Conversa com a líder e fundadora do The GovLab
Neste ano tive uma das conversas mais inspiradoras… entrevistei a Beth Noveck que lidera o GovLab – organização comprometida em transformar a maneira como se resolvem problemas públicos. A conversa me gerou algumas reflexões que compartilho abaixo:
1) O setor público precisa de novas ferramentas
Na maioria dos lugares, embora nem todos no mundo, nós estamos vendo um declínio na confiança nas instituições públicas. É fato que o Governo faz importantes e boas coisas para a sociedade. No entanto, o declínio de confiança demonstra que o setor público não está resolvendo tão bem os problemas como poderia. Os desafios que as democracias enfrentam são frutos de uma sociedade da informação que se vê diante de questões muito complexas e recentes. Tanto para essa sociedade quanto para o sistema democrático. Apesar disso, essa mesma sociedade foi capaz de produzir tecnologias que podem auxiliar o desenvolvimento de políticas e serviços públicos adequados para atender à pluralidade social que o Governo precisa representar.
O GovLab tem trabalhado para auxiliar nesse desafio de governança. As tecnologias que o GovLab cita que podem auxiliar nesse processo e que, portanto, está desenvolvendo são:
- Tecnologia de dados: O uso de big data, small data, open data, etc – irá ajudar na identificação de necessidades da população e monitorar a efetividade de políticas e serviços.
- Tecnologia de inteligência coletiva: Irá criar mecanismos para entender as pessoas, aumentando a gama de comunicação e ferramentas de colaboração.
Incorporar essas tecnologias pode gerar um impacto profundo na maneira que os governos tomam decisões, tornando-a mais co-criativa/colaborativa, mais centrada no ser humano e engajando/envolvendo mais pessoas.
2) O setor público precisa de uma nova mentalidade
Em muitos casos, o que os cidadãos vivenciam – o que acontece na sua própria vida quando se trata de questões importantes como desemprego, saúde pública, imigração – são problemas complexos que exigem pessoas de diferentes disciplinas e setores para resolver. Por vezes, as necessidades do cidadão não correspondem com a estrutura do governo e seus programas.
Por isso, nas palavras da Beth: “É importante que o trabalho do setor público tenha como partida a experiência do cidadão ao invés de obrigações legais e definições burocráticas do órgão. Isso é uma grande mudança cultural”. Esse tema tem começado a ser disseminado pelo nome Human-Centred-Design, que consiste em projetar soluções a partir das necessidades das pessoas.
As pessoas devem ser o foco e o setor público precisa estar com uma mentalidade orientada à prestação de serviço. Resolver os problemas dos cidadãos deve unir servidores, instituições, dados e recursos – tangibilizando em serviços e políticas públicas.
3) O setor público precisa resolver problemas reais
A Beth trouxe uma reflexão muito profunda sobre medição de desempenho. Não basta saber quanto investimos ou quantas pessoas foram atendidas por um programa específico – estes, são indicadores “meios”. Precisamos começar a medir o quanto que os programas mudaram a vida das pessoas para melhor – que são os indicadores “finalísticos”.
Ela descreve que, geralmente, as pessoas no governo celebram ao lançarem uma iniciativa ou inaugurarem uma obra e consideram o trabalho concluído neste momento. De fato, é legítimo a celebração desde que a equipe tenha a consciência do impacto que a iniciativa irá gerar e saiba a diferença que trará para a vida dos cidadãos – o que nem sempre acontece, infelizmente.
O que mais me espanta nisso tudo é o nível de conhecimento que os formuladores de política deverão ter da realidade dos cidadãos. Saber o que é “a vida de alguém melhorando” é algo muito difícil de saber como medir e inexoravelmente exigirá um acompanhamento muito mais próximo das pessoas afetadas. Foi nesse momento que entendi a relevância do que ela chama de “Tecnologias de Inteligência Coletiva”. Será necessário criar mecanismos para identificar o que é o “impacto” para cada iniciativa e mensurar desempenho ao longo do tempo.
Para conseguir isso, será necessário ir além do “Human-Centred-Design”. Não basta considerar as necessidades das pessoas. Será preciso envolver as pessoas para entender o que é importante medir – abrindo para que eles participem da decisão. Além disso, continuar em contato com essas mesmas pessoas para avaliar se estamos efetivamente resolvendo os os problemas delas.
É usar a tecnologia como ferramenta para resolver os problemas da Humanidade.