Dia 60

Brasil e o CAF: Projetos de inovação social em municípios

Você já ouviu falar do Banco de Desenvolvimento para a América Latina (CAF)? Em 2018, quando aconteceu o Encontro Latino-americano de Inovação no Setor Público em Florianópolis – e, pela primeira vez, no Brasil -, o CAF foi um dos grandes parceiros para esse evento acontecesse.

O evento reuniu líderes públicos, organizações internacionais, acadêmicos, pensadores e profissionais do tema de diversos países da América Latina.

Convidamos Beatriz Guillén, que é Executiva-Principal de Inovação Social no CAF, para conversar conosco sobre o protagonismo do CAF na América Latina e quais projetos vêm sendo executados no Brasil.

WeGov – O que é o CAF e qual a sua principal missão?

Beatriz – Somos um banco de desenvolvimento constituído em 1970 e composto por 19 países – 17 da América Latina e Caribe e Espanha e Portugal – e 13 bancos privados da região. Promovemos um modelo de desenvolvimento sustentável, mediante operações de crédito, recursos não-reembolsáveis e apoio na estruturação técnica e financeira de projetos do setor público e privado da América Latina.

Em nosso DNA está apoiar o setor público. Ainda não temos números consolidados de 2019, mas em 31 de Dezembro ed 2018, a distribuição da carteira de empréstimos do CAF manteve uma concentração no financiamento de projetos do setor público, o qual representou 81,1% do total da carteira de empréstimos de $ 25.111 milhões de dólares.

Como e por que o CAF é um ator relevante para impulsar a inovação social?

Beatriz – A América Latina tem um alto potencial de inovação social, mas carece de um ecossistema que o potencialize. O CAF desempenha um papel chave na criação deste ecossistema de inovação social na região, por seu posicionamento, legitimidade e conhecimento regional; sua capacidade de financiar e mobilizar recursos financeiros e de conhecimento na área; sua capacidade de influenciar políticas públicas, de conectar distintos atores, setores e áreas. Em suma, promover a inovação articulando ideias, recursos e atores.

Por que a inovação social é importante em um contexto Latinoamericano? Como a sociedade pode se beneficiar dela?

Beatriz – Os resultados de impacto da inovação social já estão ao nosso redor – as microfinanças, serviços acessíveis de saúde, acesso a internet em zonas remotas. Podemos encontrar muitos exemplos próximos de nós de inovação social, entendida como definido por Geoff Mulgan ”novas ideias que funcionam para resolver necessidades sociais não atendidas e melhorar a vida das pessoas”.

A inovação social é uma tarefa urgente, porque a diferença entra a escala dos problemas sociais que enfrentamos e a escala de soluções que temos a oferecer apenas se faz crescer. Testemunhamos recentemente essa falta de soluções, que resultou em distúrbios sociais em nossos países – Chile, Bolívia, Peru, Colombia e outros ao redor do mundo.

É nesse contexto de instabilidade e descontetamento social que fica evidente a necessidade de encontrar respostas inovadoras capazes de dar uma resposta adequeda às demandas sociais. E necessitamos de novas formar de fazer as coisas, porque as respostas e soluções até então não têm sido suficientes.

E no Brasil, qual é a atuação do CAF e como tem apoiado o país?

Beatriz – No Brasil, CAF concentra seus esforços na aprovação de programas abrangentes multissetoriais para atender de maneira global às necessidades de desenvolvimento dos municípios e estados brasileiros, mediante ações setoriais e transversais para desenvolvimento urbano integral.

Destacam-se as atuações na área de saneamento básico, pesquisa, desenvolvimento e inovação, meio ambiente (biodiversidade, mudança climática e recursos florestais), mobilidade urbana e logístiac. Assim, no âmbito das ações soberanas, as aprovações são compostas de 4 programas integrais de desenvolvimento multissetorial no estado do Pará e nos municípios de Fortaleza, Caucaia e Sobral. Além disso, foi aprovado um empréstimo para um projeto de transporte urbano, especificamente para a construção da linha 17 do Metrô de São Paulo.

Por outro lado, dentro do setor não soberano, foi aprovada uma linha de crédito para o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), que contribuirá para financiar seu programa de microfinanças. Também foram renovadas as linhas de crédito rotativas para o setor financeiro direcionadas a microcréditos, PMEs lideradas por mulheres, eficiência energética e operações de comércio exterior. Além disso, foi aprovada a participação acionária no fundo de infraestrutura para o Brasil em associação com o BNB Paribas e o BNDES.

Com recursos de cooperação e desenvolvimento foram executadas cinco operações no território por um valor de $0,6 milhão. Deste montante, destacam-se os temas estratégicos dos campos de atuação como eficiência (58,5%), sustentabilidade (31,6%) e institucionalidade (10%).

Algumas das ações emblemáticas de cooperação para o desenvolvimento solicitadas pelo país foram:

Programa de assistência técnica para o município de Sobral: resíduos sólidos e transporte sustentável;

Treinamento em auditorias de segurança viária às agências executoras da CAF;

Estudos para a implantação do parque linear no município de Alagoinhas.

WeGov – Por fim, quais três conselhos você daria para um líder público que quer inovar em sua instituição?

Beatriz – Acredito que:

  1. Busquem parceiros em outros setores e que assumam um papel articulador entre os atores. Sozinhos não podemos fazer nada. Com o apoio de outros, podemos alcançar maior impacto;
  2. Que promovam espaços de aceleração da inovação em seus departamentos;
  3. E que não tenham medo ao fracasso. ”O caminho mais rápido para o sucesso é dobrar a sua taxa de fracasso”, Thomas Watson, fundador da IBM.