ou como os profissionais de comunicação precisam se reinventar
Quando assisti Perdido em Marte, um fato que me chamou muita atenção foi a relação da Nasa, no filme, com sua relações públicas. É claro que não dá pra deixar passar o fato de que Matt Damon, já indestrutível desde que virou Jason Bourne, foi o cara mais persistente e otimista na história da Terra e de Marte. Mas a RP () do filme me fez pensar em um mundo melhor para a comunicação. Ainda que na ficção.
Em um certo momento do filme, quando percebem que um astronauta ficou “perdido em Marte”, provavelmente já morto por uma grande tempestade, a RP da Nasa se apressa a preparar uma coletiva para… contar a verdade. Então uma reviravolta acontece e não só o astronauta tinha sobrevivido, como estava tentando se comunicar. E mais uma vez a RP prepara uma coletiva para… contar a verdade! No calor da emoção de ter um ser humano vivo em Marte, um dos diretores promete, durante a coletiva, que vai trazer o astronauta para casa. “Nós podemos cumprir essa promessa?”, pergunta a RP, nos bastidores, para a equipe, que responde que nada é certo. E a conclusão da RP é que o cara que prometeu não vai mais participar de coletivas, já que não sabe se manter apegado à realidade.
Isso me fez lembrar que uns anos atrás, eu, jornalista, e uma amiga, RP, brincávamos que um dia iríamos escrever um “Antimanual de Assessoria de Imprensa” baseado em experiências já vividas por nós e por outros colegas.
“O fato é que em algum momento, ou alguns momentos, vivemos o antimanual. É aquele momento em que o profissional da comunicação faz exatamente o contrário do que aprendeu na universidade e nos livros.”
A observação é que essa afirmação está baseada somente no meu círculo de convivência de profissionais de jornalismo, publicidade, RP, designers e fotógrafos. Então não é uma verdade absoluta e nem universal, e surgiu em conversa de bar. Mas vale a reflexão.
O antimanual de comunicação vivenciado nas diversas assessorias de comunicação não está preparado para a realidade: um mundo em que qualquer um é um potencial produtor e reprodutor de conteúdo, que divulga sua opinião muitas vezes até o limite da liberdade de expressão. E em um mundo como esse, os profissionais de comunicação, aparentemente, ficaram meio à deriva, perdidos em um outro planeta, de uma outra era da comunicação.
Eu sou um assessor de comunicação e ainda estou vivo
Ninguém hoje depende do que os veículos de comunicação produzem. E ninguém se importa. O público desse novo mundo não liga para publicidade, não acredita nas instituições, não dá bola para autoridades, apesar de ter como referência as celebridades. E esse é um mundo sem volta. O que ficou para trás não vai voltar (a não ser na moda, que se repagina e se reinventa com o que já foi) e ninguém sabe muito bem o que vem pela frente. É mais um daqueles momentos, por exemplo, em que o profissional de comunicação vai precisar se reinventar. Ou ser extinto para dar lugar a alguma coisa nova que não temos a menor ideia. Assim foi com os tipógrafos, categoria que já representou o auge da imprensa e foram suplantados pela tecnologia até serem completamente extintos.
Sei lá o que vem por aí. Mas tá na hora da gente se reinventar. Ou pelo menos tentar.
Originalmente publicado no Medium de Aline Fonseca