Cléia
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Muito mais do que acessar a informação

Está na hora de irmos além da transparência na administração pública. Talvez possamos chamar de transparência aumentada. Não basta que a “caixa” do serviço público seja de vidro, para que o cidadão enxergue o que há lá dentro. É preciso que esse “vidro” permita uma visão sem distorções e que o observador disponha de “lentes” que o possibilite ver em detalhes e compreender o que está vendo. Se os portais de transparência são o “vidro” do serviço público, a imprensa pode ser uma boa “lente” , focando e ampliando o interesse público. Para isso, a interação entre jornalistas e bancos de dados de informação pública é fundamental.
Não há pesquisas quantitativas sobre o uso dos portais de transparência de órgãos públicos pela imprensa catarinense. Mas há sinais nas próprias reportagens que lemos de que eles são fontes pouco recorrentes dos jornalistas que atuam nos veículos de comunicação do estado. A dificuldade de enxergar e compreender o que é mostrado nessas “caixas de vidro” – muitas vezes bastante embaçadas -, é um fator que desestimula o uso dos portais de transparência como fontes jornalísticas. Há outros complicadores. Poucos repórteres têm habilidade para trabalhar com dados e números e, em geral, contam com tempo escasso para se dedicar às pesquisas.

Pesquisa realizada

Mas há exceções. No final do ano passado, eu e a jornalista Rosane Felthaus conversamos com cinco jornalistas que pesquisam semanalmente o Portal de Transparência do Poder Executivo de Santa Catarina: Jefferson Saavedra, (AN), Upiara Boschi (DC), Hyury Potter (DC), Fábio Bispo (ND) e Lúcio Lambranho (na época, ND, hoje Farol Reportagem). O resultado está em nosso trabalho de conclusão do MBA em Comunicação Pública e Empresarial pela Universidade de Tuiuti (PR). Os entrevistados disseram que as pesquisas dão mais credibilidade às informações, mas relataram limitações como linguagem técnica e navegação complexa em um mar profundo de dados.
A conclusão da pesquisa é de que a ferramenta é útil, mas subaproveitada como fonte jornalística. Reportagens a partir de dados do portal costumam ter espaço nobre nos jornais, segundo os próprios entrevistados, mas ainda são raras. O que é uma pena do ponto de vista de comunicação, já que a imprensa pode ser um grande intermediário entre o poder público e o cidadão. Como afirma o professor e pesquisador Jorge Duarte, jornalista e doutor em Comunicação, hoje não faltam instrumentos e informação para os cidadãos. O desafio é fazê-los descobrir a ferramenta, acessá-la e utilizá-la para “aumentar o conhecimento e capacidade de agir”.

O novo Portal da Transparência

A Fazenda de Santa Catarina, responsável pelo Portal da Transparência, está reformulando a ferramenta com a proposta de transformar os dados em informação clara e objetiva.
Até hoje (10/10/16), está aberta uma pesquisa de opinião para ajudar a desembaçar e organizar essa grande “caixa de vidro”. Contribuições de jornalistas são bem-vindas. Seja opinando sobre o portal ou focando suas lentes para os dados disponíveis. Afinal, elas são importantes não só para ampliar o que está além do vidro, mas para aperfeiçoar a própria transparência, identificando pontos opacos (onde não há acesso a informações públicas) ou turvos (onde tal informação não está clara). Vamos juntos?
Foto: Cia Gould