Hermes e a Tábua de Esmeralda

Lincon Shigaki
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Uma lição de comunicação interna no Governo

Hermes Trismegisto é um personagem místico que desencadeou uma série de lendas e histórias. A essa figura são atribuídos os textos do chamado “Corpus Hermeticum”. Trata-se de um apanhado misterioso de textos que deram origem ao conjunto de crenças hermetistas. Os textos foram encontrados séculos depois da sua escrita pelos soldados de Alexandre Magno.
Ao longo da história, a figura de Hermes foi representada de diferentes formas. Na sua origem egípcia, foi o deus do conhecimento e da escrita – Toth. Na Grécia, Hermes é filho de Zeus e assume o papel de mensageiro e comunicador entre os mundos (quase um Social Media Gov). Mais tarde, foi retratado como influenciador de personagens bíblicos como Salomão e David.
Esse personagem é emblemático pela lenda da Tábua de Esmeralda. São 15 versos escritos em uma pedra misteriosa que renderam inúmeras histórias e influenciaram um suposto “movimento pela alquimia”. A tradução do latim para inglês foi feita por ninguém menos que Isaac Newton. Separei três versos em português para colocar neste texto:
É verdade, sem mentira, certo, muito verdadeiro
E assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas as coisas são únicas, por adaptação
O Sol é o pai, a Lua é a mãe, o vento o embalou em seu ventre, a Terra é sua alma

A reprodução de uma mensagem não compreendida

Segundo historiadores, os escritos sintetizam as Leis do Universo, capazes de resolver todos os problemas da humanidade. Por mais que se esforce, ela está muito desconectada do seu contexto e é natural que não faça sentido. Desta forma, a sua interpretação é subjetiva e criam-se inúmeras lendas sobre os escritos.
Percebe-se neste caso, que textos com ausência de sentido continuam sendo compartilhados por comunidades quando se constroem uma lenda sobre o assunto. E no caso, as “Leis universais” são explicadas por versos que não fazem sentido por si só.

Quem são os Hermes do século XXI? Qual é a Tábua de Esmeralda do Governo?

Existem muitos “novos Hermes” no setor público. São pessoas que adquiriram notório conhecimento e muitos seguidores. Ao mesmo tempo, parecem fazer questão de deixar as suas redações confusas para que a mensagem fique à controle da interpretação de “sábios”.
As atas, Comunicado Interno (CI’s), portarias, etc. muitas vezes parecem “Tábuas de Esmeralda”. Trata-se de uma tentativa de formalizar de forma breve, documental e ineficiente alguma informação que precisa ser compartilhada com a organização ou setor. Ao longo do tempo, essa informação é distorcida e criam-se lendas por terem semelhança com documentos divinos e intocáveis, sobretudo por não permitirem interação com o interlocutor.

Estratégias de Comunicação Interna e alinhamento da equipe

A ausência de uma estratégia de comunicação interna gera para o setor público: perda de tempo recebendo informações que não nos servem; retrabalho quando ocorrem duplicidade de interpretação sobre algum projeto; estresse com a falta de entrosamento; ruídos gerados pela “rádio corredor”, entre outros prejuízos.
Alexandre Araújo, escreveu um artigo sobre a implementação de um plano de Comunicação Interna no TCU. Um ponto enfatizado no texto é a importância de se compreender com profundidade o público-alvo, adequando a mensagem ao seu contexto específico. Fica evidente que o almejado alinhamento da organização é fruto do ajuste de instrumentos de comunicação, pessoas e conteúdo. Ou seguiremos escrevendo novas Tábuas de Esmeralda…

Por Lincon Shigaki

Lincon é Facilitador de Aprendizado da WeGov. Formado em Administração na Universidade Federal de Santa Catarina. Trabalhou com consultoria em gestão no Movimento Empresa Júnior, onde foi Presidente da Ação Júnior e da Fejesc. Acredita que podemos viver em um país melhor, e não consegue se ver fora do processo de transformação dessa realidade.

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