Prepare-se para sair

André Tamura
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As transições de governo podem trazer surpresas desagradáveis para comunicação

A cada dois anos acontecem eleições no Brasil. Em 2014 escolhemos o presidente, governadores, deputados e senadores. No próximo ano vamos definir quem serão os novos prefeitos e vereadores.
Desde a disputa de 2012 e especialmente no pleito do ano passado, um elemento especial tornou a troca de gestão ainda mais complexa. A pergunta que surge é: Quem vai cuidar das redes sociais?

O Contexto

Com as mudanças na sociedade e o avanço das tecnologias e ferramentas disponíveis, um departamento de governo em específico sofreu imensa transformação; as secretarias de comunicação.
O setor ganhou de presente a responsabilidade pelo gerenciamento¹, atuação e manutenção das contas em redes sociais das instituições (Facebook, Twitter, Instagram, etc.). Alguns governos inclusive criaram projetos dedicados exclusivamente às novas mídias.
As redes sociais já existiam em 2010, mas não havia tamanha taxa de adesão e disponibilidade de tecnologia como facilitadora de trabalho. As fan pages do Facebook eram pouco comuns antes de 2012. Em 2014 a disputa no meio digital alavancou debates em roda de amigos e dominou as manchetes da imprensa tradicional. Enfim, estar presente e atuante nas redes sociais tornou-se obrigação dos gestores e instituições públicas comprometidos com os cidadãos.
Durante esses anos, alguns trabalhos maravilhosos foram construídos do zero. Com as trocas de gestão, toda dedicação aplicada com competência pode perder-se em poucos cliques. Em um contexto de era da informação, a perda desse trabalho será extremamente prejudicial ao próximo responsável pelo setor e especialmente para nós cidadãos, que também passamos a enxergar esses meios como uma ponte entre sociedade e poder público.

Quem roubou minha senha?

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As redes sociais exigem um login e senha de acesso e esses dados estão sob responsabilidade de uma pessoa, ou de uma equipe (agência) terceirizada. Com a troca de gestão, essa informação pode simplesmente desaparecer, ou pior, ser ocultada propositalmente para nova gestão. Isso certamente provocará indignação e choradeira.
Na diferença sutil entre um trabalho de Estado e outro de Governo, os gestores e suas equipes devem ter maturidade e consciência suficientes para que possibilitem a continuidade dos serviços prestados nos mesmos canais de comunicação. Será uma afronta aos cidadãos caso os trabalhos construídos sejam descartados e tenha que se começar tudo do zero, reinventado a mesma roda com nosso dinheiro.
Prática comum na publicidade, a primeira coisa que o novo governo faz é eliminar qualquer resquício de sucesso de seu antecessor. Certamente, retrabalho e dinheiro no ralo.

Saia com dignidade e deixe seu legado

Pode ser difícil e doloroso ter que abandonar seu filho bonito, mas como diz o senso comum, criamos os filhos para o mundo, não é mesmo?
Servidores públicos de carreira em equipes de comunicação ainda são raros², por isso é importante que esses profissionais tomem medidas que possam facilitar a transição do trabalho, sem que ocorra derramamento de sangue.
Uma transição de governo já é complexa, cabe ao departamento de comunicação facilitar aquilo que está sob sua responsabilidade. Não é utopia ou maravilha do país de Alice, é uma questão puramente ética e profissional.
Mesmo considerando os interesses e divergências políticas, seu trabalho deve ser tratado como um serviço fundamental para os cidadãos.
Imagine um piloto e sua tripulação sabotando o avião para a equipe do próximo voo. Parece surreal, mas infelizmente é praxe em diversas gestões. Em outros segmentos do governo, temos exemplos recentes³ de ótimos trabalhos sendo desperdiçados.

Prepare-se para sair

Crie um documento registrando as atividades do setor de comunicação em relação às redes sociais. Principais dados de acesso (senhas), relatórios de uso, casos expressivos, alguns prints de telas que sejam interessantes, principais números etc.
Registre esse documento na instituição como forma de homologar e validar que tudo foi deixado para o trabalho seguir.
Comunique claramente através das redes, que o trabalho estará “sob nova direção” a partir de determinada data. Lembre-se o cidadão é sempre prioridade.
Nunca, em hipótese alguma, faça algo para dificultar ou prejudicar o trabalho da próxima gestão, pois você possivelmente pode enfrentar a mesma situação, e acho que não iria gostar.

Como nós podemos?

Participe nos comentários dando sugestões de como tornar a transição menos impactante para esse “novo setor”, que agora é parte fundamental da administração pública. Já passou por alguma situação difícil ao iniciar ou deixar um trabalho? Compartilhe conosco.
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1. Em geral a responsabilidade é da área de comunicação, podendo ter funções divididas / integradas com outros setores como a ouvidoria. O gerenciamento também pode ser totalmente tercerizado para profissionais ou agências de comunicação.
2. Especialmente na comunicação digital do poder executivo.
3. Gabinete Digital do Rio Grande do Sul e Seed de Minas Gerais.

Por André Tamura

Pai e Marido. Fundador e Diretor Executivo da WeGov. Empreendedor entusiasta da inovação no setor público e das transformações sociais. Estudou Administração de Empresas e Ciências Econômicas. Desde que trabalhou como operário de fábrica no Japão, tem evitado as “linhas de produção”, de produtos, de serviços e de pessoas. Em 2017, foi condecorado com a Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro.

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