Um “golpe” e três histórias da Justiça

Depoimento de Encerramento do HubJus - JF5 em Rede

Depoimento da Servidora Gabriela Arruda de Assunção, no Encerramento do HubJus – JF5, realizado em 16 de dezembro de 2021

Eu tenho quatro histórias para contar


Na verdade, são três histórias, pois uma delas é um “golpe”….


Em agosto, quando estava próximo ao final da inscrição para participar do HubJus, eu recebi um convite de um certo magistrado para participar de um programa de inovação do tribunal.

Ele me disse que ia ser ótimo, que eu não me assustasse com a quantidade de horas e dias de trabalho, porque eu tinha perfil pra participar e era uma proposta irrecusável.

Confesso que me pareceu uma roubada, mas mesmo assim eu cai nesse golpe…

E hoje, falando aqui pra vocês, eu queria aproveitar esse momento pra agradecê-lo publicamente por essa oportunidade, de ter participado da melhor experiência que eu tive em pouco mais de 7 anos de justiça federal.

Muito obrigada Dr. Caio, mas fica a lição pra vocês: não caiam na conversa dele porque o golpe é o mesmo, só muda a vítima.

Bom, agora eu tenho três histórias que eu quero que vocês prestem bastante atenção porque elas têm algo em comum.

A primeira história é a da Dona Maria…

Gabriela, André e Dr. Caio (que também foi orador da turma), ouvindo a arte de Gabriela Arruda.

A história da Dona Maria

Dona Maria é uma agricultora que mora no interior do Ceará, é uma pessoa muito humilde, não sabe ler, mas tinha um sonho, o de se aposentar. Quando completou a idade, foi ao INSS, mas teve seu pedido negado. Aí, buscou a justiça federal, onde foi muito bem atendida pelos servidores, que pegaram todos os seus documentos e atermaram o processo.

Avisaram que, no dia da audiência, iriam entrar em contato com ela para o seu comparecimento.
Teve audiência, e, no dia, o juiz disse que ia precisar pedir uns documentos ao INSS, mas que, quando saísse a sentença, ela ia ser intimada.

Só que Dona Maria mora num sítio onde mal pega o celular, e os servidores da justiça, depois de muito tentarem ligar pra ela, sem sucesso, acharam que o melhor era mandar uma Oficial de Justiça pra dar a boa notícia. Aí, mandaram Flávia!

Ela chegou na casa de Dona Maria, bateu palmas, dona Maria apareceu e Flávia se apresentou. Então, ela disse:

“Dona Maria, a senhora ganhou o processo, agora a senhora está aposentada.”

Mostrou um mandado todo bonito com o resumo da sentença, que tinha até um QRCODE. Flávia apontou a câmera e apareceu um vídeo do juiz dizendo, “Parabéns dona Maria, a senhora está aposentada.”

Dona Maria ficou tão feliz que disse a Flávia que ia botar num quadro aquele papel porque lá tinha uma mensagem do juiz dizendo que seu sonho tinha se realizado.

A história da Ana

Ana é servidora da justiça e, como andava um pouco desmotivada com seu trabalho, foi buscar se especializar em outras áreas de seu interesse. Descobriu que adora estudar sobre técnicas de conciliação e mediação, fez vários cursos e treinamentos e se tornou especialista no tema. Apesar de tudo, não sabia com quem compartilhar e não se sentia aproveitada pela instituição da melhor forma.

Um dia, descobriu que havia uma rede social na JFPE em que ela podia trocar experiências com os colegas, falar sobre seus interesses, competências, coisas para além do seu trabalho na vara onde é lotada.

Aí Priscila, responsável pelo setor de treinamento, descobriu, no Conect@JFPE, o talento de Ana e a chamou pra ser instrutora da JF em um curso. Ana ficou super feliz, se sentiu reconhecida pela instituição e até tem encarado seu trabalho de uma forma mais leve e feliz.

A história de João

João mora no Rio Grande do Norte e tem um filho com um problema de saúde muito grave. Ele já tentou de tudo pra conseguir um medicamento, mas não teve sucesso.

Então, ele procurou um advogado porque disseram que só na justiça resolve. João já fica preocupado, pensa que tudo que vai pra justiça demora muito e é uma complicação danada. Seu filho não tem esse tempo todo para esperar.

Ao chegar na JFRN, ele fica sabendo que há um programa chamado ConSaúde que trata somente de demandas de saúde. Ele é prontamente atendido pelos servidores, afinal, quem trabalha ali já sabe da situação delicada das pessoas e da urgência necessária. Como existe um convênio com a União, logo ele é chamado pra uma audiência de conciliação oportunidade em que é feito um acordo pra seu filho receber o remédio.

João sai super feliz da justiça, agora está mais tranquilo porque seu filho tem o remédio e o tratamento que precisa e ele não podia pagar.

O que todas essas histórias têm em comum?

Elas contam a história de 3 pessoas como personagens principais que tiveram sua vida tocada, transformada em razão de projetos inovadores, todos construídos nessa jornada do HubJus por cada um de vocês aqui. Porque, no final, a inovação é sobre as pessoas.

  • O projeto do Ceará não é sobre Visual Law, é sobre fazer Dona Maria entender que agora ela é uma mulher aposentada.
  • A criação de uma rede social não é um projeto do TI com o uso das ferramentas digitais, é sobre melhorar a qualidade de vida do servidor, sobre aproveitar melhor os seus talentos na instituição.
  • O que o pessoal Rio Grande do Norte quer não é fazer um convênio com vários órgãos e criar um painel lindo de BI, é ouvir e acolher as pessoas que estão passando por um momento difícil, quando se trata de questão de saúde.

Qual o nosso aprendizado após 4 meses de HubJus?

É que nós precisamos, mais do que nunca, olhar para as pessoas para resolver os seus problemas. Quando a gente vê um problema, a gente vê, na verdade, as nossas personas.

Porque, pra construir tudo isso que fizemos, nós tivemos que pensar no outro, nos colocar em seu lugar, dedicar nosso tempo a ele, pensar nas suas dores e nos seus sonhos.

O nosso maior legado é a empatia.
E eu acho que pensar no nosso trabalho dessa forma é que nos traz mais felicidade no coração.

E pra arrematar, vocês já sabem como eu vou acabar

Porque uma rima não podia faltar

Eu contei história, fiz todo mundo rir, pensar e até se emocionar

Porque a verdade, meu povo, vocês já sabem

É que a felicidade tá em se conectar

GABRIELA ARRUDA DE ASSUNÇÃO

Assista ao depoimento de Gabriela

Por André Tamura

Pai e Marido. Fundador e Diretor Executivo da WeGov. Empreendedor entusiasta da inovação no setor público e das transformações sociais. Estudou Administração de Empresas e Ciências Econômicas. Desde que trabalhou como operário de fábrica no Japão, tem evitado as “linhas de produção”, de produtos, de serviços e de pessoas. Em 2017, foi condecorado com a Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro.

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