E como elas transformam as instituições públicas
Durante quase toda a história da humanidade, o tempo foi calculado seguindo os ritmos dos corpos celestes. A noção de tempo era determinada pela observação do Sol (dias) e estrelas (estações e anos). Aos poucos fomos construindo ferramentas mais precisas para medir o tempo.
A precisão rítmica que Galileu descobriu ao observar o movimento dos pêndulos teve um impacto miraculoso na sociedade. A singela descoberta foi que “o tempo que um pêndulo leva para oscilar depende do comprimento da corda”.
Enquanto nossa noção de tempo estava na escala de dias, o relógio introduziu às nossas vidas a precisão dos segundos.
Em decorrência da invenção do relógio de pêndulo, tivemos a sua instalação em massa nas cidades fabris na revolução industrial. Nesse sentido, podemos dizer que uma descoberta no campo da física no século XVI (pêndulo) está diretamente relacionada com uma das maiores transformações na economia do século XVIII (manufatura).
O poder das mudanças sutis
Quero discutir a forma como as inovações acontecem nas organizações. Defendo a ideia de que, na maioria das vezes, inovações são consequências inesperadas de uma cadeia de pequenas inovações criadas para resolver problemas específicos.
A revolução industrial, por exemplo, dificilmente aconteceria sem o relógio. Porém, o domínio do tempo encontrou uma série de outras inovações e acontecimentos culturais e políticos para florescer essa revolução, mesmo que não fosse a intenção de Galileu.
Uma inovação demanda outras inovações
A máquina de impressão, inventada por Gutenberg, aumentou a demanda de óculos já que a prática da leitura fez com que as pessoas percebessem que não enxergavam de perto. O domínio da ciência das lentes levou a evolução de microscópios e telescópios. Por isso, podemos dizer que a invenção da imprensa levou a compreensão das bactérias (microscópios) e de que a Terra gira em torno do Sol (telescópios).
A Polícia Militar de Santa Catarina teve amplo reconhecimento em premiações de inovação com o aplicativo PMSC Mobile. Trata-se de um ferramenta para a gestão de atendimento de ocorrências, que resultou em agilidade nos atendimentos, melhoria no desempenho operacional e segurança pública.
O sucesso dessa iniciativa evidenciou outra demanda: ampliar essa tecnologia para que o próprio cidadão pudesse registrar uma ocorrência. Por isso, durante o HubGov 2017 a PMSC desenvolveu o protótipo do aplicativo PMSCidadão para melhorar a interação com o cidadão, especialmente em situações de emergência.
O caso da PMSC evidencia um padrão: as organizações que costumam ter mais sucesso nas inovações são as que conseguem “conectar os pontos”. Ao contrário, as que fracassam tentam gerenciar grandes revoluções, pulam etapas e não resolvem problemas. É como se estivessem tentando entender as bactérias e não tivessem um microscópio.
Como as inovações acontecem
Inovações acabam provocando mudanças que parecem pertencer a um domínio completamente diverso, para o bem ou para o mal. Algumas são bastante intuitivas e outras são mais sutis e deixam marcas menos evidentes.
Reverter o estigma de que no setor público “não dá pra inovar” exige dos servidores a capacidade de fazer com que uma ideia reverbere na instituição. É preciso conectar a necessidade da população, crenças internas, recursos disponíveis, regulamentações e outras variáveis.
O status quo é resultado de um conjunto de decisões e acontecimentos que aconteceram dentro e fora da instituição, mesmo que de forma difusa. O futuro da sua instituição está sendo construído agora. Possivelmente, soluções que você propôs só encontrarão o contexto para florescer quando você não estiver mais na instituição. Por isso, as inovações acontecem conectando ideias criadas para resolver outros problemas.