos de inovação, desde melhorias contínuas até quebras radicais de paradigmas. Isabel acredita que, no dia-a-dia, inovação significa melhorar como trabalhamos, e gerar pequenos “milagres” diários, ao entregar muito com poucos recursos. Ela apresenta alguns exemplos que mostram que a inovação é possível:

Redes informais de inovação e a importância dos orquestradores

A primeira ferramenta na caixa do gestor inovador deve ser o grupo de organizações e indivíduos na sua área de atuação, espalhados pelo Brasil e pelo mundo, que estejam liderando o debate sobre as questões relevantes para o seu serviço. Publicamos anteriormente um resumo sobre o capítulo que Ana Neves descreveu estas redes sociais, e as ferramentas que as apoiam.
A autora cita algumas maneiras que os governos possuem de estimular a criação destas redes, como no Reino Unido (agência de fomento, como a Nesta; think tanks como a IDeA – Improvement and Development Agency e um modelo que reúne os dois anteriores e é um movimento autogerido, composto por um conjunto de iniciativas que têm como características principais o uso intenso de mídias sociais, a ausência de hierarquias e a participação 100% aberta e voluntária).

Gestão de projetos ágeis

A autora afirma que outra ferramenta fundamental para o gestor inovador é uma metodologia de gestão de projetos. Sem elas, não há como garantir que a inovação será entregue dentro dos requisitos definidos, assim como prazo, qualidade, e custo.
A metodologia de gestão de projetos é conhecida, mas a ágil é fundamental para que os indivíduos sem experiência nas metodologias de gestão de projetos convencionais possam aprender rapidamente tornando o trabalho em equipe mais transparente e produtivo.
Para a autora a experiência em gestão de projetos ágeis trouxe uma série de aprendizados, tais como: ter entregas concretas a cada fim de ciclo; quebrar a entrega em tarefas e saber quem está fazendo o quê e quando; ter lista de produtos; post its ajudam e deixam o processo mais visual, facilitando o compartilhamento de tarefas e incentivando a pró-atividade.

Governança de projetos, governança de TI e o papel das rotinas

Intuitivamente, criatividade e inovação estão associadas à informalidade, espontaneidade, ausência de regras. A autora concorda com essa visão.
Entretanto, ela ressalva que é necessário um equilíbrio. Ainda que a informalidade seja fundamental para que novas conexões sejam feitas, e para que ideias germinem, Isabel não acredita ser possível que inovações floresçam e frutifiquem sem uma infraestrutura ao seu redor, que garanta que os nutrientes, ar e água cheguem na medida e hora certa para que a sementinha se transforme em árvore frondosa.
É neste sentido que enxergo a grande importância de rotinas formais, isto é, processos, que deem o compasso, coerência e certo grau de previsibilidade ao trabalho, e que sejam pontos de controle para garantir que os passos importantes estão sendo dados e reconhecidos, além de atuar como balizas segundo as quais os times avaliam seus trabalhos.

Gestão de desempenho

A gestão de desempenho é a utilização de indicadores para apoiar as decisões de gestores referente à entrega dos serviços pelos quais são responsáveis e quando bem utilizada pode ser uma ferramenta muito útil nas mãos dos gestores inovadores.
Com base nos ensinamentos da Stacey, Isabel desenvolveu um roteiro em quatro etapas para guiar o processo de criação de indicadores de desempenho:
O que QUEREMOS medir; Qual a EVIDÊNCIA; COMO iremos medir; Para que iremos USAR;

Metas

A autora afirma que os indicadores não servem apenas para os serviços prestados diretamente pelo governo, mas também para o caso de fornecedores. Eles devem cumprir o estabelecido em contratos, mas é preciso que metas sejam continuamente revistas e adequadas no dia a dia dos serviços.
Por estes motivos é que indicadores de desempenho tendem a funcionar melhor quando são desenvolvidos pela própria área responsável por entregar os serviços, em conjunto com fornecedores, além de acompanhados e revistos periodicamente.

Participação

Inovação não é um esporte individual. Um gestor criativo pode até inventar mil maneiras de melhorar um serviço, mas só envolvendo os demais interessados é possível colocar em prática uma inovação que faça diferença. Portanto acredito que as ferramentas mais importantes na caixa do gestor inovador são aquelas que incentivam a participação, facilitando um governo aberto.
A autora afirma que as iniciativas de engajamento ainda são exceção, mas que há luzes no fim do túnel. O Brasil, por exemplo, é referência mundial em orçamento participativo, e a experiência pioneira de Porto Alegre hoje já se expande para um grande número de cidades brasileiras. Outro caso nacional importante é o da consulta pública para o marco civil da internet. Ou seja, o engajamento é possível, e o digital apoia, mas o mais importante é o desejo e a ação de envolver outras pessoas na tomada de decisão e no desenho de serviços.

Participação começa em casa

Para a maior parte das organizações há ainda um longuíssimo caminho para se chegar a uma cultura verdadeiramente colaborativa. Ainda assim, mesmo em uma estrutura quadradinha dá para inserir singelos eventos de colaboração, que ajudem a suavizar os excessos hierárquicos.

Localismo

Uma maneira interessante de promover a participação de cidadãos é focando em grupos mais próximos. Existem diversas definições do que é localismo, mas em síntese trata-se de uma preponderância de soluções locais, desenvolvida por grupos relativamente menores e geograficamente próximos, em oposição a decisões tomadas por um organismo central e distante. Uma outra discussão interessante em torno desse tema é o hiperlocalismo, expressão usada especialmente no contexto de mídias sociais. Trata-se do desenvolvimento de comunidades virtuais ligadas a uma vizinhança.

Co-desenho e co-produção

Uma ideia que é consequência direta da aplicação prática do localismo em gestão pública é a necessidade de se desenvolver serviços locais em conjunto com parceiros de fora do governo, como o terceiro setor, cidadãos, outras instâncias e outros departamentos de governo, bem como fornecedores privados. Essa necessidade traz para o centro do debate o co-desenho e a co-produção, que versam mais especificamente sobre o envolvimento de cidadãos e usuários no processo de prestação de serviços desde sua concepção (desenho) até a entrega final (produção).
Isabel encerra o capítulo afirmando que a gestão do conhecimento transforma o ambiente organizacional, facilitando que inovações profundas e de grande escala ocorram. E parafraseando o que os autores do livro pensam sobre a relação entre gestão do conhecimento e inovação:

“Vejo a inovação como que um processo da gestão de conhecimento, no fundo, uma forma de criar e de utilizar.”
Ana Neves

“Toda inovação é incorporação de conhecimento novo (a processos, organização, produtos etc.). Mas nem toda gestão do conhecimento consegue efetivamente incorporar conhecimento novo a processos etc., embora possa pretender. Porém, toda incorporação da gestão do conhecimento (como processo) a uma organização (que não a tinha) é inovação. E também, sim, há inovações que incorporam conhecimento sem qualquer gestão do conhecimento (como processo organizado). E, por outro lado, toda gestão da inovação (como processo de uma organização) é necessariamente gestão do conhecimento (para incorporar conhecimento novo….)”.
Sergio Bolliger

“Entendo que a prática da gestão do conhecimento se revela pela criação de um ambiente de trabalho centrado no uso de métodos, técnicas gerenciais e ferramentas tecnológicas que estimulem a geração continuada de inovações (P&D, Organizacional ou Marketing).”
José Antônio Carlos

“Inovação é valor percebido pelo mercado, que se dá na entrega, na adoção e na relação de pessoas com produtos/serviços/ideias. Se a gestão do conhecimento ganha essa percepção, creio que é quando entende-se o processo ou arranjo criativo que levou à inovação. Algo de meios e fins. Penso que gestão é meio, é processo, é ambiente, que podem ou não serem DE inovação, mas sempre PARA inovação.”
Alvaro Gregório

Entrevista Isabel de Meiroz Dias

Isabel de Meiroz Dias é graduada, mestre e doutora em administração pela FEA-USP. Além de contribuir para o iGovSP, é também assessora especial da presidência no Proderj. Foi analista de negócios estratégicos no Royal Borough of Kingston, governo local na Grande Londres, Reino Unido. É consultora em estratégia, inovação e uso de tecnologia de informação. Foi professora de cursos de graduação e pós-graduação em instituições como IBMEC, UFRJ e FUNDAP.
Gabriela: Percebi que as práticas de inovação que você citou muitas podem ser nomeadas como práticas de gestão. Podemos dizer que inovar é gerir bem os recursos que temos?
Isabel: Em muitos casos gerir bem recursos escassos é sim uma inovação. Qualquer ação que permita melhorar oferecer um serviço melhor, ou ampliar o escopo de um serviço existente, é sem dúvida uma inovação.
Porém, mais que isso, práticas de gestão como co-produção, gestão do conhecimento, ou mesmo métodos ágeis de gestão de projetos criam um clima propício para a inovação dentro das organizações, e possibilitam que boas ideias surjam e saiam do papel.
Gabriela: Qual o case de inovação em governo que você viu acontecer que foi mais simples e impressionante?
Isabel: Tendo a me impressionar quando testemunho a dedicação de servidores públicos que, muitas vezes nadando contra a corrente, vão além das suas obrigações básicas, superando inúmeros obstáculos para melhorar o serviço aos cidadãos.
O Prêmio Mario Covas sempre traz inúmeros exemplos assim. Me lembro que na primeira edição do prêmio, em 2004, uma diretora de escola de cidade pequenina do interior recebeu uma menção honrosa por ter conseguido patrocínio na cidade e obtido um link de internet para o uso de professores e alunos.
Gabriela: Muitas pessoas tentam fazer algo inovador no setor público, mas não sabe por onde começar. Você tem alguma dica/conselho para essas pessoas?
Isabel: Na minha opinião o ponto de partida não é a inovação. É a vontade de resolver um problema, ou melhorar uma situação. E para tanto, é fundamental envolver tanto os usuários do serviço como aqueles responsáveis pela entrega do mesmo. A inovação é apenas uma consequência.

Por Gabriela Tamura

Fundadora e Diretora de Negócios da WeGov. Administradora Pública graduada pela Universidade do Estado de Santa Catarina, Pós-graduada em Gestão Pública pela Universidade Aberta do Brasil. Resiliente de plantão começou seu relacionamento com o setor público há 12 anos. Conhece bem a realidade do governo e resolveu ajudar.
Foi agraciada com a medalha do Exército Brasileiro em função dos serviços prestados à Nação pela WeGov.

Gabriela Tamura
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Resumo do Capítulo 3 e entrevista com José Carlos "Pepe".

O livro “Dá pra fazer” é um conjunto de relatos experimentais dos membros da equipe da Assessoria de Inovação em Governo (iGovSP) sobre inovação na gestão pública. O livro orienta os gestores públicos sobre o tema, desde a fundamentação e motivos para inovar em governo até a apresentação de métodos e alternativas para iniciar o processo de mudança no setor público.
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Por Gabriela Tamura

Fundadora e Diretora de Negócios da WeGov. Administradora Pública graduada pela Universidade do Estado de Santa Catarina, Pós-graduada em Gestão Pública pela Universidade Aberta do Brasil. Resiliente de plantão começou seu relacionamento com o setor público há 12 anos. Conhece bem a realidade do governo e resolveu ajudar.
Foi agraciada com a medalha do Exército Brasileiro em função dos serviços prestados à Nação pela WeGov.

Gabriela Tamura
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Resumo do Capítulo 2 e entrevista com Sérgio Bollinger

O livro “Dá pra fazer” é um conjunto de relatos experimentais dos membros da equipe da Assessoria de Inovação em Governo (iGovSP) sobre inovação na gestão pública. O livro orienta os gestores públicos sobre o tema, desde a fundamentação e motivos para inovar em governo até a apresentação de métodos e alternativas para iniciar o processo de mudança no setor público.

A coluna ‘Dá pra fazer’

No texto passado fizemos um resumo e uma entrevista do primeiro capítulo do livro com Senhor Roberto Agune. Neste seguimos – pela ordem dos capítulos – com o Senhor Sérgio Bolliger que escreveu sobre a inovação depois da nova gestão pública.
Depois do resumo você pode conferir a entrevista que realizamos com o autor. Aproveite 🙂

Inovação depois da Nova Gestão Pública

Resumo do capítulo: Sérgio Bolliger inicia o segundo capítulo do livro “Dá pra Fazer”propondo uma releitura da tradição inovadora chamada Nova Gestão Pública, fala sobre a passagem do gestor público do centro do processo de inovação para o papel de facilitador – integrador da inteligência coletiva dos cidadãos e aponta a necessidade de novos formatos organizacionais.
Para ele a inovação do século XXI não vai contra a inovação do século XX o que muda é o lugar do agente público, como ele se posiciona em relação ao processo de inovação.

O Gestor Público no Centro (Nova Administração Pública)

Bresser Pereira impulsionou a reforma federal de 1995-98 que identificava a inovação nos anos 80 e que ficou conhecida como “nova gestão pública”. Antes desta reforma não existia a figura do Gestor Público, quem trabalhava para o Governo era chamado de Agente Público. Quando Bresser Pereira fala do gestor no centro refere-se ao centro das reformas na gestão pública, atribuindo aos gestores maiores responsabilidades.
A nova gestão pública tinha a intenção de romper com a era burocrática onde o agente poderia fazer apenas o que estivesse na lei, a ideia era colocar o gestor no centro, de forma mais autônoma.
O autor afirma que não podemos dizer que estivemos estagnados, mas, em sua grande maioria, as inovações em gestão nasceram da iniciativa e inventividade do agente público no exercício de suas funções, do entusiasmo frente às soluções que poderiam ser carregadas para o setor público. E é por isso que conclui: o gestor estava no centro.

O conhecimento no centro (e a reforma de fato ocorrida)

Sérgio ainda afirma que o conhecimento tecnológico e organizacional do setor privado não poderia, simplesmente, ter sido transmitido ao setor público. Ele foi passível, em alguma medida e, com isso, ser informado aos agentes públicos e por eles interpretado. Porém, a sua incorporação aos processos não poderia ter acontecido sem a sua recriação nos processos efetivos do setor. E, inclusive, mesmo que nenhuma adaptação tenha ocorrido na introdução de uma inovação privada no setor público, ela não teria se dado sem que o agente público a tivesse incorporado ao processo. Por isso o autor conclui que coincidiram, à época da nova gestão pública, o fato de que agente público esteve no centro da reforma com o fato de que, no centro dela, estava o conhecimento.

O centro se desloca (e o futuro)

Para o autor a emergência da palavra “inovação” como conceito-chave assinala mudanças no modo de inovar – alteração no modo de incorporar conhecimento novo aos processos. E, se antes tínhamos o gestor público como o lugar necessário dessa incorporação, temos agora um deslocamento do seu lugar no processo de inovação. Dentre os conceitos correlacionados à inovação Sérgio dá destaque ao da inovação aberta e do emprego da inteligência coletiva.
O autor aponta que o relacionamento com o usuário de serviços é totalmente atravessado pelo inter-relacionamento entre os usuários e cidadãos, sobretudo por meio das redes sociais. Sua participação na avaliação, ideação e elaboração de serviços e de políticas públicas passa a se dar em um novo terreno, público e não mais individualizado entre cada cidadão e a organização pública. O agente público é chamado a atuar, como representante de sua organização, nesses espaços. E, mais do que isso, a criar tais ambientes de discussão e colaboração.
Com a exigência desses novos formatos e do novo papel para o agente público, delineia-se uma nova fronteira institucional para a inovação governamental

Entrevista Sérgio Bolliger

Inovação depois da Nova Gestão Pública
Sérgio Bolliger é arquiteto e mestre em filosofia. Atua na Assessoria de Inovação em Governo – iGovSP. Trabalha na área pública desde 1978, na Prefeitura e no Governo do Estado de São Paulo. Dedicou-se a obras públicas e à gestão e redesenho organizacional e de serviços. Participou da implantação e da gestão do Poupatempo.
Gabriela Tamura: Assim como as palavras que inspiravam inovação no século XX como desburocratização, gestão por resultados, qualidade total, descentralização e tantas outras já não soam tão inovadoras nem tão certeiras você acredita que a “inovação” pode cair no mesmo vazio uma vez que a alta administração das instituições já está cansada de modismos?
Sérgio Bolliger: O capítulo se refere àquelas palavras (desburocratização, qualidade total etc.) como “palavras-guia” e sem qualquer ironia. Quis caracterizá-las como condutoras de autênticas inovações, origem de muito do que temos hoje consagrado, embora o resultado seja limitado. Sim, elas suscitaram também modismos. Mas a desilusão de administradores com elas tem um endereço certo: sua relativa e progressiva perda de fertilidade, o fato de não entregarem tudo o que prometiam e inspirarem cada vez menos confiança de que valha a pena segui-las (de que pagam o custo e esforço). A designação genérica como “modismo”, entretanto, pode dificultar a análise e encobrir razões mais profundas da redução de fertilidade.
O modismo, em tese, é algo mobilizador, mas de fôlego curto e que se esgota sem um legado significativo. Normalmente associado a “modelos” tomados como receitas de sucesso. Porém, aquelas palavras-guia não podem ser pensadas assim e nem identificadas a modelos inspirados por elas. Elas deixaram um legado, para além de “modelos” – seja de desburocratizar, seja de gerir a qualidade etc.; e bem além do modismo em torno desses modelos. Na moda ou fora dela, elas inspiraram uma série de iniciativas inovadoras mais ou menos desorganizadas, com ou sem obediência a seus “modelos”; e o que legaram foi inovação, que não se confunde com modelo para inovar. Inovação: conhecimento gerado e incorporado na efetiva mudança da paisagem governamental. Por outro lado, quando falo da emergência de “inovação” como nova palavra-guia, não quero assinalar a chegada de uma “nova inovação”, um novo modelo para inovar, uma novidade a mais que substituiria outras “inovações”, que teriam ficado obsoletas. A emergência dessa palavra seria, em boa medida, consequência do vazio deixado por aquelas outras palavras. Ela clama pelo que aquelas antigas palavras geravam e parecem não mais gerar. Ela, antes, celebra o que as antigas palavras fizeram e procura resgatar algo que elas perderam, seu poder de gerar o novo.
Outra coisa é que, exatamente como as antigas “palavras”, “inovação” também vem inspirando iniciativas inovadoras, igualmente mais ou menos desorganizadas; inclusive com a criação de alguns “modelos para inovar”, assim como técnicas e ferramentas que passam também a circular como “modelos”. E, com isso, “inovação” decididamente entrou na moda. Faz tempo; há tanto, mais de dez anos, que até poderia sair. O que não significaria cair no “vazio dos modismos” e nem no vazio das anteriores palavras-guia que, no meu entender, não é de mesma natureza que o “vazio dos modismos”.
A tese do capítulo é a de que a perda de vitalidade das antigas palavras-guia está ligada a razões profundas, não à superfície onde flutua o modismo. O que passou não foi apenas a “moda” . As razões seriam que a produção do “novo” (geração de conhecimento e sua integração aos processos de trabalho) se deslocou para fora das organizações; ou seja, que os funcionários e servidores não mais conseguem concentrar, apenas no seu conhecimento e atividade, o impulso de inovar. Palavras-guia e modelos de inovar centrados na mobilização apenas dos agentes públicos no interior das organizações não produz mais inovação; ou, ao menos, não na medida da resposta que as necessidades e oportunidades atuais requerem. Assim, por exemplo, embora não considere que “qualidade total” tenha sido um mero modismo (e sim que apontava para um avanço imenso em serviços no início da década de 90), entendo que hoje não basta mais organizações e seus agentes pretenderem padronizar, certificar serviços públicos segundo a ISO e iniciarem a melhoria contínua. Os formatos flexíveis de serviço exigem que o agente público se desloque, ceda espaço e orquestre a participação colaborativa de agentes sociais para além do controle organizacional e das equipes, não só no desenho, mas também no provimento de serviços. É disso que o capítulo trata.
Gabriela Tamura: Então a forma de inovar está mudando?
Sérgio Bolliger: O modo (social) de inovar mudou, com novas oportunidades e necessidades (nessa ordem). E deixou as palavras-guia e os modelos de inovar anteriores no vazio, sim. Mas nesse vazio: o da mudança das necessidades e oportunidades que os fundavam e para os quais davam resposta. Isso não significa que todas as tarefas anteriores e modelos para atingi-los estejam obsoletos; mas requerem adequação e, de per si, não conseguirão dar resposta aos novos padrões e ritmos de inovação.
Outra tese do capítulo é a de que “inovação” passou a ser palavra-guia justamente por causa dessa mudança do modo de inovar. A interpretação desse modo e sua formalização, por sua vez, deu origem a novos conceitos e “modelos para inovar”, em especial o de “inovação aberta”. Nada do que antes propugnavam as antigas palavras-guia corresponde ao conceito de inovação aberta. Então, sim, esse conceito, assim como técnicas e ferramentas associadas se apresentam como “novas” inovações, novidades a serem consideradas pelo setor público.
Gabriela Tamura: E haveria então o risco de caírem no vazio dos modismos?
Sérgio Bolliger: Por um lado, não, porque estão fundadas em autênticas oportunidades e necessidades atuais. Um “puro e simples modismo”, ao contrário, mobiliza sem essa ancoragem; ele flutua tão só na especulação de possibilidades abstratas descoladas de condições efetivas. Mas, por outro lado, há o que podemos chamar de “modismo na implantação”; e, no que diz respeito a esse, sim, avalio que os modelos, técnicas e ferramentas de inovação atuais correm todos os riscos de degenerarem e se transformarem em modismos.
Modelos entram e saem de moda. Às vezes, sem deixar traço, simples modismo. Outras vezes, de forma mais virtuosa: com sua incorporação aos processos de trabalho e à rotina estabelecida; restam como inovação incorporada, mas que perderam a capacidade de gerar mais inovação. Mas o problema é que modelos autenticamente inovadores podem também ser assumidos de forma tal que são literalmente esterilizados pelo ambiente ou pela rigidez de sua implantação; destruindo, de partida, seu potencial inovador. Isso estou chamando de “modismo na implantação” de um modelo inovador; e que, sim, pode cair no vazio dos modismos.
A esterilização de uma inovação pelo ambiente de trabalho ocorre quando um modelo, técnica ou ferramenta de inovação é adaptada e “flexibilizada” de forma a justamente não gerar o novo na organização, deixar a coisa como está. Por exemplo, uma maneira de esterilizar a inovação aberta seria restringi-la às fronteiras da organização, do departamento, ao âmbito dos agentes que têm a atribuição formal de prestar o serviço. Já a rigidez de implantação vai na direção contrária. Ela é que impediria que o novo pudesse ser gerado e integrado aos processos organizacionais, porque não considera as limitações do ambiente e da cultura organizacional. É quando os modelos viram “receitas”; a organização é mobilizada e todos agem, mas apostando pouco, sem realmente pagar para ver, um pouco “para inglês ver”. Cumprem, obedientes, rituais que não fazem sentido, avaliando, no fundo, que poderiam estar fazendo algo mais útil. Creio que muitos de nós já passaram por esse tipo de “projeto” em falso, dispensando exemplos. Invariavelmente, ao final, a organização carrega a culpa de não ter seguido perfeitamente o método, seja porque “a direção não se comprometeu”, seja por “sabotagem da máquina”.
Gabriela Tamura: E o que fazer para impedir isso?
Sérgio Bolliger: Antes de mais nada, levar palavras-guia, modelos, técnicas e ferramentas a sério. Mas isso nunca quer dizer seguir a receita, pelo contrário; isso significa entender bem o que esses instrumentos visam, para incorporar esses métodos, técnicas e ferramentas com bastante liberdade e respeito ao ambiente organizacional. Sem transigir, apenas, com o objetivo de garantir a geração e a efetiva incorporação de conhecimento novo.
A regra básica é apenas essa: é preciso viabilizar que emerja o novo das pessoas envolvidas no processo, que elas seriamente se sintam respeitadas nisso e que esse novo seja acolhido e testado; se isso não estiver acontecendo, algo deve ser reconfigurado. E, por isso mesmo, é também preciso ter sempre em conta que resultados desse tipo é que mobilizam, não promessas e moda. Resultados, quanto mais rápido e frequentes melhor. E desse tipo: resultados em termos de conhecimento gerado, testado e incorporado (eventualmente, em função dos teste, rejeitado; mas que, por isso mesmo, também acolhe e consolida um conhecimento organizacional).
Gabriela Tamura: A Reforma Federal ainda não chegou nos Municípios menores e Estados mais carentes. Como convencer os gestores públicos que a inovação na gestão pública é o caminho necessário se muitos não ouviram falar nem dos conceitos antigos do século XX?
Sérgio Bolliger: A rigor, a Reforma Federal, considerada em muitos de seus aspectos centrais, jamais chegou à efetiva implantação nem em Municípios maiores nem nos Estados com mais recursos. Eu me refiro, especificamente, aos aspectos institucionais da autonomia do gestor e responsabilidade social mediante controle democrático. No entanto, isso não impediu que, em parte motivados por essa promessa, muitos gestores tenham agido com grande autonomia e aberto espaço para inovações importantes.
Em especial, no campo da agenda daqueles “conceitos antigos” da desburocratização, qualidade total, gestão por objetivos etc. Enfim, da agenda de passagem da administração burocrática para a gerencial. Não de forma sistemática como políticas de gestão, mas produzindo resultados parciais aqui e ali, de forma desordenada.
É interessante notar que, com o impulso dessas inovações, muitas outras de uma agenda mais anterior ainda foram enfrentadas (da agenda de passagem da administração patrimonialista para a burocrática), como que pegando “carona”, puxadas no arraste da onda inovadora gerencial. Tudo isso também de forma bastante precária e parcial. Assim, é evidente que, por toda parte, há grandes tarefas a cumprir dessas antigas agendas. Não só nos Municípios menores. Acontece que, hoje, essas tarefas não cumpridas não conseguem mobilizar como antes nem gestores com iniciativa e, muito menos, instituições. Como disse, não porque saíram de moda, mas porque a agenda de inovação mudou e exige muito mais do que estava antes prescrito.
As organizações públicas, via de regra, estão pressionadas por essa nova agenda. Que, no meu entender reclama a exposição da organização à inovação aberta e à colaboração de usuários e fornecedores externos de soluções. Essa, no meu entender, seria a agenda que poderia hoje mobilizar os agentes públicos de maior iniciativa. E, a meu ver, é em torno dela, no “arraste” de uma nova onda inovadora, que tarefas não cumpridas das agendas antigas seriam enfrentadas.
Gabriela Tamura: O que você diria aos servidores públicos que querem fomentar a cultura inovadora na sua instituição?
Sérgio Bolliger: Falamos justamente de cultura, quando discutimos antes a onda inovadora no setor público no final do século XX. Ela foi algo, antes de mais nada, cultural, que atingiu as organizações de então. E temos algo a aprender dessa onda que passou; mas, para isso, além de celebrarmos a cultura de então, temos de prestar atenção a como os reais processos inovadores concretamente se deram, como emergiram dessa onda cultural.
Como dissemos, foram processos desordenados, parciais, interrompidos, que mal conseguimos reconhecer. Mas o que mais importa é que, fundamentalmente, foram processos que demandaram iniciativas inovadoras, só ocorreram por causa delas. Desordem, resultados parciais e processos interrompidos não ocorrem apenas quando há inovação e nem sempre quando há. E gosto de dizer que, pelo contrário, a “bagunça” nesse processo inovador é a que resultou de uma “ordem”: aquela que sufoca, que não permite o surgimento e estabilização de iniciativas inovadoras. Que, caso não fosse desorganizada pela “ordem”, poderia teria dado emergência a uma ordem inovadora, aquela em que as iniciativas têm livre curso.
Assim, quando falamos de “cultura inovadora” na instituição, temos de ser práticos e pensar no que essa cultura deve criar. Simples: oportunidades à iniciativa inovadora. Ações por uma cultura inovadora, em sentido amplo, todas importantes e bem vindas, devem ser endereçadas a isso. Pois, se a oportunidade à iniciativa inovadora não acontece, cairão no vazio.
Enfim, e dito com todas as letras: instituição com cultura inovadora é aquela que abre espaço a iniciativas inovadoras. Quer dizer: espaço para experimentar e fazer diferente. Mas se essas oportunidades e espaços não são institucionalizados, não podemos dizer que a instituição tem uma cultura inovadora. Pode, quando muito, ter pessoas com cultura inovadora, que travam suas batalha dentro da “ordem” não inovadora.
Por isso, a minha opinião é que a organização que quer fomentar a cultura inovadora deve se concentrar na abertura desses espaços à iniciativa (tanto dos funcionários, quanto de usuários e fornecedores). Não é fácil. Acho que, para todos nós, o mais difícil é entender e aceitar que a inovação é um “processo emergente”. Quer dizer: não um processo estruturado com atividades bem concatenadas em torno de objetivos definidos; mas sim algo cujo resultado emerge da massa crítica de uma série de iniciativas inovadoras, tentativas e ensaios em processos fracamente estruturados, e que pouco podem prometer, de partida, quanto a resultados. Algo que não é, mas pode parecer desorganizado e, por isso, pode enfrentar sérias resistências. E, é claro, algo que custa algum tempo, esforço e dinheiro. E mais: toda ampliação do campo de iniciativas que abrimos a colaboradores, toda autonomia que damos a eles, é também “distribuição de poder”; e, com razão, quem distribui quer ter alguma certeza de retorno da autorização que dá ao emprego de recursos públicos.
Por isso mesmo, a prudência sugere que trabalhemos com base em ensaios controlados. É perfeitamente plausível para toda organização deixar espaço a iniciativas, a experimentos, de tal forma que permita a emergência de uma cultura inovadora, sem comprometimento de seus recursos. Essa, aliás, é uma razão pelas quais a formalização de certas estratégias de inovação, como o design thinking, adote processos iterativos, com passos definidos de ideação, construção e teste de protótipos, depois pilotos, para só escalar a solução depois que a solução tenha emergido de forma mais robusta. São estratégias de validação não apenas formal da inovação, mas realmente experimental nesse sentido: o usuário pode experimentar o novo e influir na construção da inovação. Com estratégias como essa, por exemplo, a cultura inovadora pode ganhar espaços cada vez mais amplos na instituição. De todo modo, essa é apenas uma estratégia. O que poderia recomendar, de forma geral, é que aqueles que pretendem fomentar a cultura inovadora em suas organizações se concentrem na construção e ampliação de oportunidades e espaços institucionais que permitam a iniciativa inovadora dos colaboradores.

Por Gabriela Tamura

Fundadora e Diretora de Negócios da WeGov. Administradora Pública graduada pela Universidade do Estado de Santa Catarina, Pós-graduada em Gestão Pública pela Universidade Aberta do Brasil. Resiliente de plantão começou seu relacionamento com o setor público há 12 anos. Conhece bem a realidade do governo e resolveu ajudar.
Foi agraciada com a medalha do Exército Brasileiro em função dos serviços prestados à Nação pela WeGov.

Gabriela Tamura
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Resumo do Capítulo 1 e entrevista com Roberto Agune

O livro “Dá pra fazer” é um relato experimental de alguns membros da equipe da Assessoria de Inovação em Governo (iGovSP) sobre inovação na gestão pública. O livro orienta os gestores públicos sobre o tema, desde a fundamentação e motivos para inovar em governo até a apresentação de métodos e alternativas para iniciar o processo de mudança no setor público.
Continue reading “O Governo do Século XXI – [eBook] "Dá pra fazer"”

Por Gabriela Tamura

Fundadora e Diretora de Negócios da WeGov. Administradora Pública graduada pela Universidade do Estado de Santa Catarina, Pós-graduada em Gestão Pública pela Universidade Aberta do Brasil. Resiliente de plantão começou seu relacionamento com o setor público há 12 anos. Conhece bem a realidade do governo e resolveu ajudar.
Foi agraciada com a medalha do Exército Brasileiro em função dos serviços prestados à Nação pela WeGov.