10 anos de WeGov - Uma Linha do Tempo de Transformação
A jornada da inovação no setor público é marcada por desafios, aprendizados e avanços significativos. Ao longo dos anos, essa jornada tem sido caracterizada por diferentes fases, cada uma refletindo o espírito e as necessidades de sua época. Este artigo explora a evolução da inovação no setor público, em um recorte temporal muito presente e recente, destacando momentos, desafios superados e as lições aprendidas nesse processo.
Antes de trabalhar com o tema da inovação já trabalhávamos com treinamento de servidores públicos. Nos últimos anos estávamos muito incomodados por ajudar a deixar as coisas do jeito que estavam. Nossos cursos não eram reflexivos nem propositivos. No curso de Formação de Pregoeiros imaginávamos como seria criar um curso de como transformar a 8.666/93 (e porque não dizer acabar com ela) e no Gestão de frotas e veículos nossa inquietação estava mais voltada para repensar sobre a mobilidade urbana, mas não tínhamos espaço para essa transformação dentro destes temas e foi assim que começamos a estudar sobre inovação. Lemos alguns artigos de Stanford sobre uma nova abordagem metodológica que podia ajudar a pensar e tratar de problemas complexos. Estudamos formas de trazer isso para setor público e conseguimos realizar a primeira turma de Design Thinking aplicado ao setor público em 2013, com o Mestre Álvaro Gregório. Um dos pioneiros da metodologia no Brasil (Álvaro foi um dos idealizadores do Poupa Tempo e nosso mentor nos primeiros anos de empreendedorismo público).
Quando Tudo Era Mato (2010 a 2014)
No início de 2010, a inovação no setor público era frequentemente vista sob uma ótica de suspeita e resistência – “isso só funciona no setor privado”, era uma constatação comum nas mesas de reunião. A cultura predominante era marcada por uma forte aderência à burocracia e à normatividade, onde a frase “burocracia é boa, é a regra; normas existem para ser cumpridas; inovação é ilegal; só podemos fazer o que está na lei” ressoava nos corredores das instituições. Tentativas de introduzir novos métodos de gestão e operação eram barradas pela percepção de que a inovação poderia ameaçar a ordem e a legalidade estabelecidas. A inovação ainda era completamente vinculada aos elementos tecnológicos.
Durante esse período, iniciativas pioneiras buscavam repensar e modernizar processos internos e serviços. Por exemplo, a presença (ou não) e participação de órgãos públicos nas redes sociais era um questionamento caloroso na comunicação pública. A WeGov nasceu deste contexto, no final de 2014, como empresa engajada na missão de inovar o setor público. Empoderando as pessoas dos órgãos públicos, iluminando as boas ideias, práticas e projetos, e aproximando os diálogos entre as esferas e poderes para solução de desafios complexos.
Trilha (2015 a 2018)
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Essa fase marcou o início de uma transição para uma postura mais aberta à inovação. As instituições governamentais começaram a explorar metodologias como o Design Thinking e a estabelecer laboratórios de inovação, visando criar soluções mais eficazes e centradas no usuário. Havia uma crescente consciência da importância do equilíbrio entre crítica e apoio aos fomentadores da inovação, refletindo um desejo genuíno de transformar o setor público. Todos nos procuravam querendo uma receita pronta para inovar, pedindo uma trilha de cursos para inovar no setor público.
A primeira Semana de Inovação, organizada pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap), posicionou com força a inovação organizacional para muito além das inovações puramente tecnológicas. Como metáfora, a inovação pulava os muros do então Ministério da Ciência tecnologia e Inovação (MCTI) e partia para cada mesa de cada repartição, sendo cada vez mais aplicada na gestão e entrega de serviços. A WeGov esteve presente na primeira edição (e em muitas outras) com a oficina de Storytelling falando sobre a importância das narrativas para o setor público. No evento, a WeGov realizou uma Oficina de Storytelling para Gestão do Conhecimento, e “storytelling” apareceria logo depois, como uma das competências para inovar no setor público em estudo do OPSI-OCDE.
A busca por modelos metodológicos (“frameworks”) que indicassem uma receita de inovação só aumentava. Não havia receita, mas a realização da primeira edição do Programa HubGov, em 2017, definiu um modelo de trabalho que até hoje serve como referência para jornadas de inovação. Neste período, também atuamos na concepção e construção do primeiro laboratório de inovação no Poder Judiciário do mundo, o iJuspLab, no âmbito da Justiça Federal de São Paulo. Esse laboratório serviria de modelo para que todo o poder judiciário pudesse inovar.
Montanha (2019 a 2021)
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Em 2019, a agenda de inovação já estava sendo incorporada, os ânimos estavam altos para novos projetos, o estado do Ceará, viu nascer o Íris Lab, tendo a WeGov como uma espécie de “doula”. Logo em seguida, todos os conceitos e hipóteses de inovação seriam tragicamente postos a prova com a chegada da pandemia… Alguns costumam dizer que a pandemia de COVID-19 acelerou drasticamente a necessidade de inovação no setor público. Com algum cuidado, observamos que esse “experimento social compulsório”, literalmente, isolou uma variável (nós, as pessoas) e pudemos perceber como as outras coisas se comportavam. A crise sanitária global exigiu respostas rápidas e efetivas, impulsionando a adoção de ferramentas de trabalho remoto e a digitalização de serviços ao cidadão.
Neste contexto, a inovação provou ser essencial para a continuidade dos serviços públicos e para manter o engajamento e atendimento às necessidades da população. O papel das instituições e da sua força de trabalho ficaram evidentes. Aumentou-se a compreensão do significado de inovar no setor público.
Ladeira Abaixo, Fim da Jornada? (2021 até hoje)
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Atualmente, o setor público encontra-se em um ponto de reflexão sobre o caminho da inovação. Apesar dos avanços tecnológicos e da implementação de novas metodologias, persiste a percepção de que os benefícios da inovação ainda não alcançaram plenamente o cidadão. A demanda por formação contínua, uso de linguagem simples e simplificação dos processos revela uma busca constante por soluções que realmente atendam às necessidades dos usuários finais. A confiança dos cidadãos só diminui. Tem sido cada vez mais comum profissionais de laboratórios de inovação ficarem especialistas em inovação para outros órgãos, mas sem conseguir entregar inovação no seu próprio órgão. É a famosa “casa de ferreiro, espeto de pau”. Dessa forma a inovação vira um fim em si mesma e isso não é suficiente Ela precisa chegar no cidadão.
Conclusão
A linha do tempo da inovação no setor público revela um caminho de aprendizado contínuo e adaptação às novas realidades. Cada fase trouxe consigo desafios únicos, mas também oportunidades para repensar e remodelar a forma como os serviços públicos são concebidos e entregues. À medida que avançamos, torna-se claro que a inovação no setor público é um processo dinâmico e evolutivo, essencial para atender às expectativas crescentes da sociedade e para promover um governo mais eficiente, acessível e responsivo. No setor público, inovar não é apenas ter boas novas ideias, mas entender como podemos destruir as ideias antigas que já estão obsoletas. As contradições aparecem todos os dias e cabe aos inovadores e inovadoras do setor público entender como fazer com que as coisas funcionem de um jeito melhor para todos, mesmo aqueles que cuidam da burocracia ou aqueles que estão no balcão prestando serviços para os cidadãos, balcão que em muitos casos é uma enorme plataforma virtual. Uma das coisas mais gratificantes de se trabalhar com inovação no setor público é ver a multiplicação de pessoas inovadoras. Elas nos mostram que (i) temos um trabalho importante e (ii) estamos no caminho certo. Por tudo que vimos em uma década, ainda há muito trabalho pela frente.
Nessa jornada, as ferramentas e metodologias estão cada vez melhores, mas o que vale mesmo são as pessoas que fazem acontecer. Contem conosco para os próximos 10 anos.
André Tamura: Fundador e Diretor Executivo da WeGov. Empreendedor público, entusiasta da inovação em governo e das mudanças sociais. Estudou Administração de Empresas e Ciências Econômicas. Desde que trabalhou como operário de fábrica no Japão, tem evitado as “linhas de produção”, de produtos, de serviços e de pessoas. Foi agraciado com a medalha do Exército brasileiro pelos serviços públicos prestados pela WeGov. Lattes http://lattes.cnpq.br/3860680483185699
Gabriela Tamura: Fundadora e Diretora de Negócios da WeGov. Pós Graduada em Gerontologia pelo Instituto de Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein; Administradora Pública graduada pela Universidade do Estado de Santa Catarina; Pós-graduada em Gestão Pública pela Universidade Aberta do Brasil. Foi agraciada com a medalha do Exército brasileiro pelos serviços públicos prestados pela WeGov. Foi pesquisadora na área de educação do NEES, com coordenadores e professores de Harvard. Em maio de 2023 esteve presencialmente em Boston apresentando o resultado da pesquisa para osprofessores de Harvard. Lattes: http://lattes.cnpq.br/6920504081024087
Uma história de quem soube fazer a história da inovação junto aos servidores públicos. Parabéns ao Wegov pela permanência sincera em capacitar com inteligência e dedicação aqueles que precisam estarem capacitados para a inovação em governo.