Ferramentas para o Laboratório

As ferramentas que selecionamos para esse curso são os conhecimentos e abordagens metodológicas para realizar algum ofício no laboratório. Cada uma tem uma função e, dependendo do resultado que se quer atingir, utiliza-se uma ferramenta específica ou uma combinação delas. Separamos 8 ferramentas que favorecem à inovação no setor público. Esperamos que te ajudem a realizar os projetos do seu laboratório de inovação!

1. Pesquisa ativa

Pesquisa ativa demanda um profundo envolvimento de formuladores de serviços e políticas com os usuários e atores relevantes. É uma forma de aprender sobre as pessoas, com o objetivo de identificar oportunidades de inovação. Os pesquisadores devem passar algum tempo vivenciando o “universo” do usuário, observando as suas rotinas, relações e emoções. Por meio dessa imersão, o pesquisador consegue deslocar sua visão desse universo para uma mais próxima à do usuário que estava sendo observado, de forma a “olhar com os olhos dos outros”, praticando efetivamente a empatia.

Para criar inovações que sejam “centradas no usuário” é importante conhecer a realidade de perto. A Pesquisa Etnográfica, por exemplo, tem origem na antropologia e é um método de pesquisa qualitativa bastante efetivo para essa proposta. Pode envolver observações de longa duração e sistematização de entrevistas em profundidade.

Ministério da Saúde utilizou a pesquisa etnográfica para gerar insights para o agendamento online de consultas do SUS.

Outros tipos de pesquisas são a Pesquisa Pop-Up ou Pesquisa com usuário, que consiste em um contato direto com potenciais usuários em seus ambientes rotineiros para fazer um levantamento sobre um projeto que está sendo desenvolvido.

Exemplos interessantes de utilização deste método são a do Governo Escocês, para descobrir como as pessoas utilizam espaços públicos; e a pesquisa “um dia na vida”, onde o CREA-SC estruturou um programa para servidores vivenciarem o rotina de trabalho em setores diferentes.

2. Economia comportamental

No ano de 2017, Richard Thaler recebeu o prêmio Nobel de Economia pela sua contribuição à Economia Comportamental, sobretudo pela teoria dos ‘Nudges’ – uma abordagem que guia as pessoas a tomarem certas decisões ao influenciar seus comportamentos. Apesar de ser um tema novo, existe um grande movimento para pesquisa e aplicação no setor público, como o Reino Unido que criou uma unidade exclusiva para trabalhar com Economia Comportamental em Governo.

Cidadãos e usuários precisam tomar muitas decisões para acessar políticas e serviços públicos, porém, foi comprovado que a maioria das nossas decisões são automáticas e não paramos para pensar/comparar todas as alternativas. A Economia Comportamental propõem que os “formuladores” dessas políticas pensem na arquitetura de escolhas, oferecendo incentivos e conveniência para que o usuário tome decisões que beneficiem a si e a sociedade como um todo. O Nudge é, portanto, um “empurrãozinho” para escolhas melhores, considerando os atalhos mentais que o cérebro usa nas decisões. Há estudos que comprovaram resultado em aumentar o número de doadores de órgãos, lembrar as pessoas de pagar a sua conta de água, de comparecer à consulta no posto de saúde marcada com meses de antecedência, entre outros.

3. Prêmios e Concursos

Os prêmios têm o objetivo de valorizar servidores ou equipes comprometidas com o alcance de melhores resultados. Alguns laboratórios utilizam essa estratégia para fomentar uma cultura de inovação, dando destaque e reconhecimento para os “inovadores” e suas ideias. Desta forma, comunica-se o apoio institucional a esse perfil de servidor, encorajando outras pessoas a se empenharem em projetos de inovação.

É o caso do Lab.Ges que realiza o Prêmio Inoves e a Enap/Gnova, que realiza o Concurso Inovação no Setor Público. No geral, as atividades para desenvolver um Prêmio envolvem criar um edital (com categorias e critérios) e convidar avaliadores. Além disso, oferecer as recompensas tangíveis (dinheiro, equipamentos, certificados, troféus, etc) e intangíveis (selos, menções, solenidades, espaço para palestras, apoio técnico, etc).

4. Escritórios colaborativos

Laboratórios que possuem um espaço próprio, geralmente deixam “as portas abertas” para que outros servidores, parceiros e usuários de políticas e serviços utilizem o espaço. Desta forma, diferentes públicos podem participar de reuniões, oficinas, eventos ou experimentar técnicas ligadas à inovação. Estes espaços possuem a função de aproximar os “inovadores” da organização, facilitando a troca de ideias e oferecendo um ambiente seguro para testar novas abordagens. Desta forma, a arquitetura, cores e mobiliário são projetados para potencializar as interações e à criatividade.

Existem ainda, modalidades alternativas como o Gabinete compartilhado, onde 3 parlamentares (de partidos diferentes) da Câmara e do Senado operam em um ambiente comum com o objetivo de promover a cooperação entre as suas equipes. Além desse, o Workitiba, da prefeitura de Curitiba é um coworking criado para atender a necessidade de pequenos microempreendedores que tenham como core business do seu negócio projetos de responsabilidade social.

5. Facilitação de processo estruturado para inovação

Outra prática presente dos laboratórios é estruturar ou adotar um processo de inovação, onde os “laboratoristas” conduzem e facilitam workshops, ou até programas extensos, que buscam desenvolver propostas inovadoras de solução. A estrutura é desenhada de forma a apresentar um conjunto de etapas/módulos, com suas respectivas atividades definidas previamente e agendada com os participantes. Os processos também são úteis para trabalhar com equipes multidisciplinares e disseminar técnicas orientadas à inovação. Desta forma, além da ‘solução final’, a experiência de participação se torna enriquecedora para o participante e para cultura da instituição.

O Design Thinking tem sido utilizado amplamente em instituições públicas – as suas fases – Imersão, Ideação e Prototipação – possuem um conjunto de possíveis atividades e dinâmicas que seguem os princípios da colaboração, empatia e experimentação. Outra abordagem também bastante utilizada é o Design Sprint. A sua estrutura é apresentada em 5 dias, onde os envolvidos devem seguir um cronograma de atividades para explorar o problema, gerar ideias e testar uma possível solução.

6. Hackathons

Hackathon é um tipo de evento que reúne profissionais de diferentes áreas em maratonas de trabalho com o objetivo de criar uma solução. É um tipo de programação de evento “mão na massa”, onde o participante integra uma equipe e trabalha no desenvolvimento de uma ideia. Geralmente, os hackathons promovem um “espírito de competição” já que é comum oferecer recompensas para as equipes vencedoras. Além disso, as maratonas podem ser úteis para disseminar técnicas ágeis de resolução de problemas, agregar conhecimentos de profissionais que atuam em diferentes setores (não necessariamente no setor público) e conceber soluções rápidas para desafios institucionais.

O Governo de Santa Catarina realizou a terceira edição do Hackathon #DesenvolveSC. O evento abordou os temas Saúde e Educação, e as equipes foram desafiadas a criar serviços digitais para o cidadão, utilizando a tecnologia PWA (Progressive Web Apps) ou IoT (Internet of Things). Outra experiência é o Hack Serpro 2019, onde os prêmios somaram R$30 mil para as equipes que desenvolveram soluções em inteligência artificial para proporcionar mais segurança no acesso ao portal gov.br.

7. Gestão ágil de projetos

Métodos tradicionais de gerenciamento de projetos possuem limitações quando precisam desenvolver inovação. Por isso, a gestão ágil de projetos surge como uma alternativa por propor técnicas flexíveis às constantes mudanças de escopo. Esse método é centrado em gerar valor para o usuário e promover a transparência e colaboração entre a equipe.
Algumas ferramentas e abordagens típicas de métodos ágeis são o Scrum e o Kanban, e começam a ser incorporadas em projetos no setor público. Os laboratórios podem utilizá-las para gerenciar projetos “incubados” ou capacitar gerentes de projetos, contribuindo para descentralização do uso das técnicas.

8. Participação popular e co-criação

Mais do que o direito a votar em representantes, as instituições estão criando métodos que permitem que a população influencie ou decida sobre políticas e serviços públicos. Essas práticas são importantes para trazer legitimidade às decisões e aproximar a instituição das demandas da sociedade. Os laboratoristas podem realizar sessões organizadas como reuniões, conferências e assembleias; ou ir até o cidadão, envolvendo-o na definição de indicadores, avaliação de serviços e dando ideias de melhorias.

A prefeitura de Porto Alegre (RS) realiza o Orçamento Participativo, onde a população decide de forma direta a aplicação dos recursos em obras e serviços que serão executados pela administração municipal. Você também pode envolver o cidadão em interações menores e menos complexas, consultando cidadãos em diferentes fases do projeto para validar hipóteses e coletar insights.

Conhecimento e prática

Um artista profissional e um leigo, ambos com as mesmas ferramentas – tintas, tela e pincel, produzem resultados radicalmente diferentes. Isso se deve a diferença de habilidades e prática. Desta forma, mais do que “ter” as ferramentas (um livro sobre scrum, por exemplo), o laboratorista precisa praticar bastante para produzir uma “obra prima”.

Estude, combine e experimente diferentes abordagens. Você irá “dominar” as ferramentas quando tiver praticado e eventualmente “fracassado” algumas vezes. Bom trabalho e conte com a WeGov para te apoiar! =)