O caso de Lagoa Grande
Por Augusto Patrus e Bruno Volpini Guimarães
Lagoa Grande, um município de pouco mais de 9 mil habitantes no centro-oeste mineiro. Economia predominantemente baseada na pecuária leiteira (terceira maior bacia do estado), agricultura familiar e baixos índices de industrialização. Prefeitura com 370 funcionários que, em sua maioria, realizam funções mais generalistas e não possuem tempo hábil para pensarem em melhorias nos setores da Administração, pouco integrados entre si, ou para a Prefeitura como um todo. Neste cenário, como propor a inovação no setor público?
Primeiramente, uma breve explicação sobre o motivo de nós, de Belo Horizonte, estarmos em uma cidade a mais de 400 km de distância. Somos graduandos de Administração Pública da Escola de Governo da Fundação João Pinheiro, órgão referência em pesquisas públicas nacionais e formador de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental para o Governo de Minas. Desde o início de janeiro, estamos participando do PRINAGEM (Programa de Internato em Administração e Gestão Municipal), projeto de imersão que visa propor aos alunos uma vivência de 25 dias em Prefeituras Municipais, em sua maioria de cidades com baixos índices de desenvolvimento, por todo o estado de Minas Gerais.
Para resolver o problema relatado no início do texto, pensamos em um modelo de capacitação em inovação e empreendedorismo para funcionários dos mais variados setores da prefeitura – uma demanda, inclusive, passada pelo Secretário Municipal de Administração e Recursos Humanos. Assim, procuramos a Gabriela Caldas Tamura e a WeGov para nos ajudarem nessa empreitada, e o resultado não poderia ter sido melhor!
Em 2 horas e meia de dinâmica, explicamos, a servidores das mais diversas áreas da administração, o que é empreendedorismo e inovação, como os dois conceitos estão mais próximos do setor público brasileiro do que o senso comum imagina e, principalmente, como ser um agente da mudança da realidade local. Em especial, em meio à brusca queda de recursos originados de transferências estaduais: o Governo estadual deve pouco mais de R$ 4 milhões à cidade, o que corresponde a quase 14% do orçamento anual de uma cidade cuja arrecadação anual é 93,1% proveniente de transferências estaduais e federais.
Para isso, fizemos uso da Cartilha de Empreendedores, material do WeGov que orienta os servidores a tomarem boas decisões, conhecerem as políticas e personalidades do ecossistema em que estão inseridos, construírem uma comunidade para dar suporte à sua ideia, trazer a ideia à tona mesmo com o orçamento reduzido (algo presente aqui na cidade de maneira notória), e, por fim, resiliência. Após nossa explanação, foi aberto espaço para discussão. De longe, o momento de maior aprendizado do encontro.
Quando perguntado aos servidores quais os maiores problemas da cidade, e como resolvê-los de maneira inovadora (preferencialmente, gastando poucos recursos), foi consenso geral o seguinte cenário: Lagoa Grande, como já relatado no início do texto, é uma bacia importantíssima de leite para Minas Gerais, e abastece grande parte dos laticínios e mercados consumidores da região. Porém, não há beneficiamento suficiente do produto na cidade – somente uma fábrica produz queijos, e o restante dos derivados é produzido em cidades maiores próximas ao nosso município – o que torna os produtores rurais bastante dependentes do preço pago pelas cooperativas e ganhando bem menos do que poderiam se transformassem o leite que produzem em produtos com alto valor agregado. Além disso, os produtores rurais, por verem também que não ganham tanto dinheiro assim com a agricultura e pecuária, se desmotivam, buscam outras atividades e as associações e sindicatos rurais da cidade, cada dia mais, se enfraquecem, o que torna a situação um ciclo vicioso.
Se, anteriormente, era dado como problema a falta de integração entre secretarias, a integração entre funcionários de vários perfis na capacitação de hoje foi vital para que saíssemos com boas ideias para desenvolver a cidade: cursos de capacitação e planejamento financeiro para produtores rurais, parcerias com o Sistema S e associações da região para o fortalecimento da produção e aumento de arrecadação da cidade, etc… Tantas boas ideias, em apenas 2 horas!
Segundo o controlador-geral do município, Ivan Danillo Caixeta, “A capacitação foi muito proveitosa para pensarmos em soluções para os problemas do município, principalmente em relação à resiliência. Com certeza iremos empreender aqui na Prefeitura, tanto fornecendo as capacitações para os produtores rurais, quanto nos serviços que prestamos aqui na prefeitura, aliando inovação e qualidade diariamente”. Assim, a incrível experiência de hoje mostrou que a inovação pública não tem lugar somente em grandes centros como São Paulo e Brasília, mas em todos os cantos do país. Em busca de um serviço público de alto nível, e que impacte para melhor a vida de cada vez mais cidadãos.
Vidar Nordli-Mathisen
excelente exemplo onde um agente de mudança da realidade local pode fazer a diferença através da inovação #ATER4_0