O que Empresas podem aprender com o Governo sobre Gestão Estratégica
Recentemente, pesquisadores da “Kennedy School” e da “Business School” viram uma preocupação crescente com a responsabilidade corporativa criada pelos novos movimentos internacionais. No modelo até então desenvolvido para governo através do “triângulo estratégico”, três complexos são considerados para que as instituições públicas possam pautar suas ações: o valor público que a instituição quer criar, as fontes de legitimidade e suporte que proporcionaram a ação da instituição ao buscar o valor público, e as capacidades operacionais para que os resultados sejam atingidos.
O presente texto, além de demonstrar características corporativas importantes que devem ser incorporadas ao governo, demonstra também como esse modelo do “triângulo estratégico” pode generalizar-se e passar a ser utilizado nas estratégias de organizações empresariais, já que estas operam intensivamente em ambientes politizados.
Estratégia Organizacional em Agências de Governo
Temos que enxergar que gestores de governo e de negócios enfrentam problemas análogos. Ambos querem utilizar da melhor forma seus ativos e encontrar formas de produzir seus produtos e serviços ou alcançar seus resultados sociais desejados no menor custo possível. As maiores modificações entre os dois ocorrem nas condições econômicas e políticas.
Uma das mais importantes diferenças é em como essas organizações, públicas ou privadas, conseguem ganhar sua fonte de receitas para continuar suas operações. Enquanto no setor privado os investidores e consumidores são a principal, no governo são os cidadãos, pagadores de taxas e clientes do governo, os quais têm seus representantes eleitos fazendo escolhas coletivas. Outra diferença é que os gestores de governo têm menos discrição ao definir seus propósitos, por estarem em um ambiente permissivo, já que os seus representantes são eleitos.
Por outro lado, os gerentes de empresas privadas podem medir seu desempenho financeiro de maneira fácil e rápida, ao contrário do que ocorre no setor público. É claro que no setor privado variáveis não-financeiras importam, e que no setor público variáveis financeiras também podem ser verificadas. Empresas também conseguem delimitar de maneira mais clara como criar valor ao produzir o seu bem ou serviço, e já o governo necessita focar suas atenções em resultados sociais, o que acaba por ser difícil e caro, já que este trabalha a longo-prazo. Além disso, o trabalho do governo está mais focado em conseguir esses resultados sociais, e não em conseguir a satisfação dos consumidores. Assim, possuem mais dificuldades em medir e demonstrar o valor do que está sendo produzido.
Essas diferenças entre setor público e privado importam, e modificam alguns pontos nos modelos tradicionais de negócios utilizados para governo, mas não impedem que esse modelo seja utilizado para esse fim. As características que o setor privado possui, tais como as de busca de valor, customização e dinamismo são necessárias dentro do setor público, para que seja possível a resposta a mudanças através da inovação. Isto é impedido pela visão tradicional do serviço público, que foca primeiramente em proteger a continuidade institucional e integridade das organizações governamentais.
Assim chegamos ao triângulo estratégico. O valor público no setor público deve ser algo compartilhado, imaginado e articulado entre os cidadãos, de forma que ganhe legitimidade e suporte para que seja possível sua operacionalidade no domínio de responsabilidade da esfera pública. Seu trabalho deve ser engajado de forma substantiva e analítica para que se chegue aos valores finais.
Estratégia Corporativa e o Triângulo Estratégico: os Negócios precisam Focar em Legitimidade e Suporte?
Embora o conceito legitimidade e suporte seja mais reconhecido no meio público, ele também é importante no mundo dos negócios, já que nele o único suporte reconhecido é o financeiro. No entanto, qualquer negócio em nossa sociedade necessita de uma autorização implícita ou explicita para continuar operando. Assim, os próprios consumidores dão legitimidade à empresa ao adquirirem seus produtos ou serviços. O valor público é criado quando as empresas produzem bens que são desejados por indivíduos e, portanto, sua legitimidade e suporte é dada através de seus consumidores. Da mesma forma, os investidores também as influenciam, até mesmo de maior forma, ao determinarem aonde serão destinados os seus investimentos.
Apesar da legitimidade e suporte se mostrarem presentes também no setor privado, do contrário do que muitos pensam, há uma diferença grande em escala quando comparada com o setor público. Investidores podem simplesmente “sair” de relacionamentos com empresas das quais não concordam mais com as decisões; por sua vez, cidadãos não podem “sair” de seus governos. Da mesma forma as discordâncias no setor privado entre empresa e investidores não são da mesma envergadura do que entre setor público e cidadãos, onde não só os meios, mas também os objetivos, são discutidos e procurados.
Outra fonte de legitimidade e suporte para o setor privado são os stakeholders, como por exemplo os atores econômicos, trabalhadores, fornecedores, distribuidores, comunidades locais, associações de empresas, mídia, público, e o próprio governo. Para eles a empresa não é uma extensão dos direitos individuais de propriedade, e sim uma organização com vantagens públicas. Por outro lado, os acionistas são uma parcela do setor privado que procuram sempre beneficiar-se através das estratégias empresariais. Como as empresas são vistas de maneira econômica principalmente, fatores discordantes trazidos por stakeholders sofrem prejuízo ao serem cogitados para a estratégia corporativa.
As linhas tênues
No entanto, vem crescendo o poder da legitimidade e suporte dentro de problemáticas não exclusivamente econômicas, o que acaba por incluir o mundo dos negócios também nos meios sociais e políticos. Assim, as firmas em ambientes politizados começam a ganhar espaço para conseguir serem mais eficientes, produzindo um bem para a sociedade ao lidar com os seus problemas – muitas vezes de uma maneira melhor do que o próprio governo, criando-se uma outra problemática.
Vemos que com as novas dinâmicas sociais a linha entre setor privado e público confunde-se, e que ambos podem e devem ser colaborativos. O valor público é criado ao se procurar um produto comum, e enquanto algumas lacunas ainda existirem em matéria de governança, um novo papel vem sendo exigido pela sociedade às camadas empresariais, as quais ganham cada vez mais legitimidade e suporte ao servirem de ponto de encontro entre o que oferecem e os interesses da comunidade. Cabe ao governo não apenas preencher essas lacunas que estão sob sua responsabilidade, como também adaptar para si estratégias corporativas e inovadores capazes de garantir a manutenção de seu poder e a criação de valor público.
Texto traduzido e inspirado no artigo “On Creating Public Value”, de Mark Moore e Sanjeev Khagram.