Resumo do Capítulo 1 e entrevista com Roberto Agune
O livro “Dá pra fazer” é um relato experimental de alguns membros da equipe da Assessoria de Inovação em Governo (iGovSP) sobre inovação na gestão pública. O livro orienta os gestores públicos sobre o tema, desde a fundamentação e motivos para inovar em governo até a apresentação de métodos e alternativas para iniciar o processo de mudança no setor público.
A coluna ‘Dá pra fazer’
Não poderia descrever de forma tão precisa os autores, quanto Regina Pacheco descreveu na apresentação do livro:
“Aqui está reunida uma equipe notável de autores, pessoas que se destacam por seu low profile, por não se fazerem notar – a não ser pelas ideias que fomentam e gerações que unem. Arrojados e discretos, maduros e abertos à experimentação, mutantes e confiáveis, há tempos permanecem à frente de tudo o que diz respeito à transformação e melhoria do modo de ser das organizações públicas paulistas, seus processos e seus funcionários. Pessoas que construíram sua identidade associada às mudanças, que permanecem como referência que interliga as dimensões do tempo – do que já foi ao que virá, o presente como espaço de construção das pontes para o futuro.”
Sabendo da correria do dia-a-dia e da quantidade de livros, informações e textos disponíveis online, vou escrever a coluna com o intuito de disseminar o livro e assim possibilitar que as pessoas possam ler aos poucos (um capítulo por vez). A cada publicação teremos o próprio autor do capítulo sendo entrevistado, tornando a comunicação mais dinâmica e interativa.
Desta forma pretendo motivar você para: i) ver o quanto este livro é especial e ii) acompanhar o movimento que a rede paulista de inovação está tecendo desde 2004.
Espero que gostem \o/
O Governo do Século XXI
Resumo do capítulo: Roberto Agune discorre sobre o servidor público do século XXI. Para ele as mudanças ocorridas na sociedade contemporânea e a sofisticação da agenda governamental exigirão modelos mentais e competências diferentes das que os funcionários públicos oferecem atualmente.
Ele afirma que não só os funcionários deverão se atualizar como os conteúdos dos programas de capacitação deverão ser reinventados. O autor batiza este novo esforço de “Capacitação 360°” que está baseado em cinco vetores centrais de atuação:
1. Formação de Cultura Inovadora
Os programas de capacitação deverão ter por objetivo central sensibilizar os tomadores de decisão para a nova lógica do século XXI através de temas como visão sistêmica, empreendedorismo, colaboração, criatividade, novos formatos organizacionais, novos métodos de trabalho, inovação em gestão.
2. A Inovação como Elemento Estruturador e Integrador
Agune defende que a inovação deve compor cada uma das disciplinas e também deve servir como um elo integrador entre todas elas.
3. Introdução de Novas Disciplinas
As novas disciplinas sugeridas pelo autor a serem incluídas nas ementas de cursos de graduação, pós graduação, abertos ou in company propostas são:
Utilização do pensamento sistêmico na atividade gerencial; Gestão do conhecimento e da inovação em governo;
Design Thinking para ambientes governamentais; Design de serviços públicos;
Gestão de projetos governamentais complexos; Técnicas de negociação;
Empreendedorismo no serviço público; Novos modelos de negócio para a atividade governamental;
Serviços públicos digitais; Utilização da inteligência coletiva para melhoria do serviço público;
Storytelling para registro da memória governamental e Criação de comunidades de prática e registro de lições aprendidas.
4. Utilização de Métodos Pedagógicos que Privilegiem a Aplicação e a Inovação
O autor entende que a introdução de novas disciplinas deve ser acompanhada de mudanças na maneira de abordá-las como, por exemplo, atividades práticas que propiciem um ambiente que favoreça a interação, a integração e a troca de experiências.
5. Mudança e Ampliação de Ambiente Capacitante
Neste vetor destaca-se a importância de desconstruir o conceito de local de aprendizagem enquanto um espaço físico imutável restrito a horários. O escritório governamental do futuro entrará no lugar de salas isoladas e relatórios burocráticos privilegiando espaços que estimulem a atividade transdisciplinar e o uso de novas mídias.
A WeGov sente-se orgulhoso, pois considera e aplica os 5 vetores nos seus cursos e eventos, portanto podemos dizer que estamos contribuindo para uma Administração Pública inovadora e que somos também uma instituição que promove a Capacitação 360°.
Inovação em Governo
Para estimular e acelerar esta mudança de paradigma, o Governo de São Paulo foi a primeira unidade da federação a adotar uma política de Gestão do Conhecimento e Inovação, formalizada por meio do decreto 53.963 de 21 de janeiro de 2009 e reforçadas pelas diretrizes estratégicas estabelecidas no PPA 2012-2015. Dentre as várias ações reforçadas por esse decreto, destacam-se quatro delas:
1. Instituição, curadoria, operação e atualização da Rede Paulista de Inovação em Governo (www.igovsp.net)
2. Instituição do primeiro portal nacional de governo aberto: Governo Aberto SP (www.governoaberto.sp.gov.br)
3. Criação do inovaDay (http://igovsp.net/inovaday/), encontro mensal para discussão de assuntos referentes a Gestão do Conhecimento e Inovação na administração pública o qual o Cetem é a Escola de Governo responsável pela realização do evento em Santa Catarina.
Entrevista Roberto Agune
O Governo do Século XXI
Roberto Agune é um dos pioneiros em governo eletrônico no Brasil. Começou a desenhar um modelo de e-gov para o Estado de São Paulo em 1995, ano em que surgia a internet. Atualmente é Coordenador do grupo de inovação (subordinado à Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo, comandada por Júlio Semeghini).
Gabriela: Quais são as instituições que você utiliza para ter referência quando trabalha no conceito de Capacitação 360°?
Roberto Agune: Criamos o conceito de capacitação 360° quando percebemos que os indispensáveis programas de qualificação dos servidores não poderiam se limitar a ser mais um treinamento de prateleira, pouco articulado com os problemas, cada vez mais complexos, encarados pelos governos contemporâneos. Concebemos, então, um programa de capacitação que tivesse a inovação organizacional como eixo estruturante que perpassasse todas as disciplinas e que culminasse com a apresentação de projetos para melhoria de processos ou serviços públicos. Programas com este perfil foram realizados com grande sucesso na Prefeitura Municipal de São Paulo (Inova Gestão), em 2009, e na Sabesp (Programa de Excelência Gerencial), ora em curso.
Com a criação do Laboratório de Inovação Em Governo, que pretendemos inaugurar ainda este ano, vamos aprofundar ainda mais o conceito da capacitação 360°, abrindo um espaço multidisciplinar, onde alguns dos projetos de conclusão de curso possam ser prototipados, avaliados e disseminados por toda a administração.
Gabriela: Sabemos que no Serviço Público é mais fácil listarmos o que não dá para fazer do que o que “Dá pra fazer”… Como enfrenta na prática essas dificuldades para executar ações inovadoras?
Roberto Agune: Primeiramente, é bom esclarecer que projetos inovadores são difíceis de implantar, independente de falarmos de entidades privadas ou governamentais. O número de organizações privadas que possuem a inovação em sua rotina, embora venha crescendo de forma acelerada de uns 10 anos para cá, ainda é muito pequeno, mesmo nos países líderes. A superação de paradigmas centenários vinculados ao modo industrial de trabalhar, que fizeram tanto sucesso ao longo do século XX, somente agora começa a ganhar volume com a crescente disponibilização, por um lado, de novos métodos e técnicas gerenciais, e, por outro, de novas tecnologias a um só tempo poderosas, acessíveis e portáteis, vocacionadas para o trabalhador do conhecimento.
Segundo nosso julgamento, caberá a nós, servidores públicos de São Paulo, continuar atentos ao que se passa no mundo privado e nos governos mais avançados, em termos de novas práticas e processos inovadores, e lutar para trazê-los para dentro da administração pública paulista. Se por um lado, temos consciência de que existem muitos nós difíceis de serem desatados, temos, por outro, a convicção de que se não os desatarmos os governos não conseguirão acompanhar uma sociedade, diversa, reivindicativa e articulada em rede, colocando em risco a própria democracia.
Gabriela: O que você diria aos servidores públicos que querem fomentar a cultura inovadora na sua instituição?
Roberto Agune: Infelizmente não há uma bula para isso, ou, se ela existir, ainda não a lemos. Temos, no entanto, algumas pistas colhidas com base em nossa experiência em projetos inovadores de governo. Vamos a elas:
1. Aprenda que choradeira não resolve. Não espere a inovação vir lá de cima. Inverta o sentido. Pratique a inovação dentro de sua equipe, escola, hospital, etc. A somatória dessas pequenas experiências é que fará com que a inovação vire rotina.
2. Fique atento ao que há de novo em termos de metodologias e tecnologias que possam mudar radicalmente o seu jeito de trabalhar. Vá atrás das qualificações necessárias, sem medo de errar. Nunca foi tão fácil o acesso a bons programas de qualificação, muitos deles disponíveis na Internet de forma gratuita ou a preços bastante acessíveis.
3. Jogue fora o chapéu de repetidor e vista o de criador. Acredite sempre que, em algum lugar, dá prá fazer.
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