Dia 39

Recrutamento e seleção no setor público

O Instituto República convidou o Vetor Brasil e o Legisla Brasil para falar sobre recrutamento e seleção no setor público. Boa leitura!

A seleção de pessoas no setor público é um assunto extenso e que ainda tem
muito para ser discutido no Brasil. Nos últimos anos, pudemos observar algumas inovações nos formatos de recrutamento, que buscam atrair novos perfis e, cada vez mais, alinhar competências prossionais e necessidades institucionais.

Para conhecer melhor a importância do tema e os novos formatos que estão
sendo realizados nas diferentes áreas de governo, o Instituto República entrevistou Marina Cano do Legisla Brasil e Tâmara Andrade do Vetor Brasil, duas organizações parceiras que buscam contribuir na qualidade do serviço público através de novos processos de recrutamento e seleção de pessoas.

1) Qual é a importância de um bom recrutamento e seleção de pessoas?

Marina | Uma das principais ferramentas para compor uma equipe qualificada e representativa é por meio de um amplo processo de recrutamento e seleção.

Estes processos permitem dar maior capilaridade às inscrições, por abranger um universo maior e mais diverso, do que as redes de contatos dos parlamentares (usualmente acionadas) possibilitariam.

O recrutamento e seleção de pessoas em gabinetes gera também maior transparência com o cidadão, que pode, para além de acompanhar com mais segurança a composição de um gabinete, ter a chance de participar ativamente.

Outra consequência da busca ativa feita por processos seletivos é uma maior rotatividade entre os diferentes setores; ou seja, pessoas que normalmente não buscariam uma mudança de carreira para dentro do legislativo, acabam se interessando em atuar no setor público.

Na prática, reduzimos o custo de oportunidade para atuar no legislativo. Para isso, uma boa seleção deve avaliar diferentes conhecimentos de um prossional, nos âmbitos técnicos e socioemocionais.

Tâmara | São medidas essenciais para encontrar profissionais com competências que atendam às necessidades estratégicas de cada organização e que também estejam alinhadas ao momento e planos de carreira de cada profissional.

Quando pensamos especialmente no setor público, o recrutamento e a seleção de pessoas tem um valor importantíssimo, pois são os melhores instrumentos para garantir que os prossionais certos ocupem os cargos corretos para entregar políticas públicas de qualidade para os cidadãos que mais precisam. Além disso, é preciso também considerar que no Brasil os gastos com pessoal representam parcela signicativa das despesas dos governos nos três níveis da Federação.

2) Quais inovações estão acontecendo nesse tema?

Marina | O trabalho que o Legisla Brasil desenvolve de recrutamento e seleção no legislativo tem se tornado uma prática recorrente no executivo também. São diversos os atores envolvidos nesse processo, desde o próprio estado, como está acontecendo no Governo de Minas Gerais; organizações sem fins lucrativos, como o Vetor Brasil; até empresas privadas de recrutamento.

Algo muito interessante desse movimento de seleção qualicada é perceber
que a própria população tem passado a cobrar políticos para que eles aconteçam, com critérios técnicos e transparência.

Para além da composição das equipes de gabinetes qualicadas, temos observado também esforços para que os próprios políticos e políticas se qualifiquem. Organizações como a RAPS e o RenovaBR têm preparado líderes nesse sentido.

Ainda, em um sentido mais amplo, existem organizações que buscam pensar não só a equipe e os políticos, mas o mandato como um todo. Esse processo de desenvolvimento e qualificação de mandatos tem sido desenvolvido hoje, por exemplo, pelo Mandato Ativo.

Tâmara | A principal inovação é uma proximidade maior entre a área de recursos humanos e tecnologia, a exemplo do que já ocorre em agências de gestão de pessoas no setor público de outros países e no setor privado. É um movimento muito similar com o que ocorreu há alguns anos na área de marketing: atualmente não basta aos profissionais dessa área serem criativos, mas também desenvolver competências de raciocínio analítico com foco no uso de dados massivos e indicadores de resultado.

Para o futuro próximo as expectativas para o campo de RH é o uso cada vez mais intensivo de tecnologia para a tomada de decisão. Por exemplo, é cada vez mais provável que as entrevistas de emprego no futuro sejam realizadas com apoio de sistemas de inteligência artificial capazes avaliar comportamentos online, entender expressões corporais, faciais e de voz. Algoritmos também deverão ser usados para tornar as avaliações mais objetivas, diminuindo vieses e subjetividades.

Mais especificamente no setor público, muitos países têm investido na consolidação e expansão de políticas de modernização da gestão de recursos humanos, implementando práticas de seleção e desenvolvimento por competências principalmente em níveis de liderança. Para citar um bom exemplo próximo do Brasil, há 15 anos o Chile tem um programa de atração e desenvolvimento de dirigentes públicos que se tornou referência reconhecida pela OCDE – influenciando países como Paraguai e Peru, que tem utilizado o modelo como referência para reformar seus sistemas de RH público.