Competência, entrosamento e liderança
Alunos de 10 anos da educação básica podem resolver com facilidade a equação simples: 2 + 1 na matemática, certamente será igual a 3. Porém, uma discussão emergente no campo da física social pode vir a desmentir essa operação, até então, inquestionável.
Me pergunto há alguns anos, o porquê algumas comunidades empreendem, são protagonistas e ativas no desenvolvimento coletivo e crescem em rede. Para explicar tal situação, tenho encontrado os termos “tecnologia social” (meio) e “capital social” (fim) para mostrar o valor das conexões das redes de uma comunidade.
2 + 1 = 4!
No clima das olimpíadas, imagine um time de futebol com um elenco individualmente inferior ao adversário. Porém, o entrosamento e a complementariedade de competências o faz ganhar a partida. Neste caso, o desempenho dos jogadores, não foi efetivamente o número de atletas (11). Eles conseguiram produzir um valor maior, mesmo que intangível, quando “somados” em campo.
Mais do que nunca, governos precisam fazer “mais” com “menos”. Ou seja, produzir mais resultados com menos recursos. Por isso, envolver diferentes instituições e buscar a cooperação interinstitucional tem-se mostrado uma estratégia para a “co-evolução”. A lógica da integração reflete a geração de valor relacionada essencialmente sobre a interação das partes. Como consequência, o que chamam de sinergia, pode ser ilustrado pela equação: 2 + 1 = 4!
Buscando a complementariedade de competências
Em 1968, na Itália aconteceu a famosa conferência World Order Models Conference. Em síntese, a conferência propôs que a paz mundial não pode ser estabelecida por uma nação, pelo contrário, deve envolver uma múltipla cooperação a partir de um diálogo internacional. O insight principal que tiro dessa ocasião é que para resolver problemas complexos, as instituições precisam ultrapassar as “fronteiras institucionais”, assumir objetivos compartilhados e cooperar para superar desafios.
Um outro problema apresentado na mesma conferência foi a urgente necessidade de impulsionar o desenvolvimento econômico por meio da Ciência e Tecnologia. Jorge Alberto Sábato, apresentou a teoria que passou a se chamar “Triângulo de Sábato”. A teoria defende uma estratégia orientada à criação de políticas que direcione o processo de inovação, de forma a atribuir competências específicas para as três instituições na sua permanente interação: a universidade (cria), a empresa (aplica) e o governo (estimula). A interação entre os vértices do triângulo tem o objetivo de gerar, incorporar e transformar demandas em uma inovação tecnológica, orientada a concepção de produto final.
No futebol, o time vencedor do caso citado, explora a complementariedade de habilidades dos seus jogadores. O time consegue estabelecer uma estratégia que reconheça as competências de cada jogador (veloz, habilidoso, finalizador). Atualmente, a natureza de organização é muito mais variada do que as três envolvidas no Triângulo de Sábato. Isso permite que as relações de interação produzam resultados cada vez mais ricos, quando explorado a sinergia da cooperação.
Buscando o entrosamento do time
Um requisito para a relações de sinergia é o quanto as partes conseguem suspender suas formas habituais de ver a realidade (buscando apenas em suas experiências e conhecimentos). Por isso, a inovação coletiva envolve ir além do que já se sabe e começar a buscar informações que ainda não detém, em outras partes.
A teoria U é um conjunto de teorias, ferramentas e práticas proposta por Otto Scharmer, que pode auxiliar os líderes a gerar inovação envolvendo múltiplos agentes. O modelo propõe ajustar instrumentos para que todos estejam em uma sintonia. Por isso, a teoria defende que o sucesso está nas partes passarem por três fases:
“Sentir”: questionar profundamente seus modelos mentais, vendo a realidade que está além do próprio filtro;
“Presenciar”: mover-se dali para um processo profundo de se conectar com uma visão e um propósito. Conseguir produzir uma conexão entre o propósito individual (da instituição) e o propósito coletivo (compartilhado).
“Realizar”: e então elaborar rapidamente um protótipo para traduzir essas visões em modelos de trabalho concretos, dos quais se possa receber feedback e fazer novos ajustes.
Líderes da Co-Era!
É evidente a necessidade do Brasil dar um grande salto para o desenvolvimento e ser de fato, um país vencedor. A dimensão das suas instituições, território, recursos naturais, espírito do seu povo, me parece ser um “elenco” muito bom! Um importante motor para esse salto, é justamente o capital social, criado pela sinergia entre as instituições.
Vivemos a era do prefixo “co”, que pela sua origem significa “junto”: Colaboração, Co-criação, Cooperação dada a relevância de envolver de forma coletiva diversos agentes interessados em uma transformação.
Em times de futebol verdadeiramente vencedores, lembro instantaneamente de lideranças marcantes. Atribuo essa característica por terem: elevada consciência sobre cada momento da partida, a capacidade de engajar suas equipes para performarem de acordo com a necessidade do momento, arquitetar a formação do seu time para buscar a vitória.
Por fim, acredito que um dos principais motores para transformação social é a formação de uma geração da líderes. Líderes de uma nova era, capazes de gerar a sinergia, complementar competências e entrosar times. Líderes da Co-Era.
Fotos: Clint Adair e Andrés Canchón